Quando a pauta é Cuba: o jornalista assujeitado às suas evidências (original) (raw)

Jornalismo: testemunha lacunar da história

2021

Neste artigo, o afeto é assumido como categoria fundamental para o campo do jornalismo atravessado pelos dogmas da razão e da ciência. A partir daí, aborda-se a dimensão do “testemunho midiático”, examinando a tensão entre a ideia da “testemunha ocular” e os outros modos assumidos no contemporâneo quando testemunhar não é mais apenas ver e ouvir e passa a dizer também sobre como somos interpelados por um “texto testemunhal”. Para investigar o abismo que há entre experiência e discurso, aborda-se a questão da “lacuna” no testemunho sugerindo uma nova matriz orientada pela ideia de Brand (2009) de que o testemunho, que sempre esteve ligado às noções de verdade e ao que pode capturar do acontecimento, ele é antes sobre o que lhe escapa. Uma reportagem sobre uma tragédia particular orienta a discussão. Como o jornalismo testemunha o fato?

A imagem do enunciatário do blog jornalístico “Cartas desde Cuba”

Cadernos de Pós-Graduação em Letras, 2014

À luz dos estudos sobre enunciação, o blog jornalístico apresenta-se como um objeto de pesquisa de grande interesse sob vários ângulos, dentre eles, o simulacro de coparticipação que produz. Essa perspectiva, que de um ponto de vista mais geral podemos entender como focada na coenunciação, é que interessa para o presente trabalho, que tem por escopo determinar a imagem do enunciatário do blog jornalístico “Cartas desde Cuba”. Com base na análise das escolhas enunciativas presentes nos posts do blog mais lido da BBC Mundo entre 2008 e 2014, conclui-se que se trata de um enunciatário que procura vários pontos de vista para construir suas próprias conclusões: ele é conhecedor da história de Cuba; mantém-se informado sobre o que acontece na ilha; é crítico da realidade cubana, ainda que afastado das posturas extremas; e se destaca por seu caráter ético.

Graus de comprometimento do jornalista em manchetes de discurso reportado

Cadernos de Linguística, 2021

A proposta deste artigo é investigar manchetes on-line de jornais brasileiros, em que se verifica a ocorrência de discurso reportado, com base no aparato teórico-metodológico da Linguística Cognitiva. O objetivo é mapear os atos de fala realizados nessas manchetes e as estratégias de compressão de ponto de vista que se refletem na estrutura linguística, propondo uma abordagem do ato de “noticiar”, a partir da articulação entre a Teoria dos Atos de Fala (AUSTIN, 1962; SEARLE, 1969) e a Teoria da Mesclagem Conceptual (FAUCONNIER & TURNER, 2002). A contribuição do trabalho contempla novas discussões a respeito do estudo do discurso reportado e dos atos de fala e sua aplicação em contextos reais de uso, argumentando que as manchetes que envolvem discurso reportado podem constituir a âncora material de um processo de mesclagem conceptual, envolvendo o ato de fala assertivo realizado pelo jornalista, de um lado, e o ato de fala realizado pelo falante reportado na notícia, de outro. Os res...

O Jornal Como Instância De Enunciação Complexa: O Superenunciador

Alfa: Revista de Linguística (São José do Rio Preto), 2020

RESUMO: Esse artigo busca compreender o jornal como uma instância de enunciação complexa (MAINGUENEAU, 2008), a partir da análise dos diversos agentes enunciativos que participam da construção dos enunciados presentes em suas páginas e da construção do gênero jornalístico informativo. Esses agentes apagam as suas marcas enunciativas particulares para poder fazer emergir um enunciador que, apesar da constituição coletiva, se apresenta como singular (o jornal), construindo assim o seu próprio ethos, vindo a ser um superenunciador. Propõe, ainda, a existência de marcas enunciativas que remetem a esse superenunciador, denominadas aqui de marcas superenunciativas. Para tanto, analisou-se essa manifestação no jornal Folha de S.Paulo, como também o seu manual de redação e estilo.

JORNALISMO E ATUALIDADE EM MACHADO DE ASSIS: DAS CRÔNICAS AO QUINCAS BORBA

História Revista, 2020

RESUMO: Se a estranha atualidade das ideias de Machado de Assis não fosse sempre tão surpreendente, poderia parecer simples repetição que este texto insista em discuti-las. Algumas delas, decorrentes das análises a respeito de política e sociedade, trasbordam de suas crônicas, nas quais o cronista capta imagens, hábitos, práticas e os decortica, de modo a expor a sua natureza, os valores que os definem, as deformações que neles se naturalizam, entre outros. Mais do que comentar o cotidiano, no guarda-chuva escasso da legalidade, na associação da figura dos homens à das personagens, no culto das aparências, entre outros, as crônicas revelam uma lucidez que vai criando parâmetros para uma interpretação do Brasil. PALAVRAS CHAVE: Machado de Assis, crônica, Quincas Borba, atualidade. ABSTRACT: There's a surprising capacity of analysis of currency events in Machado de Assis' ideas. If this was not so amazing, it might seem like a simple repetition that this text insists on this topic. Machado's privileged awareness derives from his analyzes about politics and society, that overflow in his journalistic essays. There he captures images, habits, practices and decorticates them in order to expose their nature, the values that define them, the deformations that are naturalized in them, among others. More than commenting on daily life, these journalistic essays reveal that they are creating parameters for an interpretation of Brazil. Uma parte significativa da vida pública brasileira, como têm demonstrado os recentes eventos políticos e sociais, é desenhada com os traços fortes de uma corrupção generalizada, colorida por ligações e acordos obscuros, conchavos e alianças não declaradas, muitas vezes ilegais, entre grupos de comunicação, empresários, banqueiros, homens públicos etc. Não há objetivo outro que não seja o do enriquecimento individual e o da permanência de grupos em um poder quase absoluto, de forma a garantir velhos privilégios pouco partilhados. A República instalou-se, no final do século XIX, sem propor soluções à massa de ex-escravos em situação de abandono político e social. Como consequência, grande parte da população ainda vive em situação de precariedade em relação ao trabalho, pobre ou paupérrima, o que perpetua e, ao mesmo tempo, garante a perpetuação daquele abandono social. Além disso, essa mesma  Professora de Literatura e Cultura Brasileiras na UNESP, São José do Rio Preto. Livre-Docente em Literatura Brasileira pela UNESP. Doutora em Teoria e História Literária pela UNICAMP. Realizou estágios de pós-doutorado em PARIS/VERSAILLES (CHCSC, Université de Versailles à St. Quentin-en-Yvelines); PARIS (Fondation Maison des Sciences de lHomme/Université Paris VII, Denis Diderot); LISBOA: Universidade Nova de Lisboa/Instituto Camões. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e pesquisadora-associada ao Centre dHistoire Culturelle des Sociétés Contemporaines, da Université de Versailles à St. Quentin-en-Yvelines (desde 2013) e ao Centre de recherches sur les pays lusophones, da Université Paris 3-Sorbonne Nouvelle (desde 2015).

Cotidianidade na pauta jornalística

La Trama de la Comunicación

No âmbito das teorias do jornalismo, investiga-se a predileção noticiosa da mídia hegemônica por fatos marcados pelas categorias de desvio e proeminência social para, em ordem de contraponto, situar a pauta informativa no território da cotidianidade. Desde entrecruzamentos teóricos realizados com a sociologia, a filosofia e a história, reflete-se sobre o ritmo dos dias como constructo de sentidos e resistência, íntima e social, dos sujeitos ordinários. A partir de uma análise interpretativa de reportagens do catalão BruRovira, sobre senhoras do bairro Gótico, de Barcelona, publicadas no periódico La Vanguardia, evidencia-se a articulação de dinâmicas narrativas atravessadas pelo protagonismo de personagens anônimos. Como resultado do estudo, propõe-se a matriz do desacontecimento enquanto estratégia de narração orientada à cotidianidade de homens e mulheres ordinários, de modo a inscrever uma processualidade jornalística outra, em termos de critérios e técnicas narrativas, uma vez q...

Jornalismo, democracia e interesse público em Cuba : uma análise do conteúdo jornalístico do site 14yMedio

2017

Conquistar um diploma acadêmico ainda é um privilégio no país da desigualdade: segundo o IBGE, menos de 20% da população brasileira possui ensino superior. Formar-se em uma universidade federal é ainda mais difícil. Eu não teria chego até aqui sem o apoio de muitas pessoas, distribuídas em todos os cantos do nosso vasto território nacional. Na caminhada acadêmica os primeiros na nossa formação são os professores. Na UFRGS pude aprender com grandes mestras como Ana Cláudia Gruszynski, Aline Strelow, Cassilda Golin e Sandra Gonçalves. Cada uma compartilhou da sua forma o conhecimento que tinha, me ensinando a amar mais ainda a história e a fotografia. Um professor que tem paixão pela profissão e vontade de ensinar faz a diferença na vida de um aluno, vocês são o meu exemplo. Outro grande exemplo que tive, esse no último minuto do segundo tempo, foi conhecer o meu orientador Basilio Sartor, que não havia me dado aula, mas de pronto me acolheu e abraçou a ideia deste trabalho. Obrigada pela paciência, pela disposição em ajudar, e a sensibilidade nas orientações. Muitas vezes o que ajuda o aluno está na forma como se diz, e o Basilio teve zelo e consciência do estresse desse processo, difícil para pessoas ansiosas como eu. Obrigada profe, não poderia ter escolhido um orientador melhor. Apesar de todo o conhecimento, esse percurso não teria graça sem os amigos. E eu que tenho exército deles não posso deixar de agradecer por tantas festas, tantas risadas, tantos momentos bons. Primeiro os da comunicação,

Lupa: Jornalismo Experimental em Revista

2008

A Lupa é uma revista impressa laboratorial da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-UFBA) produzida por estudantes da disciplina Temas Especiais em Jornalismo Impresso, o que a caracteriza como um espaço para experimentação e aprendizagem. A realização dessa publicação tem como objetivos divulgar a produção dos alunos do curso de Comunicação da UFBA, estimular a produção de textos, criar um elo entre a teoria e a prática do jornalismo e da produção cultural, através de um produto laboratorial, bem como colocar em circulação um produto editorial não comercial dirigido à juventude universitária. Dentro das características do jornalismo de revista, busca-se uma identificação temática e visual com o público jovem universitário, compreendido como o grupo etário entre 17 e 25 anos.

Quando a pauta é ciência: a percepção de jornalistas brasileiros sobre C

Anagrama, 2019

Os desafios para a cobertura de qualidade de Ciência e Tecnologia (C&T) pela imprensa brasileira são inúmeros e passam por fatores diversos. No entanto, pouco foi explorado academicamente acerca da percepção e da visão de C&T desses profissionais, tidos como formadores de opinião na sociedade, objetivo proposto neste artigo. A pesquisa do tipo survey foi utilizada como suporte metodológico no trabalho, com as finalidades de descrição e exploração, através de questionário online autoaplicado com 26 perguntas, estimuladas e espontâneas, a uma amostra de 61 jornalistas, que representa 0,43% do universo de 14.017 profissionais estudados, ou seja, não se tem uma amostra representativa do grupo. Entretanto, os resultados da análise têm potencial de fornecer indicadores que auxiliem as redações jornalísticas no país e comunidade científica.