Gênero, sexualidade e experimentação de si em plataformas digitais on-line (original) (raw)

Gêneros no contexto digital

Em tempos de mídias eletrônico-digitais, de proliferação de linguagens artificiais e de comunidades virtuais, nada pode parecer mais anacrônico do que recorrer ao conceito de gênero para a análise do processo de transmissão das mensagens e da organização textual na cultura. Se, por um lado, gênero recorda a clássica teoria poética fundada por Aristóteles, por outro vai de encontro às classificações que delimitam o caráter das obras da cultura literária que parecem, cada vez mais, ''coisas do passado''. Tanto os gêneros poéticos, derivados da hierarquia no uso da voz, quanto os gêneros literários, direcionados para a classificação das produções da littera, se ocuparam das formas fixas e imutáveis.

Gêneros (digitais) em foco: por uma discussão sóciohistórica

ALFA: Revista de Linguística, 2010

• O objetivo deste artigo é realizar uma discussão de caráter sócio-histórico que aponte o que, a nosso ver, seriam as três grandes fases na história da constituição dos gêneros discursivos, a saber: suas origens na Retórica aristotélica, ainda como um gênero oral; sua redefi nição a partir da invenção da escrita tipográfi ca no século XV; e sua "transformação" em gêneros digitais com o advento da Internet. Como base teórica, adotamos uma perspectiva sócio-histórica de linguagem, cuja formação se estende desde a retórica aristotélica, perpassa a visão bakhtiniana dos gêneros discursivos e é ressignifi cada em teorias mais recentes que lidam com a questão dos gêneros digitais ). Consideramos que tal discussão de cunho sócio-histórico pode nos permitir construir um referencial teórico ainda pouco explorado no meio acadêmico que traga contribuições que contemplem tanto questões de cunho sócio-ideológico (mais amplas) quanto questões de cunho linguístico-discursivo (mais específi cas) a partir de uma relação dialética entre teoria e prática na constituição de gêneros digitais.

VENCATO, Anna Paula. Gênero e sexualidades em tempos instáveis: mídias digitais, identificações e conflitos. ETD - Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 19, n. 4, p. 808-823, out. 2017. ISSN 1676-2592.

RESUMO Neste texto busco versar sobre o modo como as mídias digitais – com foco nas páginas da internet, blogs e redes sociais-e o cenário político nacional se articulam, embasam e desembocam em polarizações e questionamentos sobre as normas sociais, os preconceitos e as exclusões. Proponho-me a pensar, a partir das redes sociais, na ampliação do debate sobre " liberdade de expressão x discurso de ódio " , para além da emergência de novos sujeitos políticos que reivindicam outras identificações para além das já estabelecidas (em especial quanto às identidades fixas relativas ao gênero e às sexualidades). ABSTRACT I intend to traverse in this text on how digital media-focusing on websites, blogs and social networks-and the national political scene articulate, underpin and end at polarizations and questions about social norms, prejudices and exclusions. I propose to think, from the social networks, the expansion of the debate on "freedom of speech x hate speech" , in addition to the emergence of new political actors who claim other identifications in addition to the already established ones (especially as regards fixed identities related to gender and sexuality). RESUMEN En este artículo voy a discutir cómo los medios digitales-centrándose en páginas web, blogs y redes sociales-y la escena política nacional es articulado, subyace y termina en polarizaciones y preguntas acerca de las normas sociales, los prejuicios y las exclusiones. Propongo pensar, desde las redes sociales, la ampliación del debate sobre la "libertad de expresión X discurso de odio", además de la aparición de nuevos actores políticos que afirman varias otras identificaciones de los ya establecidos (en particular con respecto a identidades fijas relacionadas con el género y la sexualidad).

Gênero e sexualidades em tempos instáveis: mídias digitais, identificações e conflitos

Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, 2018

Neste texto busco versar sobre o modo como as mídias digitais – com foco nas páginas da internet, blogs e redes sociais - e o cenário político nacional se articulam, embasam e desembocam em polarizações e questionamentos sobre as normas sociais, os preconceitos e as exclusões. Proponho-me a pensar, a partir das redes sociais, na ampliação do debate sobre “liberdade de expressão x discurso de ódio”, para além da emergência de novos sujeitos políticos que reivindicam outras identificações para além das já estabelecidas (em especial quanto às identidades fixas relativas ao gênero e às sexualidades).Palavras-chave: Liberdade de expressão. Discurso de ódio. Conflito. Mídias digitais. Gênero. Sexualidades.Link: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/8646384/16866

Suicídio, gênero e sexualidade na era digital

Resumo: Neste artigo, discutimos a questão do suicídio da população LGBTQIA+ por meio de um caso de uma mulher trans que, antes de seu suicídio, publicou carta de despedida no Facebook e comentário dizendo que a transfobia teria sido o principal motivo para o seu ato; e sua repercussão com a criação da hashtag " #MinhaPrimeiraTentativa " na rede social, por onde algumas pessoas relataram suas experiências com tentativas de suicídio. Nosso objetivo, aqui, é ampliar a discussão do suicídio na população LGBTQIA+ por meio de uma abordagem antropológica e contemporânea que considera a internet como importante forma de comunicação da vida, da morte, dos controles, dos sofrimentos e das subjetividades e que, por isso, também é relevante para as discussões atuais sobre o fenômeno do suicídio. Usamos, assim, os conceitos da antropologia digital, que considera que o digital é essencial para compreender o que significa ser humano. Abstract On this paper, we aim to discuss the LGBTQIA+ suicide phenomenon through a case in which a trans woman, before committing suicide, had posted a goodbye letter on her Facebook timeline and had added a comment charging " transphobia " as one major cause for her act; and the case repercussion with the creation of the hashtag " #MyFirstAttempt " , where people were encouraged to narrate their attempted suicide experiences. We intent, here, to amplify the debate surrounding LGBTQIA+ suicide through an anthropological and contemporary approach that places the internet as an important way to communicate life, death, control, suffering and subjectivities; for which it is relevant to an actual discussion of the suicide phenomenon. Thus, we make use of the digital anthropology concepts, for which the digital is essential to understand what it means to be human.

Ciberorgias: Subjetividades e sexualidades homoeróticas na pornoesfera digital

Ciberorgias: Subjetividades e sexualidades homoeróticas na pornoesfera digital, 2024

Esta pesquisa examina o fenômeno das ciberorgias, definidas aqui como práticas sexuais coletivas realizadas em diversos ambientes on-line, fazendo uso de tecnologias digitais de comunicação. Através do método cartográfico, buscamos inventariar algumas dinâmicas observando diferenças e similaridades entre elas. A partir disso, o método genealógico é empregado na tese com o objetivo de identificar continuidades e rupturas dessas práticas em relação às orgias que se desenvolveram em outros contextos históricos, com o intuito de compreender certas peculiaridades da sexualidade contemporânea e das subjetividades que protagonizam esses eventos. Faz-se necessário pontuar que, apesar de ser dada especial atenção às práticas desenvolvidas por homossexuais masculinos cisgêneros, o fenômeno, em alguma medida, atravessa as diversas sexualidades e gêneros. Os participantes das ciberorgias se encontram imersos em uma sociedade que avança pela terceira década do século XXI, conectada por meio de dispositivos digitais e absorta em uma cultura da visibilidade que vem reconfigurando as fronteiras entre os âmbitos privados e públicos. Ao mesmo tempo, a pornografia se torna cada vez mais acessível e disseminada, caracterizando o que alguns autores denominam “sociedade pornificada”. Diante disso, novas condutas sexuais vêm surgindo e se expandindo na vida contemporânea, especialmente as realizadas através das redes informáticas na pornoesfera digital. Nesse território tão plural, complexo e em constante mutação, as práticas de autopornificação são estudadas com especial atenção, já que integram modos de vivenciar a sexualidade intimamente alinhados a estímulos socioculturais e valores neoliberais próprios da contemporaneidade que impregnam as subjetividades. A pesquisa assume que não estamos apenas vivendo em uma sociedade pornificada, mas mais precisamente em uma sociedade pornógrafa, na qual “pessoas comuns” se exibem cada vez mais despudoradamente ao olhar dos outros, evidenciando fortes mudanças em relação aos valores e crenças que foram hegemônicos na era moderna. Assim, observadas como parte de um conjunto de transformações históricas, que são de enorme magnitude e estão afetando todos os âmbitos da vida, as práticas sexuais aqui em foco parecem ressignificar os modos de experimentar o prazer no sexo: nas ciberorgias estudadas nesta tese, o gozo, muitas vezes, se traduz em likes. This thesis examines the phenomenon of cyberorgies, defined here as collective sexual practices conducted in various online environments, utilizing digital communication technologies. Through the cartographic method, we aim to inventory some dynamics by observing differences and similarities among them. Subsequently, the genealogical method is employed in the research to identify continuities and ruptures of these practices in relation to orgies that developed in other historical contexts, with the aim of understanding certain peculiarities of contemporary sexuality and the subjectivities that feature in these events. It is necessary to point out that despite special attention being given to practices developed by cisgender male homosexuals, the phenomenon, to some extent, cuts across various sexualities and genders. Participants in cyberorgies find themselves immersed in a society advancing into the third decade of the 21st century, connected through digital devices and absorbed in a culture of visibility that is reconfiguring boundaries between private and public realms. Concurrently, pornography becomes increasingly accessible and widespread, characterizing what some authors refer to as a “pornified society”. In response to this, new sexual behaviors are emerging and expanding in contemporary life, particularly those conducted through computer networks in the digital pornosphere. In this plural, complex, and constantly evolving territory, self-pornification practices are studied with special attention, as they integrate modes of experiencing sexuality closely aligned with sociocultural stimuli and neoliberal values inherent to contemporary life that permeate subjectivities. The research posits that we are not merely living in a pornified society, but more precisely in a pornographic one, where "ordinary people" exhibit themselves increasingly unabashedly to the gaze of others, indicating significant changes in relation to values and beliefs that were hegemonic in the modern era. Thus, observed as part of a set of historical transformations of enormous magnitude affecting all aspects of life, the sexual practices under scrutiny here appear to redefine ways of experiencing pleasure in sex: in the cyberorgies studied in this thesis, enjoyment often translates into likes.

“Oi, Pessoal Que Tem Útero!”: Tensões Discursivas Sobre Gênero Em Ambiente Digital

2020

No presente artigo, analisamos as trocas argumentativas de usuarios da rede social digital Instagram em postagem publicada pela youtuber Julia Tolezano, do canal Jout Jout Prazer, que apresentava o seguinte slogan para uma campanha de coletor menstrual: “Oi, pessoal que tem utero!”. Nosso objetivo foi apreender os sentidos sobre genero mobilizados durante a discussao na postagem em questao e para isso nos apropriamos da Analise de Conteudo como metodo proficuo para categorizacao das tematicas centrais dos argumentos. A saudacao utilizada pela influenciadora digital, direcionada a pessoas de diferentes identidades de genero que possuem o orgao reprodutor, suscitou intenso debate entre comentadores que, a partir de diferentes perspectivas sobre o que e ser homem e mulher, (re) produziam sentidos e buscavam firmar posicionamento no debate. Percebe-se a polarizacao nos dialogos entre (1) sujeitos que proferem argumentos conservadores e uma visada binaria sobre genero e outro (2) que rei...

Violência política de gênero na era das plataforma digitais

Luana Franca Amorim, 2024

O trabalho objetivou entender os meandros articulação de ataques motivados pela violência política de gênero através das plataformas digitais. Assim como entender os avanços e limites da legislação que se debruça sobre o fenômeno da violência política de gênero no Brasil e para isso traçou compreensão do que foi e é a luta por direitos políticos das mulheres ao longo dos séculos e como se organiza a distribuição de informação junto às plataformas digitais.