Habitar, narrar e construir: a casa moderna nos relatos biográficos de seus moradores (original) (raw)

Habitar o presente, construir o passado: história oral e patrimônio nos conjuntos residenciais modernos em São Paulo

Revista Arq.Urb, 2019

O presente artigo tem por objetivo discutir o patrimônio cultural e o lugar da memória nos conjuntos residenciais construídos pelos Institutos e Aposentadorias e Pensões (IAPs) na cidade de São Paulo nas décadas de 1940 e 1950. A partir do projeto de história oral com seus residentes, discutimos a elaboração do passado e seus sentidos para o presente face aos processos de transformação arquitetônica e urbana na metrópole. Em que medida, sob o olhar dos sujeitos sociais os conjuntos são referências culturais? Como pensar a sua perpetuação às gerações futuras diante das demandas constitucionais de ampliação do que pode ser considerado patrimônio cultural? O olhar dos moradores, a partir de suas vivências cotidianas no passado e no presente, revela profundos atrelamentos (seja na apropriação, seja na crítica) aos programas históricos de habitação no Brasil promovidos pelos IAPs. A partir da história oral, pretendeu-se discutir as trajetórias de vida nos conjuntos e suas relações com a preservação na contemporaneidade.

Casas no Brasil: retratos da história a partir de uma experiência didática

Anais do 3º Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira, 2019

Neste artigo apresentamos uma experiência didática na qual estudantes de arquitetura e urbanismo tiveram de identificar e analisar os espaços de moradia de seus antepassados. O resultado obtido, muito heterogêneo, permite nos aproximarmos da realidade construtiva de boa parte do Brasil entre o final do século XIX e meados dos anos 1950. Nesse arco temporal estão representados contextos rurais e urbanos, construções singelas e eruditas de famílias de diversas origens e ofícios. Os dados levantados pelos estudantes, de construções quase sempre anônimas ou autoconstruídas, foram sistematizados pelos professores e discutidos à luz da história da arquitetura. A estreita relação das casas com contextos econômicos é notável, assim como a relação com as expressões construtivas mais consagradas em determinadas regiões. Nesse conjunto, composto por edifícios em taipa de mão, taipa de pilão, alvenaria de adobe, de pedra, de tijolos e construções em madeira, a arquitetura se evidencia enquanto cultura e distinção social. Alguns casos mais representativos são destacados para retratar a complexa diversidade de cada momento histórico.

A casa é uma máquina de morar (?): analisando a casa modernista

Cadernos de Arquitetura e …, 2009

O artigo busca refletir sobre alguns temas consagrados pela historiografia da arquitetura modernista: a concepção estética de vanguarda, a relação íntima entre forma e função, a tecnologia e sua expressão plástica. Por meio da análise dos textos e das residências produzidos pelo arquiteto mineiro Sylvio de Vasconcellos (1916-1979), discutiremos uma sutil desconstrução desses temas, abrindo caminho para uma interpretação dialógico-relacional sobre a casa, através da qual Vasconcellos confere novo sabor ao receituário modernista.

Benevolência trágica: o conto de uma casa brasileira

Convergência Lusíada

O artigo propõe pensar as criadas, ou empregadas domésticas, representadas na Literatura Brasileira a partir de exemplos extraídos de textos contemporâneos em perspectiva comparada com a pesquisa da coleção Retalhos e o conto O filho da Gabriela, ambos de Afonso Henriques Lima Barreto (1881-1922). Entre as questões em debate, estão a tensão casa e rua, a ambiguidade entre benevolência e domínio, junto à interseccionalidade de raça, gênero e classe na elaboração das personagens femininas. Todos temas presentes no conto, gênero que permite contar a trama intrincada da cultura brasileira enquanto relata a história de uma criada e seu filho.

Transformações no esquema base/pilotis/mirante: narrativas sobre casas contemporâneas brasileiras

2021

The notion of type underwent profound changes in modern architecture. The association of a particular type to the project, as the initial action, is followed by a series of operations that preserve or transform, through deformations and/or overlapping fragments of other types that change the initial typological configuration. The analysis of similar procedures in contemporary architecture is the main purpose of this paper. For that, two contemporary houses COSTA, Ana Elísia da; COTRIM, Marcio; GONSALES, Célia Castro. Transformações no esquema base/pilotis/mirante: narrativas sobre casas contemporâneas brasileiras. Thésis, Rio de Janeiro, v. 2, n. 4, p. 221-245, nov./dez.

A Casa como enunciado: narrações de origem entre os Bunak - Bobonaro, Timor-Leste

In Clara Sarmento. Diálogos Interculturais Os novos Rumos da Viagem. Porto: Vida Económica., 2011

A 20 de Maio de 2002 teve lugar em Dili -Tasi Tolu, a cerimónia de "independência/transição" de poder das Nações Unidas para as autoridades timorenses. As comemorações incluíram a presença de lia nain -os senhores da palavra, oradores rituais -provenientes de todos os distritos de Timor-Leste. A sua actuação no programa da cerimónia seria uma legitimação tradicional da nova nação. A cada grupo foram atribuídos alguns minutos de palco para enunciarem as Palavras na respectiva língua ritual.

Cada Casa é um Caso: Uma etnografia da Casa da Mulher Brasileira de São Luís/MA

Não mexe comigo, que eu não ando só Eu não ando só, que eu não ando só Não mexe não! (Carta de Amor-Maria Bethânia) "Esta nega é inteligente, ela vai ser gente", cresci com a voz da minha mãe e da minha avó ecoando essa frase pela nossa casa em Natal/RN. Essa memória de ainda menina, produziu em mim um efeito perlocucionário, as palavras delas deveriam produzir ações. As duas não precisaram fazer uso de complexas estruturas linguísticas para me forjar e fazer de mim quem eu sou e serei, apenas a "força", o "vamos", o "vai" foram os gatilhos necessários para me mover rumo ao querer Ser Alguém, neste Brasil de desigualdades. Afinal, eu, Maynara, nasci mulher, negra, nordestina, pobre, lésbica e militante em uma sociedade de classes em que viver já é um ato de resistência. Vou de encontro a estatística, não morri antes dos trinta, não estou no subemprego, nem nos hospitais psiquiátricos, não estou desempregada, pelo contrário, reluto cotidianamente em não ser a carne mais barata do mercado, como já diria Elza Soares. Desafio dia a dia este projeto necrobiopolítico (BENTO, 2019), que não mata só quando faz morrer, mas também quando não deixa viver uma vida sem precariedades (BUTLER, 2019). Cresci neste mundo de "fantasia da separação e do extermínio" (MBEMBE, 2017, p.16), e por isso me agarrei aos sonhos da minha avó e da minha mãe, até torná-los minha realidade. Para subalternos como eu, e elas, só́ a partir da educação nos tornamos "alguém". E esse ser "alguém" que elas tanto diziam, hoje sei que é o reconhecimento da nossa vida como importante para o Estado e para sociedade. Pois como diria Paulo Freire "a educação transforma vidas, que transformarão o mundo". E me transformou. E me transforma, todos os dias, por meio de várias pessoas que agradeço a seguir. Inicialmente agradeço a minha voinha Odete, que lá na cozinha, entre um gole de café e uma mordida de pão torrado me ensinou, mesmo sem saber ler e escrever, que uma neta de lavadeira poderia desver o mundo a partir da educação, poderia ser "gente". À minha mainha Marione, que sempre fez dos meus sonhos os seus, e de mim sua esperança de futuro. Obrigada, mainha, pois sei toda criatividade e loucura que você acionou para que realizássemos nossos sonhos. À professora Martina Ahlert, por ter respondido um e-mail desconhecido, de uma retirante potiguar que havia acabado de chegar em São Luís/MA. Agradeço pelos quase cinco anos de caminhada, nem sempre linear, cujas orientações transformaram-se em confissão, terapia e amizade. Obrigada pelas conversas-algumas com cerveja, outras com café (na pandemia), por cada correção, pelas orientações cuidadosas, e claro por me sacudir dos meus delírios e alucinações acadêmicas, quando necessário. Isso fez de mim uma melhor professora e pesquisadora, transformou-me na doutora que sou agora e que serei. À professora Rozeli Porto, por ser esse cais de ondas calmas, durante toda minha trajetória acadêmica. E por "me pegar para criar", quando eu nem sabia o que eu queria ser quando crescer, e fazer de mim uma antropóloga. À professora Berenice Bento, que durante os mais de três anos no núcleo Tirésias, ensinou-me que não existe impossíveis, quando se existe coragem e dedicação, numa sala pequena e cheia de afeto... E até hoje me ensina. À professora Karina Biondi, que desde meu segundo ano de doutorado, surgiu em minha vida como um vendaval, arregalando meus olhos, e me fazendo avoar para outras possibilidades analíticas. Ao Lucas Freire, que conheci na mocidade de Maceió, naqueles distantes congressos presenciais, e hoje no entardecer da minha vida me balanceia com um espetáculo de inquietações e contribuições. A todas às profissionais da Casa da Mulher Brasileiras de São Luís, por aceitar que eu habitasse o serviço, convivesse com elas e as usuárias, e remexesse nos seus documentos e vidas. Obrigada por partilhar comigo seus fazeres e práticas, se não existissem suas histórias não haveria as páginas desta tese. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais vinculado à Universidade Federal do Maranhão, e todes servidores públicos que manejam e resistem para que essa máquina pública não seja reduzida a pó. Em especial agradeço ao Wilame Costa (secretário do PPGCSoc), que sempre me ajudou e respondeu prontamente todas minhas dúvidas em todos esses anos. Aos meus professores e minhas professoras do doutorado que, de forma generosa, trouxeram-me inspiração e fizeram-me enxergar novos caminhos (lúcidos): Maria

História e Ficção Em Uma Casa Para O Sr. Biswas

Raido, 2010

"[...] quem viu a esperança não a esquece. Procura-a debaixo de todos os céus e entre todos os homens". (PAZ, 1984, p. 29) RESUMO: O presente artigo visa a demonstrar como a história, sob a perspectiva social de Peter Burke e Carlo Ginzburg, não só está presente em Uma Casa para o Sr. Biswas (1961), de V. S. Naipaul, como também é condição imprescindível para a sua criação. Ademais, analisaremos o modo pelo qual os movimentos históricos do século XX colaboram para a criação de labirintos identitários, cuja conseqüência é o desassossego dos que se encontram presos dentro deles, eternamente à procura de uma saída.