O REFLEXO DA BRANQUITUDE NO ESPELHO DA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO ANTROPOLÓGICO NO BRASIL (original) (raw)
Related papers
A ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA SOCIAL NO BRASIL 1
O fato de a antropologia ter se consolidado no Brasil como uma das ciências sociais é pleno de conseqüências, se comparamos o caso brasileiro com o desenvolvimento da disciplina em outros contextos, especialmente nos centros reconhecidos de produção intelectual. Mas, mesmo como uma das ciências sociais, a antropologia no Brasil manteve a dimensão de alteridade que é característica fundante da disciplina. Este artigo tem sua motivação nesse fato. Nele são discutidas algumas conseqüências mais gerais que dele decorrem, assim como uma específica: a configuração que a antropologia adquire no Brasil a partir dos anos 60. O fato É no período que compreende as décadas de 60 e 70 que a antropologia no Brasil começa a se ver como uma genuína ciência social – isto é, como um ramo da sociologia dominante dos anos 40 e 50. Penso não ser exagero usar como metáfora o fato de a antropologia ter se desenvolvido como uma " costela " da sociologia então hegemônica. No entanto, para se constituir como antropologia nesse contexto, foi necessário manter e desenvolver um estilo sui generis de ciência social, no qual uma dimensão de alteridade assumisse a dupla função de produzir uma antropologia no Brasil e do Brasil. Inicio portanto com a pergunta: o que há de fundamental nos anos 60 que marca essa orientação? Se optamos por um olhar institucional, é nos anos 60 que se implantam os primeiros programas de pós-graduação em antropologia nas universidades federais. 2 É esse o momento em que se inicia a reprodução social dos antropólogos de maneira sistemática, formando o que hoje, retrospectivamente, se reconhece como gerações e descendências. 3 convite para participar do colóquio " Antropologias Brasileiras na Viragem do Milênio " e a Joaquim Pais de Brito os comentários. 2 Esse é o período em que se fundam os programas no Museu Nacional/UFRJ e na Universidade de Brasília. Logo em seguida, cria-se o programa de Campinas, que se soma, em São Paulo, ao mais antigo doutorado em antropologia no país, o da USP. 3 Na concepção de Antonio Candido, trata-se do início de uma tradição de saber, diferente de manifestações anteriores, que constituem momentos em que não há continuidade de obras e autores, e quando os últimos não estão cientes de integrarem um processo de formação. Naturalmente, o tempo das manifestações não impede surgirem obras de valor; na verdade, os autores desse período são freqüentemente considerados fundadores pelos que os sucedem, quando estão estabelecidas linhas contínuas de estilos, temas, formas ou preocupações (Candido 1959).
ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA
O objetivo da unidade 1 é conceituar a ciência antropológica que tem como premissa o entendimento do homem completo e cuja preocupação é a compreensão da existência humana em sua expressão global, ou seja, biopsicocultural. É destacada a importância do trabalho de campo para o antropólogo da cultura e suas etapas de pesquisa. O estudo da Antropologia cultural propicia ao ser humano o desenvolvimento de uma atitude sempre aberta ao aprendizado com a alteridade e, desse modo, estimula o respeito às diversidades culturais.
A BRANQUITUDE E O ESTUDO DA MÍDIA BRASILEIRA: algumas anotações a partir de Guerreiro Ramos1
XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DE …, 2002
Resumo: O termo "branquitude" destoa da tradição de discussão das relações raciais brasileiras, enquanto seu uso está em crescente uso fora e dentro do Brasil. Este trabalho, que faz parte de um texto maior a ser editado em coletânea sobre o assunto, procura entender a utilidade de se discutir a branquitude e da abordagem que a coloca em destaque, nos estudos da mídia brasileira, e sua utilidade ainda para elaborar uma política cultural anti-racista que vai além da denúncia para encarar a hipervalorização do branco.
REFLEXOES SOBRE A BRANQUITUDE NA DA UNIVERSIDADE
CONGRESSO ACADÊMICO UNIFESP 2022, 2022
Eu cumprimento a todas as pessoas presentes, quero antes de mais nada agradecer a toda organização da edição 2022 do Congresso Acadêmico da Unifesp, na figura de suas técnicas e técnicos, discentes e docentes, intérpretes de libras e intérpretes em geral, em especial a dessa mesa de Abertura e ressaltar, enfatizar a honra e a emoção de ter a professora Dra. Cida Bento nessa conferência, nessa abertura dos trabalhos, mesmo porque além de referência incontornável no que se refere às reflexões sobre o
QUANDO OS SABERES SÃO MUITOS: REFLEXÕES E PROPOSTAS EPISTEMOLÓGICAS ACERCA DO FAZER ANTROPOLÓGICO
RESUMO Nesse ensaio, trago reflexões e propostas epistemológicas acerca do fazer antropológico. Durante seus trabalhos, profissionais da Antropologia deparam-se, desde a formação da disciplina com a alteridade. A maneira de lidar com a diferença não é consensual e, dependendo das escolhas, trazem importantes consequências. Aqui, trato de mostrar a importância que o pensamento de Lévi-Strauss tem para a Antropologia ocidental, na medida em que propõe uma maneira distinta de lidar com os saberes e pensamentos dos grupos estudados por antropólogas e antropólogos. Argumento que esse legado epistemológico do autor segue sendo central nos trabalhos antropológicos contemporâneos e no pensamento pós-estruturalista e mostro como o trabalho de campo configura-se em um método eficaz para que profissionais da Antropologia experimentem "outros mundos" e aprendam com as pessoas sobre esses mundos. Além disso, proponho trabalhar com a abordagem biográfica, como forma de romper com as hierarquias de saberes e valorizar os diversos saberes e construções de mundo. Palavras-chave: Epistemologia; Antropologia; Abordagem biográfica; Saberes nativos. WHEN THERE ARE MANY WAYS OF KNOWLEDGE: EPISTEMOLOGICAL REFLECTIONS AND PROPOSALS ABOUT THE ANTHROPOLOGICAL ACTIVITY ABSTRACT In this essay, I bring epistemological reflections and proposals about anthropological work. During the course of their work, Anthropology professionals are faced, from the formation of the discipline, with alterity. The way to deal with difference is not consensual and, depending on the choices, it brings important consequences. Here, I try to show the importance that Lévi-Strauss' thought has for western Anthropology, as he proposes a different way to deal with knowledge and thoughts of the groups studied by anthropologists. I argue that this epistemological legacy remains central to the contemporary anthropological work and for post-structuralism thought. I show how fieldwork is configured in an effective method for anthropologists to experiment "other worlds" and learn with people about these worlds. Moreover, I propose to work with the biographical approach, as a way to break with the hierarchies of knowledge and to value the diverse knowledge and constructions of the world.
CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO
A Antropologia, principalmente na abordagem dos fenômenos culturais, tem-se mostrado uma ferramenta importante para o trabalho teológico, tanto na formulação conceitual da teologia, quanto na práxis desses conceitos, principalmente quando tratamos da missiologia e a inserção dessa no contexto transcultural. E quando digo contexto transcultural penso tanto na vivência missionária em lugares e culturas distantes e bastante diferentes da nossa, como na missão feita nos púlpitos, praças e ruas no meio urbano, que pode se deparar, também, com uma infinita variedade cultural. Por isso, como um incentivo ao estudo e diálogo da Teologia com a Antropologia, quero com essa resenha despertar o interesse dos meus leitores pela abordagem cultural oferecida pela Antropologia e levar, aos que estudam a Teologia e fazem missão, a enveredarem-se no saboroso e enriquecedor diálogo interdisciplinar. O livro de LARAIA é introdutório e, como todo bom trabalho acadêmico, não apresenta qualquer juízo de valor. O autor é professor titular da Universidade de Brasília e domina como ninguém o tema que se propõem a escrever, tanto que consegue sintetizar em poucas páginas um arcabouço teórico construído no decorrer de séculos por inúmeros pensadores e pesquisadores do campo da Antropologia. A pequena brochura de LARAIA pretende traçar uma apresentação introdutória ao conceito antropológico de cultura num texto didático, claro e simples (p. 07). O tema é tratado no livro em duas partes. A primeira parte apresenta a herança teórica do conceito de cultura até os autores contemporâneos. A segunda parte aborda a influência que a cultura exerce no comportamento social e como produz, mesmo diante da constatação de unidade biológica, a diversidade nas sociedades humanas. A primeira parte é iniciada com a discussão sobre as perspectivas do determinismo biológico como fator preponderante na formação e concepção da diversidade cultural. O autor apresenta razões que levam a conclusão de que essa perspectiva é equivocada, uma vez que, mesmo havendo diferenças determinadas biologicamente, como a de sexo, por exemplo, a antropologia tem comprovado que atividades atribuídas à mulher em uma dada cultura podem ser atribuídas ao homem em outra (p. 19). Portanto, o comportamento de uma pessoa pode ser atribuído ao seu aprendizado, que o autor chama de um processo de endoculturação.
ALGUNS DELINEAMENTOS SOBRE ANTROPOLOGIA E QUESTÃO RACIAL NO BRASIL
XIII RAM, 2019
O presente trabalho científico é fruto de um projeto de pesquisa desenvolvido no ano de 2018 e objetiva-se a partilhar os primeiros resultados da investigação que venho fazendo no mestrado, na qual procuro compreender quais as inter-relações existentes entre a Antropologia e a Questão Racial durante os anos 1970-2000, momento que ocorre a institucionalização (CORRÊA, 1995) e expansão da disciplina no campo acadêmico nacional (MONTERO, 2004). Para tal empreendimento, se faz necessário realizar um mapeamento dos Programas de Pós-graduação em Antropologia existentes nesse período para termos uma noção de onde estavam concentrados e, quais suas linhas e núcleos de pesquisas, a fim de termos um maior conhecimento sobre quais deles discutiam ou não questão racial, de maneira direta ou indireta e quais eram os seus vieses de discussão. A análise foi realizada a partir do que chamo de Critério de Identificação, que são palavras e/ou conceitos-chave que nos ajudam a distinguir a relação ou a não-relação do PPGA com a temática da questão racial. A partir disso podemos traçar algumas reflexões iniciais sobre o modo pelo qual a Antropologia brasileira e as discussões sobre as relações raciais se inter-relacionaram. Palavras-chave: Antropologia. Questão Racial. PPGA. Relações raciais.
NOTAS SOBRE A CONSTRUÇÃO DA ANTROPOLOGIA NO BRASIL
A antropologia brasileira tem diferentes marcos e, também, diversos heróis fundadores. Destaco a fundação da Universidade de São Paulo, em 1934, por ter possibilitado a contratação, entre outros, dos professores Claude Lévi-Strauss, Radcliffe-Brown, Donald Pierson e Emílio Willems, que foram, junto com Herbert Baldus, responsáveis pela inspiração e formação de profi ssionais como Darcy Ribeiro, Egon Schaden, Florestan Fernandes e Roberto Cardoso de Oliveira. Fora deste contexto, lembramos Curt Nimuendajú, o maior de nossos etnógrafos, e Gilberto Freyre e Eduardo Galvão, este último o primeiro brasileiro a obter o PhD em Antropologia. A Antropologia Social como entendemos hoje, cresce e se afi rma como campo de conhecimento, a partir da Reforma Universitária de 1970, com a generalização dos programas de Pós-Graduação. Roberto Cardoso de Oliveira teve, antes deste momento, a iniciativa de implantar no Museu Nacional (RJ), um extenso Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, cuja primeira experiência ocorreu ainda como especialização, em I960. Na Região Sul, o desenvolvimento da Antropologia, a partir dos anos cinqüenta, teve suas especifi cidades. Dois médicos e um padre foram os primeiros catedráticos da disciplina. Abstract: Brazilian anthropology has diverse founding heroes and landmark moments. The founding of the University of São Paulo should be counted as an important moment for having permitted the contracting of, among others, Lévi-Strauss, Radcliffe-Brown, Donald Pierson and Emilio Willems who, together with Herbert Baldus, were responsible for the formation of professionals such as Darcy Ribeiro, Florestem Fernandes, Egon Schaden and Roberto Cardoso de Oliveira. Aside from this context, we should remember Curt Nimuendaju, our greatest ethnographer, Eduardo Galvão * Estas "Notas" foram apresentadas na Mesa A Construção da Antropologia no Cone Sul, integrante da programação da V da ABA-SUL, que se realizou em Tramandaí, RS, entre 12 e 15 de setembro de 1995. Antes de iniciar sua exposição, o Autor solicitou ao plenário um minuto de silêncio em homenagem aos Profs. Thales de Azevedo (Bahia) e Florestan Fernandes (S. Paulo), heróis-fundadores, falecidos no decorrer deste ano.
TRAÇOS DE ANZALDÚA NO PENSAMENTO LÉSBICO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL
2019
Em 2017 e 2018, houve duas formações semanais à distância intituladas "Pensamento Lésbico Contemporâneo". Cada curso propôs estudar 25 autoras lésbicas de diferentes partes do mundo. Nesta apresentação, analisaremos a recepção de Gloria Anzaldúa na práxis acadêmica e ativista lésbica a partir das publicações das alunas no fórum de discussão da autora no ambiente de aprendizagem. Como cada uma através de interpretações individuais e debates coletivos, nos levaram a acreditar que Anzaldúa é considerada um pioneira da "interseccionalidade", uma vez que a consciência mestiça surgiu? Por que Anzaldúa é vista como um campo de possibilidades que, ao propor a mistura de linguagens e formas literárias, rompe com os paradigmas dominantes e forja uma nova maneira de pensar? Estas são as questões que discutiremos. Résumé: En 2017 et 2018, il y a eu deux formations à distance hebdomadaires intitulées "Pensée Lesbienne Contemporaine". Chaque cours proposait d'étudier 25 auteures lesbiennes de différentes régions du monde. Dans cette présentation, nous analyserons la réception de Gloria Anzaldúa dans la praxis académique et militante lesbienne à partir des posts des étudiant.e.s dans le forum de discussion sur l'auteure prévu dans l'environnement d'apprentissage. Comment chacun.e. par le biais d'interprétations individuelles et de débats collectifs a pris position, nous amenant à penser qu'Anzaldúa est considérée comme un pionnière de "l'intersectionnalité", une fois que la conscience métisse est apparue? Pourquoi Anzaldúa est-elle vue comme un champ de possibilités qui, en proposant le mélange de langues et des formes littéraires, rompt avec les paradigmes dominants et forge une nouvelle façon de penser? Telles sont les questions que nous aborderons. Introdução Em ocasião do Colloque International "Gloria Anzaldúa: traduire les frontières" (Paris, Mai 2018), em homenagem ao 30ème anniversaire de la publication de Borderlands et sa traduction imminente en français, apresentamos o resultado de nossa análise de um fórum em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (Moodle) em que cerca de uma centena de cursistas lésbicas estudaram o pensamento da autora. Tratou-se do curso Pensamento Lésbico Contemporâneo, oferecido na modalidade à distância pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) nos anos de 2017 e 2018 para acadêmicas, ativistas e interessadas no tema de todo o território brasileiro. Chaque cours proposait d'étudier 25 auteures lesbiennes de différentes