O País às avessas (original) (raw)
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Atravessando o avesso do mundo
Resumo: O trabalho que se segue tem a finalidade de apresentar um diálogo traçado entre duas diferentes vozes que se cruzam além de oceanos. O Avesso do mundo é um documentário de onze minutos que envolve a escritora angolana Ana Paula Tavares e o interlocutor "seu Beto"; um catador de lixo da cidade de Dom Pedrito (Rio Grande do Sul/Brasil). Este vídeo foi apresentado como parte integrante da defesa de dissertação de mestrado desta autora ocorrida em maio do corrente ano. Criado com o foco no tema "guerra" filtrou-se trechos de uma crônica da angolana, "Carta para Alexandria", do livro A cabeça de Salomé (Lisboa, Editorial Caminho, 2004), pensando em apresentar a voz de quem sofre a guerra e através de seu Beto, pelas escolhas de narrativas guardadas no arquivo pessoal criado nos sete anos de contato com a família, pensou-se em representar a parte ativa de uma guerrilha, ou seja, o guerrilheiro. Tal texto imagético foi construído a partir de fontes bibliográficas tal como Umberto Eco e Roland Barthes, quando questiona-se o caráter de autoria das três representações que ali são encontradas: (pesquisadora, escritora consagrada e um interlocutor anônimo). Também com Ana Mafalda Leite percorre-se os testemunhos orais da história angolana e do corpo, livre das territoriedades que o circulam. Pensando na busca da Captura da voz organizada por Maria Inês de Almeida e Sônia Queiroz, encontra-se com A voz e letra de Laura Padilha, para enfim discutir-se O passado, a memória e o esquecimento com fonte em Paolo Rossi. Resultando enfim na Performance de Paul Zumthor e na sua Poética da Voz defendida também por Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. Notou-se que a performance foi fundamental para que a união destas vozes seja bem entendida e interpretada, pois há a transcrição das falas, palavras apenas, na dissertação, e na estruturação no vídeo com a voz deles guiando as palavras e paisagens, ganha-se um novo texto com novos elementos e riqueza que podem caracterizá-lo como uma linguagem viva e pulsante. PALAVRAS-CHAVE: poéticas da voz-memória-performance-guerra 1 Doutoranda em Literatura Luso-africana da UFRGS.
Da forma em que foi conduzido, o Acordo serve mais para enfraquecer a língua de Camões do que para disseminá-la. Quanto aos ganhos políticos e económicos esperados, foram até agora praticamente nulos. https://observador.pt/opiniao/uma-comunidade-as-avessas/
Resumo: O presente estudo tem por objeto a reflexão sobre a imagem da indústria em ruínas como tema para a representação de uma arqueologia ao avesso, do papel da imaginação sobre a figura de velhas chaminés e galpões. Proponho uma interpretação das imagens como remetentes à ideia de uma pretensa Arcádia projetada no cenário industrial. Ambos os autores utilizados como referencia, embora distando um século um do outro, podem ser considerados exemplos seminais de uma resignificação do espaço industrial ao explorar as imagens que a arquitetura fabril induz naquele que produz a representação uma situação de antiguidade imaginária, dada por um acelerado processo de envelhecimento e com, isto a elaboração de uma retórica das ruínas.
Revista de Sociologia e Política, 2004
A liberdade diz-se de muitos modos: liberdade do querer, do fazer, autonomia, participação política, direito. A liberdade emprega-se também de muitos modos: como simples palavra ou como conceito, como arma política ou elemento doutrinal, como idéia reguladora ou apelo à experiência. E a liberdade, por dizer-se e empregar de muitos modos, deixa-se ainda pensar de muitos modos, em diversos planos discursivos-daquele em que o que está em questão é o seu conceito e a possibilidade de pensá-lo ao do comentário aos grandes temas emergentes, como a globalização e o avanço tecnológico, que parecem de algum modo colocá-la em risco. A coletânea O avesso da liberdade, organizada por Adauto Novaes, reunindo um conjunto de conferências proferidas sobre o tema, dispõe ao leitor toda essa diversidade, ao mesmo tempo em que oferece um certo recorte do panorama intelectual brasileiro. Há, assim, um primeiro grupo de artigos dedicados à questão que poderíamos chamar de "transcendental": a liberdade é pensável? Quais os impasses, as dificuldades conceituais, os paradoxos que é preciso vencer ou enfrentar para que faça sentido o emprego dessa noção? Tudo depende do quadro conceitual em que nos movemos. Como, por exemplo, pensar a liberdade nos quadros de uma doutrina materialista? Como pensar, sem fazer recurso a outra realidade senão a da matéria, sem recorrer ao espírito ou a qualquer outra forma de dualismo, a ação, a voluntariedade e a liberdade que lhe são próprias, se a matéria é o elemento de uma ordem natural, cujas determinações ela sofre desde o exterior? Em um dos artigos que integram a coletânea, Francis Wolf mostra como o materialismo de Epicuro situa-se aquém desse dilema, ao mesmo tempo em que dele toma consciência pela primeira vez. Em contraste, o artigo de Moacyr Novaes, debruçando-se sobre a obra de Santo Agostinho, em especial o De Libero Arbitrio, ilumina um conceito alternativo de liberdade, formulado para dar conta de outros problemas, como o da origem do mal no interior da doutrina cristã. A liberdade agostiniana pensada como uma qualidade espiritual, atributo da alma racional, de uma vontade capaz de aderir por si mesma à ordem das coisas, como também de recusá-la, sem deixar-se determinar por ela-tal liberdade pouco tem a ver com a de Epicuro, da mesma forma como os impasses que enfrenta são também outros. Como se pode exercer a liberdade assim pensada, diante das mais diversas determinações de ordem histórica, cultural e afetiva, que sofremos e que nos constituem enquanto homens? Eis um problema com que esteve concernido Pascal, um dos grandes herdeiros de Agostinho no início da Idade Moderna, não para resolvê-lo, como indica o artigo de Franklin Leopoldo e Silva, mas para fazer da liberdade um paradoxo e dele extrair uma visão trágica da existência humana. Entre os contemporâneos de Pascal não faltaram críticos à noção de livre-arbítrio, de matriz agostiniana. Renato Janine Ribeiro lembra-nos em seu artigo como Hobbes empenhou-se em mostrar, pela via da lógica e da ciência, os impasses dessa noção, declarando-na impensável e procurando esvaziar a partir daí o seu sentido político. Em Hobbes, de modo muito claro, a questão transcendental (o livre-arbítrio é pensável?) entrecruzase com a questão política (faz sentido o anseio por liberdade, entendida como participação nas decisões da res publica?)-o que nos lembra de que não são jamais neutras as posições diante dos impasses transcendentais da liberdade. É nesse contexto que se situou o esforço teórico de Espinosa para trazer à luz, como apresenta Paulo Vieira Neto, um conceito não agostiniano de liberdade, compatível com nossa inscrição no mundo e com as determinações que dele sofremos. Espinosa tinha tão claro quanto Hobbes as conseqüências políticas subjacentes aos problemas conceituais da liberdade. A questão de saber como conciliar a liberdade do homem com as suas determinações mundanas é ainda um problema para nós, como ilustra o ensaio de Gerd Bonheim, em que a antinomia entre a vivência da liberdade e a experiência dos condicionamentos de nossa conduta é apresentada como um "grande desafio" a ser vencido. É também o que mostra Renauld Barbaras, ao comentar o modo como Merleau-Ponty enfrentou esse mesmo problema e o impasse a que nos conduz. Ainda que possamos elaborar convincentemente, como faz Merleau-Ponty, o conceito de uma liberdade inscrita no mundo e nele situada, como conciliar essa "concepção existen
Jacques Lacan resgata o conceito de identificação desenvolvido por Sigmund Freud, reelaborando-o exaustivamente ao longo de seu ensino a partir de referências aos campos da lógica e da matemática, de modo que a opção metodológica pelo recurso à topologia, como via eleita para perscrutar a estrutura do sujeito do inconsciente, delimita o campo de investigação próprio à psicanálise lacaniana. A presente pesquisa visa, em um primeiro momento, compreender o conceito de identificação desenvolvido por Lacan e seu substrato topológico, analisando seus desdobramentos ao longo de seu percurso teórico, para então, partindo de desenvolvimentos topológicos ulteriores no campo psicanalítico, apresentar novas hipóteses acerca da identificação através do exame das propriedades topológicas do mergulho do nó borromeano em um toro triplo imerso no espaço tridimensional. Para tanto, são abordadas as problemáticas acerca da formalização, da estrutura, da ética, do tempo, do corpo e do gozo em psicanálise, evidenciando suas articulações. Os resultados obtidos indicam que o mergulho do nó borromeano constitui uma estrutura topológica capaz de vincular certas problemáticas cruciais para a psicanálise lacaniana, acerca da identificação e das relações entre as dimensões do Real, Simbólico e Imaginário, bem como de suas propriedades operantes, referidas à ex-sistência, furo e consistência, respectivamente. Em última instância, trata-se de uma abordagem do problema da identificação como operação lógico-temporal constituinte de uma estrutura refratária à sua apreensão estática.
Navegacoes, 2009
Que o brasileiro é tema bastante explorado na literatura portuguesa e que o seu ridículo, também fora da arte literária, alimentou fartamente a caricatura que dele se fez, já o demonstraram investigadores portugueses, centrando-se sobretudo no romance romântico de gosto popular de Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco, e já o demonstrou Guilhermino César, em seu O brasileiro na ficção portuguesa-o direito e o avesso de uma personagem-tipo, quando vislumbra como panorama genérico (1969, p. 13): O que ficou para trás-o português da era colonial (...)-não contou para a ficção, que começa a refletir as misérias e grandezas da emigração para o Brasil, nos seus aspectos sentimentais, com os escritores românticos. (...) No século XIX, ao nela ingressar, o "brasileiro" aparece na prosa de ficção ora como comerciante citadino, ora como fazendeiro, proprietário de terras, ou traficante de escravos. Não há como sair disto. Na primeira metade do século XX, porém, desaparece o ruralista para dar lugar ao comerciante por atacado, ao capitalista dos grandes centros. Sem falarmos num tipo que pertence a todas as épocas, o pequeno comerciante; porque no boteco, no armazém, na casa de pasto, o português transplantado sentiu-se sempre como peixe dentro d'água. A ficção portuguesa não chegou a preocupar-se com estas variações profissionais. Tem-se contentado, quase sem exceção, em retratar depreciativamente o "tipo" convencional do emigrante pobre que volta rico.
2021
Prefácio do livro "Ciberativismo: a politica em tempos de internet" (AnnaBlume, 2021) de Silvia Ramos Bezerra