Psicanálise e racismo: qual é a cor do outro (original) (raw)
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Psicanálise e racismo: entre os tempos de ver, compreender e concluir
2020
Propomos neste artigo uma articulacao entre psicanalise e racismo a partir dos tres tempos logicos de Lacan. Partimos de um instante de ver, constatando que do racismo nada quisemos saber, seguido de um tempo para compreender os motivos do distanciamento dos psicanalistas brasileiros das questoes raciais. O tema do racismo permanece recalcado e denegado pelo povo brasileiro, de modo que tambem os analistas nao escaparam desse sintoma social. Diante disso, chegamos ao momento final, concluindo que se tornou urgente discutir sobre o sofrimento psiquico produzido pelo racismo. O racismo pode ser entendido como um odio ao gozo do Outro. A partir dele, discursos sao estruturados e operam de modo a aprisionar as pessoas negras a lugares simbolicos de subalternizacao. Tais discursos tem o corpo como suporte e produzem impacto na constituicao subjetiva do negro, podendo acarretar sentimentos de autodesvalorizacao e inadequacao.
RACISMO À BRASILEIRA: Os Abjetos do Desmundo na Psicanálise
Revista Saberes da Amazônia , 2023
Este texto aborda a interseção entre a psicanálise e os racismos, utilizando reflexões, debates, levantamento bibliográfico e análise política brasileira como embasamento. Destaca-se a importância de contextualizar a psicanálise, considerar os estudos interseccionais e refletir sobre diferentes formas de racismos, incluindo o racismo brasileiro baseado na cor da pele. Discute-se a influência da segregação nas normas culturais e a necessidade de reconhecer a diversidade racial, discutir negritude e branquitude, além de acolher a subjetividade, abrangendo desde a formação da identidade até a construção dos racismos pelo discurso científico. Aborda a dimensão histórico-social do abjeto, destacando a estigmatização dos corpos negros como abjetos na estrutura social brasileira. A raça é discutida como uma estrutura imaginária ligada aos processos fundamentais do inconsciente. Ao destacar a relação entre raça, racismo e poder, enfatizamos como o racismo é percebido como uma forma de distúrbio psíquico. Ressaltamos a importância de combater as forças de discriminação em todas as frentes, reconhecendo que os racismos afetam não apenas os indivíduos negros, mas também a sociedade como um todo.
Problema do racismo: um desafio para a psicanálise
Revista de Psicanálise Stylus
A proposta deste ensaio é pensar o racismo por meio das formulações teóricas de Freud e Lacan. Segundo a obra freudiana, o racismo pode ser entendido a partir do narcisismo das pequenas diferenças. Todavia, Freud acrescenta a essa questão a agressividade e o ódio inerente à dimensão humana, fruto da pulsão de morte. Com Lacan, o racismo pode ser lido como um ódio ao Outro em sua forma distinta de gozar, estando em funcionamento algo do mais-de-gozar do racista. Com isso, conclui-se que, apesar de ser possível encontrar alguns conceitos nas teorias freudiana e lacaniana que contribuam para pensar o racismo, esse tema ainda é um desafio para os psicanalistas brasileiros, visto que nosso campo ainda não formulou um estudo crítico compatível com a complexidade e a gravidade desse sintoma social
O Papel da Psicanálise na Desconstrução do Racismo à Brasileira
2020
Retomando aspectos historicos da escravizacao colonial e imperial referentes ao trafico negreiro transatlântico e a sua instalacao e manutencao em terras brasileiras, realizamos uma analise psicanaliticamente orientada acerca dos efeitos dessa experiencia historica, tanto em termos societarios e discursivos, quanto em termos subjetivos e inconscientes. Nosso objetivo e situar a especificidade da logica do racismo no Brasil, descortinando os mecanismos inconscientes de sua manutencao e os efeitos subjetivos de sua vivencia. Destacamos o modo como o racismo a brasileira se estruturou enquanto racismo de marca, com um uso social definido pela associacao com a classe e regido pelo ideal de branquitude. Analisamos as figuras da negacao que engendram a ambivalencia e o velamento da posicao racista do brasileiro, buscando elucidar alguns caminhos para sua desconstrucao e superacao a partir da psicanalise.
Psicologia, Racismo e Anti-racismo: primeira parte
Quaderns de Psicologia, 2022
Apresentamos os artigos publicados no dossiê temático sobre Psicologia, Racismo e Antirracismo cujo objetivo foi reunir reflexões acerca das distintas dinâmicas do racismo e das lutas, práticas e políticas antirracistas que vem sendo desenvolvidas. Os artigos propõem análises a partir de perspectivas psicológicas e de outras áreas do conhecimento e abordam questões relacionadas a contextos sociais, políticos e culturais marcados por histórias coloniais; problematizações sobre racismo e sua relação com a saúde mental; o papel reprodutor e também transformador das instituições, das políticas públicas e dos movimentos sociais. As experiências de sujeitos e grupos sociais como crianças, mulheres negras e indígenas, estudantes universitários foram abordadas por meio de metodologias que envolvem desde análise documental até perspectivas participativas. As produções contribuem para interpelar a Psicologia que ao longo da história contribuiu para a reprodução do racismo, articulado com outr...
Sofrimentos psicológicos oriundos do racismo: Reflexões dentro da Psicologia
Sofrimentos psicológicos oriundos do racismo: Reflexões dentro da Psicologia, 2022
A suposta inferioridade do negro disseminada por interesses políticos e econômicos de uma supremacia branca antes existente, mas amplificada pelas pseudociências europeias do século XIX culminou na construção de uma imagem deturpada e desumanizada dos negros, sendo esta ainda presente em nosso cotidiano. É fato que as ciências psicológicas também contribuíram para a colonização mental dos países colonizados, servindo de respaldo para processos de dominação dos povos africanos e latino-americanos, afirmando sua inferioridade. Farias & Camargo (2020) abrem um importante questionamento: pode a Psicologia brasileira estar atenta às demandas da população negra? Pensando em compromisso social e com o nosso código de ética, a primeira resposta soa como um sim, entretanto o cenário é outro quando notamos que nossa base conceitual e sociedade reforçam que sujeitos sejam vistos a partir de uma ótica branca, masculina e de origem europeia ou americana sendo possível notar que a Psicologia tradicional permanece em débito com a população não branca, tornando-se necessário refletirmos acerca do epistemicídio acadêmico como uma das formas de genocídio dos corpos negros.
O lugar e a fala: a psicanálise contra o racismo em Lélia Gonzalez
Sig Revista de Psicanálise, 2020
O presente artigo pretende reconstituir o percurso conceitual da noção de "lugar de fala" no contexto brasileiro. Inicialmente apresentaremos os usos contemporâneos da noção e suas bases teóricas correlatas buscando demons-trar sua proposta de convergência entre fala, lugar e identidade. Em seguida dis-cutiremos como a especificidade da escolha das ideias de "fala" e "lugar" pode ser retraçada até a apropriação da psicanálise feita por Lélia Gonzalez e quais consequências epistemológicas podem ser daí inferidas. Por fim, construiremos um contraste entre a noção contemporânea de lugar de fala e a aposta de um falar que preside e desafia a identidade em Gonzalez. Palavras-chave: Lugar de Fala. Racismo. Psicanálise. Lélia Gonzalez. Feminismo Negro. Abstract: This paper reenacts Place of Speech's theoretical trail in the Brazilian context. At first, we present the current uses of the notion and its theoretical fundaments aiming to demonstrate the convergence between speech, place and identity. Then we'll discuss how the choice of the terms "place" and "speech" can be tracked down from Lélia Gonzalez's Psychoanalysis appropriation and what kind of epistemological consequences can beinferred from there. Lastly, we would like to build a contrast between Place of Speech current notion and Gonzalez's bid of a speech that rules and challenges the identity.
A fita branca. Psicanálise e fascismo
Tempo Psicanalítico, 2018
Resumo O artigo discute a relação entre perversão e fascismo a partir de uma leitura psicanalítica do filme A fita branca (2009), do cineasta austríaco Michael Haneke. Não se trata de um filme sobre a gênese do nazifascismo na Alemanha, mas de um filme que pergunta: como fazer para que haja o fascismo em qualquer lugar, em qualquer situação? A partir dessa pergunta, o artigo procura pensar o fascismo incrustado em nossa vida cotidiana, assim como o fascismo que ronda o exercício da psicanálise e de suas correntes teóricas. Palavras-chave: fascismo; perversão; resto; Michael Haneke.