"Dotar para disciplinar, casar para subsistir. Misericórdia de Coimbra, séculos XVI-XIX" in Maria Marta Lobo de Araújo & Alexandra Esteves (coord.), Tomar estado. Dotes e casamentos (séculos XVI-XIX), Braga, CITCEM, 2010, pp. 275-295 (original) (raw)
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História da Misericórdia de Coimbra, Vol. I: 1500-1834, 2024
Neste capítulo é efetuada a análise da gestão financeira e patrimonial da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra desde a sua fundação, em 1500, até ao final da época a que a historiografia portuguesa convencionou designar por Moderna e que termina com o triunfo definitivo do Constitucionalismo, em 1834.
Lusitania Sacra, 2022
Longos e penosos meses de noivado. Um processo de esponsais na Coimbra do século XVIII
Entre e 1728 decorre um longo e complicado processo de esponsais que vai opor o senhor da Quinta das Lágrimas, Pedro Correia de Lacerda, fidalgo da casa de Sua Majestade e secretário proprietário da Universidade, a Manuel Mendes de Sousa Trovão, cidadão e ex-vereador da Câmara de Coimbra. O primeiro intervém em nome de seu filho morgado, João Correia da Silva Figueiredo Castelo Branco, de 16 anos, o segundo em nome da neta de sua mulher, D. Luísa Clara de Sousa e Magalhães, de 10 anos, que haviam feito promessas de casamento. O fidalgo lança mão de várias estratégias para impedir esse matrimónio considerado desigual. Durante meses, enquanto o rapaz permanece no Aljube para segurança do cumprimento das promessas que são dadas por provadas, esgrimem-se os argumentos dos advogados contratados os quais refletem também a tensão que na época existia em matéria matrimonial entre a Coroa e a Igreja. Palavras chave: Casamento; Nobreza; Igreja; Coimbra; Século XVIII.
Tendo vindo a dedicar-me ao estudo da pobreza em Coimbra e das medidas que a cidade adoptou para enfrentar esse problema, desemboquei, naturalmente, na Misericórdia que, a par dos hospitais, era a grande instituição de assistência/ controlo social da urbe nos séculos XVIII e XIX. Depois disso, um projecto de investigação que integro levou-me ao estudo das misericórdias em geral entre 1750 e a actualidade. Despertei, pois, para outra vertente, os dirigentes e as suas motivações, percebendo que as misericórdias, instituições onde se cruzam os poderosos e os famintos, podem ser óptimos laboratórios de análise dos dois extremos da pirâmide social.
Estudos Regionais: Revista Cultural do Alto Minho, 2019
As Misericórdias de Portugal, durante a Idade Moderna, dedicaram grande atenção à assistência aos pobres. As elites de Braga, pela ação da Misericórdia local, procuravam a salvação da sua alma pela prática de obras de caridade, inspirados pela ideia de "Imitatio Christi". Pobres e ricos equilibravam as suas necessidades através da prática das 14 Obras de Misericórdia. A terceira delas – vestir os nus – não foi exceção. Mantas, mantéus, gibões ou casacas em burel e saragoça encaixam os pobres assistidos pela Santa Casa de Braga na Cultura das Aparências. Estatuto e caridade interligam-se numa visão social sobre o pobre enquanto entidade historicamente localizada. Analisando os Livros de Despesa do Mordomo e do Tesoureiro da Santa Casa, propomos problematizar as formas e tipologias de indumentária que “vestiram” a caridade urbana bracarense praticada pela Misericórdia entre 1650 e 1750. The Holy Houses of Mercy of Portugal, through the Modern Age, paid great attention to assisting the poor. The elites of Braga, by the action of Holy House of Mercy of Braga, sought the salvation of their soul through charitable action, inspired by the idea of Imitatio Christi. Poor and rich balanced their needs through the practise of the 14 Works of Mercy. The third – clothing the naked – was no exception. Blankets, jerkins or coats made in wool textiles fit the poor assisted by Holy House of Mercy of Braga on the Culture of Appearances. Status and charity connect in a social vision about the poor as an historically localized entity. Through the analysis of the Expenditure Books of the Butler and Treasurer of Holy House of Mercy of Braga, we propose the problematization of the shapes and typologies of clothing which “clothed” the urban charity of Braga between 1650 and 1750.
Master Thesis , 2019
Download do ficheiro completo no RepositóriUM - http://hdl.handle.net/1822/63802 As santas casas da misericórdia, enquanto confrarias laicas de imediata proteção régia, desempenharam importantes funções de natureza assistencial na sociedade da Idade Moderna. Por força do seu compromisso e por inspiração no exemplo de Jesus Cristo, as santas casas praticavam as obras de misericórdia. A terceira obra corporal – “vestir os nus” – implicava que aquelas instituições transferissem para os pobres, a título de esmola, elementos de indumentária, nomeadamente tecidos, peças manufaturadas ou dinheiro. Indumentária é o conceito que prescreve o conjunto de objetos que vestem e adornam o corpo, a partir da sua estrutura biológica, no sentido de construir uma aparência, cujos significados são compreendidos socialmente. Esse conjunto de signos impõe considerações de poder e hierarquia, mas também apreciações sobre o género, a moralidade, noção de inclusão e/ou exclusão de grupo. Os elementos de indumentária são, por isso, recursos de distinção. A presente dissertação problematiza o conjunto de transferências entre os ricos (irmãos das Santas Casas) e os pobres (recebedores de esmola ou salário em indumentária) a partir do conjunto de despesas e decisões políticas institucionais na misericórdia de Braga. A partir de metodologias qualitativas, analisamos um conjunto alargado de fontes contabilísticas (livros de despesa) e acórdãos de mesa, no sentido de compreendermos as práticas consignantes a elementos de indumentária, que se estabelecem entre o decisor da esmola e o seu recebedor. Empreendemos a análise sobre a dimensão objetiva dessas transferências, problematizando e categorizando as tipologias de indumentária, os têxteis e o conjunto dos aspetos económicos, políticos, culturais e simbólicos na sua órbita. Pretendemos contribuir para a discussão em redor das relações entre a pobreza, os pobres, as institucionais que gerem e praticam assistência, no intuito de promover uma aproximação à dimensão material e social da aparência do pobre durante a Idade Moderna. Santas Casas da Misericórdia, as secular brotherhoods under immediate royal protection, carried out important functions of welfare nature on the Early Modern society. Through their commitment and through inspiration on the example set by Jesus Christ, Misericórdias practised works of mercy. The third work of corporal mercy – “to clothe the naked” – implied that those institutions transferred to the poor, as alms, elements of clothing, meaning: fabrics, manufactured garments or money. Clothing is the concept that prescribes the set of objects which clothe and adorn the body, from its biological structure, to construct a look, whose senses are socially understood. That collection of signs imposes considerations of power and hierarchy, but also appreciations about the gender, the virtue, the sense of belonging and/or of exclusion from a group. The elements of clothing are, for this reason, resources of distinction. This dissertation problematizes the set of transferences between the rich (brothers of Santas Casas) and the poor (receivers of alms or salary in clothing) from the range of expenses and institutional political decisions. From qualitative methodologies, we analyse a wide range of expenditure sources (expense books) and minutes of meetings, to understand the practises related to elements of clothing, established between the decider of the alms and its receiver. We undertake analysis on the objective dimension of those transferences, problematizing and categorizing the typologies of clothing, the textiles and the set of economic, political, cultural and symbolic aspects on its orbit. We want to contribute to the discussion about the relations between poverty, the poor, the institutions which manage and practise assistance, to promote an approximation to the material and social dimension of the figure of the poor during the Early Modern Age.
A importância dos espólios documentais dos arquivos das misericórdias para o estudo das práticas de caridade, beneficência e controlo social e para a compreensão do universo dos pobres é evidente e já não carece de demonstração. Mas esses fundos podem servir também como óptimos laboratórios de análise das elites, visto que os cargos de provedor e de escrivão das misericórdias eram estatutariamente entregues aos socialmente mais categorizadas de cada localidade. E a prática não fugia à norma, pois as vantagens decorrentes do controlo dessas instituições eram demasiados apetecíveis para que as elites se desinteressassem.O que me proponho, neste momento, é sublinhar a operacionalidade da metodologia com os resultados que obtive ao identificar os provedores e escrivães da Misericórdia de Coimbra dos séculos XVIII e XIX.