Dois autores, duas culturas : um mesmo olhar sobre o sagrado (original) (raw)

Falar simultaneamente e de forma cotejada de dois autores como Leslie Marmon Silko e James Redfield poderá parecer-nos irrealista se apenas considerarmos as origens sócioculturais dos dois romancistas. É que, enquanto Leslie Silko é de ascendência pluriétnica (em suas veias corre sangue índio, mexicano e branco), James Redfield, por outro lado, é oriundo da "mainstream" de uma sociedade etnocentrista como é a sociedade americana. Porém, em termos de opções de ordem espiritual e de normas condicionantes de uma PRAXIS humana, os laços que os unem são indeléveis, como procuraremos averiguar. Efectivamente, as semelhanças entre as obras de Silko e Redfield são notórias, não obstante reflictam mundividências diferentes, ou seja, ambos privilegiam os mesmos vectores temáticos, embora os abordem de forma diversa, de entre os quais se salienta a questão primordial da espiritualidade e do seu princípio básico-"we are One, we are All Related." Para Silko, o mundo contemporâneo caracteriza-se por ser completamente dessacralizado e destituído de todo o valor numinoso, tal como o descreve, de forma cabal, no seu romance Almanac of the Dead 1. O sentimento do sagrado, seja em relação à natureza ou ao quotidiano do ser humano, está ausente da vida moderna. Mesmo nos templos ou igrejas das religiões institucionalizadas, a vivência do sagrado como experiência interior diluiu-se ou terá mesmo desaparecido. Na maioria das vezes, os ritos terse -ão tornado mecanizados e automatizados, e o significado espiritual transcendente ficou obscurecido e alienado da vida do homem. É por isso que a religiosidade do homem branco é apelidada pelo Índio de "sunday religion". Por sua vez, Redfield, tendo sido terapeuta durante alguns anos, apercebeu-se da perfeita alienação em que vivem muitos jovens, atormentados pelo vazio e angústia