Tradução de fragmentos de poetas gregos (original) (raw)
ONELLEY, Glória Braga; PEÇANHA, Shirley Fátima G. de A.
ARQUÍLOCO DE PAROS (séc. VII a. C.) Coração, coração, perturbado por dores irremediáveis, levanta com coragem, defende-te, lançando teu peito contra os inimigos, colocando-te firmemente perto deles em emboscada! Se venceres, não te enalteças publicamente, nem, se vencido, te lamentes, deixando-te abater em casa. Vamos, alegra-te com os prazeres e não te irrites em demasia com as [infelicidades! Reconhece que tal ritmo governa os homens. (Fragm. 128W) Pai Licambas¹, o que disseste? Quem transtornou o teu espírito em que antes te apoiavas? Mas agora, para os cidadãos, te tornas motivo de muita chacota. (Fragm. 172W) Não mais tens tão florescente a pele, pois já está ela enrugada, com pregas e, por causa da maldita velhice, te condena. (Fragm. 188W = Papiro de Colônia 7511², 36-40) ... tendo-te afastado por completo; de igual modo, toma coragem! se tens pressa e o desejo te impele, há em nossa casa ¹ Segundo a lenda, Licambas, nobre de Paros, prometera em casamento ao iambógrafo Arquíloco a filha Neobule. Por razões desconhecidas, Licambas teria negado a mão da filha e, em consequência, ter-se-iam tornado, ele e a família, alvo das invectivas do poeta de Paros. Essas invectivas culminaram no suicídio coletivo da família, referido em duas passagens da Antologia Palatina (VII, 69 e 71). ² O Papiro de Colônia (Alemanha), materialmente datado entre os séculos II e I a. C., foi editado, pela primeira vez, por Merkelback e West (1974, p. 97-113). No papiro, encontram-se dois textos independentes: o primeiro, com 35 linhas, corresponde ao fragmento 196a West, e o segundo, com apenas cinco linhas, ao fragmento 188W. Neste último, tem-se como tônica a desonra de uma mulher por ter ela perdido o vigor da juventude. Não há unanimidade entre os helenistas no que diz respeito à autenticidade do papiro. ³ Constitui o fragmento 196W um epodo de temática erótica no qual há um diálogo entre uma jovem e um homem que a seduz e, ainda, a referência depreciativa a uma terceira figura, Neobule, a filha de Licambas, desprezada pelo sujeito poético/narrador em proveito da jovem, talvez a mais nova irmã de Neobule.