Casas de “tomar conta” e creches públicas: relações de cuidados e interdependência entre periferias e Estado (original) (raw)

A creche comunitária na visão das professoras e famílias usuárias

Revista Brasileira de Educação, 2001

O presente trabalho integra uma pesquisa mais ampla sobre as creches comunitárias na cidade de Fortaleza. Apresentamos aqui a análise das entrevistas realizadas com 25 professoras e 48 famílias usuárias dessas creches, que procuraram captar as suas percepções sobre o trabalho desenvolvido por esse tipo de equipamento. As educadoras trazem opiniões marcadas por preconceitos e falta de informações tanto acerca da creche como das crianças e de suas famílias. Na visão das famílias, de um modo geral, a creche está realizando bem a sua função. Os dois grupos parecem carecer de modelos de atendimentos de qualidade como parâmetros para as suas avaliações. Ressaltamos a persistência da precariedade desses equipamentos e a necessidade urgente de se prover as famílias usuárias e os grupos que defendem os interesses populares de informações acerca da especificidade da qualidade da educação infantil a fim de que possam identificar tais precariedades e buscar estratégias para superá-las.

A política de creches do PAC-2 e o cuidado: análise na perspectiva da indivisibilidade e interdependência de direitos

Creche e feminismo: desafios atuais para uma educação descolonizadora, 2013

"No capítulo 6, A política de creches do PAC-2 e o cuidado: análise na perspectiva da indivisibilidade e interdependência de direitos, Mariana Mazzini Marcondes discute como a corresponsabilização do Estado pela provisão social do cuidado tem nas políticas públicas um elemento central para dar materialidade ao compromisso estatal com a promoção da igualdade de gênero, sendo a política de creches a mais emblemática delas. Trata da questão da divisão sexual do trabalho e analisa como a incorporação da problemática das creches à agenda política prioritária do PAC-2 assume a indivisibilidade e a interdependência dos sujeitos envolvidos na relação de cuidado, ou seja, considera-se as condições de todos os titulares de direitos, de forma integrada e intersetorial. Trata dos desafios para que as práticas sociais tradicionais do cuidado possam ser superadas e novas práticas, mais afinadas com a igualdade de gênero e com o reconhecimento do cuidado como central para a sustentabilidade da vida humana, possam ser forjadas" (Apresentação, Daniela Finco, Márcia Aparecida Gobbi e Ana Lúcia Goulart de Faria, p. 15).

Deficiência, cuidado e dependência: reflexões sobre redes de cuidado em uma família em contexto de pobreza urbana

2017

Cuidado e dependencia sao considerados conceitos bastante contestados, sendo alvo de controversias inclusive dentre os pesquisadores do campo dos Estudos sobre Deficiencia. Os autores do modelo social da deficiencia compreendem a experiencia da desigualdade enquanto imposta por barreiras sociais e nao pelo corpo com lesao. Esses pesquisadores e ativistas tendem a rejeitar o uso dos conceitos de dependencia e cuidado por carregarem conotacoes negativas da pessoa com deficiencia enquanto passiva e incapaz de tomar as suas proprias decisoes. Ja as autoras feministas, conhecidas como a segunda geracao do modelo social, ao agregarem a dimensao do corpo com sofrimento a este debate, trouxeram para o centro da discussao questoes referentes justamente ao cuidado e a dependencia. O presente trabalho propoe refletir, a partir da descricao da trajetoria de uma mae e sua filha com “problemas de cabeca”, sobre as relacoes de cuidado e de dependencia que se conformam na vida cotidiana desses ator...

Cuidados oferecidos pelas creches: percepções de mães e educadoras

Revista De Nutricao-brazilian Journal of Nutrition, 2007

OBJECTIVE: The objectives of this study were to (a) know how mothers of infants (0 to 2 years) perceived the care provided to their children by daycare centers and (b) know how educators perceived their roles in the care provided to infants and their families. METHODS: The quantitative approach to research was used together with the focus group technique. Five focus groups were conducted with mothers and two with educators from public daycare centers of the municipality of São Paulo. RESULTS: Three themes were identified in the material collected from the mothers: family relationship with the daycare center, care provided to the infant by the daycare center and the public policy on daycare. Among educators, the themes were: difficulties in the work routine, relationship with the infant's family, relationship with the coordinators of the daycare facility, professional training and starting a career. CONCLUSION: Since the mothers considered themselves privileged to be able to leave their infants in a free-of-charge daycare facility, they were not very demanding of the quality of care provided to their infants. What they value the most are the aspects associated with feeding, hygiene and administration of medications. Regarding the educators, there are many limitations in their working conditions, especially regarding the shortage of educators. The relationship between the educator and the family is ambiguous: sometimes the educators consider the mothers to be careless and irresponsible and sometimes longing for attention and help. Two issues deserve to be investigated in future researches: the relationship between the daycare centers and the health services and the working conditions of the educators.

Encontro na cidade: práticas de se habitar como vínculos para a produção de cuidado pelas ruas

Ciência & Saúde Coletiva, 2022

Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar a potencialidade de táticas e estratégias de habitar a cidade utilizadas por pessoas em situação de rua, em Brasília (DF), como meios para se pensar produções de cuidado e vínculo junto à Atenção Primária à Saúde (APS). Primeiramente, discutiremos o sentido amplo dessa noção de se habitar como um conjunto de criações e inovações cotidianas que se estabelecem como formas passageiras e circunstais de criação de vínculos, e cuidados e também como instrumentos cotidianos do trabalho da saúde dentro do contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Posteriormente, apresentaremos dois relatos de pessoas em situação de rua na intenção de exemplificar fazeres na cidade partindo de suas casas edificadas nas ruas da cidade. A análise desses encontros abre caminho primeiramente para a contextualização das vidas nas ruas destacando os movimentos que operam no sentido de invisibilidade desse contingente e as precariedades e fragilidades dessas práticas ...

Cuidado domiciliar: em busca da autonomia do indivíduo e da família - na perspectiva da área pública

Ciência & Saúde Coletiva, 2010

Resumo Este texto é um ensaio com o objetivo de refletir sobre a possibilidade da busca da autonomia do indivíduo e da família nos serviços públicos de saúde, através da ação dos profissionais de saúde e, principalmente, da presença da enfermeira no desenvolvimento do cuidado domiciliar. Para realizar o cuidado domiciliar nos sistemas de saúde, principalmente na perspectiva do serviço público, devem ser considerados alguns aspectos referentes à organização e à formação dos profissionais de saúde. O sucesso do cuidado domiciliar está em olhar o indivíduo e sua família em seu contexto, visualizando e considerando seu meio social, suas inserções, seu local de moradia, seus hábitos e relações e qualquer outra coisa ou situação que façam parte de seu existir e estar no mundo. Autonomia, para os indivíduos e familiares terem condições para desenvolverem o cuidado no domicílio numa situação de adoecimento, é a possibilidade de estar capacitado a realizar o cuidado com ajuda do sistema de saúde, com profissionais que ensinem, orientem e acompanhem e principalmente com uma enfermeira que tenha sensibilidade e capacidade técnica-científica para estabelecer metas de cuidado factíveis à realidade de saúde-doença vivenciada.

Como as mães de uma creche domiciliar percebem o trabalho de tomar conta de crianças?

Revista Brasileira de Educação, 2005

O presente artigo tem como objetivo analisar as trajetórias de vida e profissão de um grupo de mães e os sentidos que elas atribuem ao trabalho de tomar conta de crianças em uma creche domiciliar, no município de São Gonçalo (RJ). O referencial teórico abrange estudos da sociologia e antropologia voltados para famílias das camadas populares, gênero, trabalho e educação. As análises evidenciam que os sentidos traduzem uma perspectiva familiarista de educação, que ocorre por meio da delegação da criação dos filhos à tomadora de conta de crianças.

A política de creches do PAC-2 e o cuidado: análise na perspectiva da indivisibilidade e interdependência de direitos 1

Fazendo Gênero – 10: Desafios Atuais do Feminismo, 2013

A política de creches é emblemática para avaliar o comprometimento do Estado com a problemática do cuidado. A Constituição Federal de 1988 previu as creches como condição para garantia do direito à educação de crianças de 0 a 3 anos, mas também como um direito de pais, mães e responsáveis ao trabalho. Em 2007, o Governo Federal instituiu o Programa Proinfância, com o objetivo de promover assistência financeira aos municípios para expansão da rede de educação infantil. Em 2010, essa iniciativa incorporou-se ao Programa de Aceleração do Crescimento - 2, assumindo status de prioridade na agenda política na agenda governamental. Nesse contexto, nosso propósito é apresentar parte dos resultados de pesquisa realizada, na qual, lançando-se mão de técnicas qualitativas de análise documental e do referencial teórico-metodológico da divisão sexual do trabalho, investigou-se a incorporação do cuidado aos pressupostos ideológicos da política de creches do PAC-2. Para isso, abordamos se a política de creches assume a indivisibilidade e a interdependência dos sujeitos envolvidos na relação de cuidado, ou seja, se considera as condições de todos os titulares de direitos envolvidos, de forma integrada e intersetorial, tanto em nível federativo, quanto setorial de repartição de competências e atribuições.