CRIANDO GADO, PLANTANDO ROÇAS: TRAJETÓRIAS FAMILIARES E ESCRAVIDAO ALÉM DAS FRONTEIRAS DE MINAS GERAIS (original) (raw)
Neste trabalho, apresentamos um estudo particularizado das trajetórias familiares de dois mineiros escravistas que migraram do sul de Minas em direção ao nordeste paulista: Francisco Antonio Diniz Junqueira e Francisco Antonio da Costa, respectivamente sogro e genro. Através da identificação dos proprietários e proprietárias dos escravos montamos uma rede de parentesco de membros da família Junqueira e de alguns de seus escravos. Ao acompanhar os proprietários e seus escravos pudemos conhecer um pouco mais da história dos atores sociais que participaram do efetivo povoamento da região nordeste paulista e de seu desenvolvimento, assim como vislumbrar a constituição da hierarquia social local e até mesmo regional no período oitocentista. Em razão da vila Franca do Imperador se caracterizar por uma economia voltada à produção de gêneros e à criação de gado, um estudo cujo objeto seja as famílias escravas poderá contribuir para o entendimento da dinâmica e estrutura de grupos familiares em áreas distintas das plantations. Este trabalho integra um estudo mais amplo que pretende reconstituir e acompanhar no tempo famílias escravas presentes em Franca no século XIX. Palavras-chave: família; escravidão; século XIX. ♣ Doutoranda em Demografia (IFCH/ Unicamp). Criando gado, plantando roças: trajetórias familiares e escravidão em uma vila paulista Maísa Faleiros da Cunha ♣ Introdução Ao analisar os processos criminais que envolveram escravos como réus ou vítimas em Franca-SP no período 1830-1888, Ricardo Alexandre Ferreira atenta para os vestígios da família cativa em delitos de escravos contra escravos 1 e relata, dentre outros processos, os assassinatos de Adriana e sua filha Águida por Damião, então marido de Adriana, escravos de José Esteves de Andrade. Através das informações contidas na fonte citada, Ferreira pôde não somente confirmar a existência da família escrava como constatar os conflitos vivenciados no interior da mesma (apesar dessa não ter sido objeto sobre o qual o historiador tenha se ocupado). Especialmente no caso de Damião e seus familiares, a família cativa em Franca foi uma realidade. Seguidas vezes e em diversas fontes nos deparamos com fragmentos da história de Damião, Adriana, Águida. E o assassinato de Adriana e Águida em 1878 é apenas uma parte da história destes escravos, que aparentemente se iniciou algumas décadas antes com outros proprietários, familiares de José Esteves de Andrade. Neste trabalho, apresentamos um estudo particularizado das trajetórias familiares dos escravos de dois proprietários (Francisco Antonio Diniz Junqueira e Francisco Antonio da Costa, respectivamente avô materno e pai de Francisca Carolina Villela de Andrade esposa de Jose Esteves de Andrade) e suas respectivas esposas [Mariana Constança de Andrade e Maria Zimila (Zumila) de Andrade]