Uma batalha das artes no alvorecer do humanismo (original) (raw)

A guerra da arte (1)

A RETA E1NAE 39 OS 40 * No original em inglês: "One night I was layin' down, / I heard Papa talkin' to Mama. / I heard Papa say, to let that boy boogíewoogie. / 'Cause it f s in him and its sit to canie out." (N. do E.

A ARTE E A LUTA POR DIREITOS HUMANOS NO COMPLEXO DA MARÉ

DIREITOS HUMANOS, DEMOCRACIA E DESENHOS INSTITUCIONAIS EM TEMPOS DE CRISE, 2019

Nosso trabalho questiona a possibilidade de a arte ser uma ferramenta de luta por direitos humanos no Complexo da Maré. Pretendemos apresentar uma perspectiva de teoria crítica dos direitos humanos compreendida a partir dos debates e das oficinas realizadas pelo grupo de pesquisa e extensão no projeto “A arte e a luta por direitos humanos no Complexo da Maré”. A partir da metodologia relacional do Herrera Flores e metodologia de educação popular de Paulo Freire, e utilizando os métodos autobiográfico e grupo focal para analisar as memórias coletivas das oficinas realizadas, o presente trabalho busca, num primeiro momento, fazer a análise teórica do que possibilitou a realização do projeto e, um segundo momento, analisar as memórias coletivas dos participantes do grupo sobre as oficinas realizadas no Museu da Maré contextualizando-as com as teorias críticas dos direitos humanos.

Arte da guerra entre os astecas

A civilização asteca iniciou seu percurso na história como uma pequena tribo, e no decorrer de poucos séculos tornou-se a civilização mais poderosa da América antes da chegada dos europeus. O êxito do projeto expansionista asteca seria obtido pelo caminho das armas. Vários fatores contribuíram para que os astecas obtivessem inúmeras vitórias militares sobre os demais povos mesoamericanos. Sua organização social, privilegiando guerreiros que obtinham desempenho meritório em combate, motivava os soldados para a luta. Este desempenho era quantificado pela quantidade de prisioneiros que pudessem capturar para serem executados em sacrifícios cerimoniais. Paralelamente, o sistema de dominação asteca baseado na imposição de pagamento de tributo fazia com que se evitassem conflitos com alta taxa de destruição e mortalidade, de forma que a região conquistada mantivesse seu potencial produtivo, podendo assim fornecer material e homens para próximas conquistas. Muitas das vitórias astecas foram realizadas com grande contribuição de soldados de regiões previamente conquistadas. Apesar de não terem sido taticamente inovadores, realizaram grandes proezas logísticas ao deslocar grandes contingentes, dispondo suas forças e as de seus aliados de forma a sempre obter a superioridade numérica sobre os adversários. A forma de guerrear dos astecas não foi, entretanto, capaz de conter o conquistador espanhol. Devido ao seu sistema de atribuição de mérito militar e também às peculiaridades de seu sistema de dominação imperial, os guerreiros astecas estavam habituados a um tipo de combate que privilegiava a captura de prisioneiros e que não previa a destruição completa do inimigo. Profundamente ligados a uma forma de batalha incompatível com o conceito de "guerra total", foram derrotados diante das eficientes forças espanholas, que foram auxiliadas, entre outros motivos, pela posse de armamentos e táticas desconhecidas na Mesoamérica.

Aprender a ler o humanismo nos desenhos de Valter Hugo Mãe

Valter Hugo Mãe, As ilhas dos Abaeté - Catálogo de exposição, 2019

Valter Hugo Mãe (Angola, 1971) constitui hoje um dos pilares mais sólidos da cultura portuguesa contemporânea graças, sobretudo, a um perfil bastante singular que tem vindo a traçar enquanto criador. A maioria de nós chegou até si através dos seus livros, primeiro pela poesia e depois pela prosa, apesar desta guardar em si a mesma essência poética que o autor escolheu como maná da sua escrita. Entramos sorrateiramente pelos seus textos adentro e somos logo seduzidos pela plasticidade que o escritor imprime às suas narrativas, deixando-nos entrever em que medida a sua inquietação artística não se pode bastar apenas com a escrita, razão pela qual acode à música ou ao desenho como atividades complementares. No caso do desenho, sabemos que o autor sempre o considerou como um suporte importante para a sua produção literária; a almofada onde assentar a sua imaginação. Felizmente, existe sempre um papel para receber os seus adoráveis monstrinhos e pássaros bordados, ou um livro onde estampar uma silhueta, já que o escritor, sempre que a ocasião lho permite, é capaz de converter o seu autógrafo num abraço infinito com os seus leitores. Só muito recentemente Valter Hugo Mãe se atreveu a compartir os seus desenhos com o público em geral; primeiro através das capas de algumas das reedições dos seus romances e, posteriormente, como ilustrador da última edição de O paraíso são os outros 1 , para júbilo dos que conhecíamos essa sua paixão e como revelação para muitos dos seus leitores que passaram a ler esse livrinho com uma alegria renovada. Uma alegria que se revigora com a exposição desta fascinante mostra de desenhos do autor. Para Valter Hugo Mãe, a arte constitui a melhor garantia de entendimento da vida e por isso ele parece vivê-la sempre com urgência pelo que, tal como já o temos afirmado, identificá-lo como escritor afigura-se-nos sempre como algo simplista, na medida em que esta será apenas a cara mais visível de um criador. Ele mesmo nos confessa que desenhar 1 Valter Hugo Mãe, O paraíso são os outros. Ilustrações de Valter Hugo Mãe. Porto Editora. Porto, 2018

O ser-artístico do homem: o humanismo da arte urbana

O que faz a arte ser arte é o principal tema deste trabalho, que inicia suas considerações a partir da resistência encarada pela arte urbana, desde sua origem, a ser respeitada como arte. Compreendemos a arte urbana não apenas como o graffiti, mas também a arte de rua e outros fazeres artísticos que se relacionam com o espaço urbano de maneira direta e retroativa, construindo um medium para esta arte. Apresentamos seu desenvolvimento histórico, especialmente na cidade de São Paulo, mas já considerando os limites da história da arte para compreender a arte contemporânea. Consideramos que grande parte do debate não se concentra no desenvolvimento da arte urbana, mas em todo o processo histórico de sedimentações de conceitos e imposições sobre o que a arte deve ser para ser assim compreendida. Assim, buscamos o que é o ser-artístico, da arte e do homem. Nossas buscas debruçam-se sobre a Estética, desde seus primórdios até a sua destruição fenomenológica feita por Heidegger, para elucidar a cisão entre o que se diz sobre a arte e o que ela é em sua essência. Em seguida, consideramos que Heidegger localiza na arte condições ontológicas que eram até então pertinentes apenas ao homem e, com isso, buscamos o que há de essencialmente artístico na existência humana – especialmente nos dias contemporâneos, quando o homem vive a partir de ficções que consegue construir em sua abstração social. Considerando a arte como uma ação humana em seu sentido arendtiano – o que nos obriga a uma reconstrução hermenêutica da filosofia de Arendt –, buscamos a relação entre a arte com o ser em coletivo, tornado socialmente abstrato e dividido em identidades artificiais. Assim, analisamos a arte urbana como uma possibilidade de um enraizamento pelo dissenso, pela não obrigatoriedade de consensos sociais arbitrários. O enraizamento pelo dissenso, artístico e humano, que defendemos a partir da arte urbana, nos leva a uma discussão sobre Ética e sensus communis, e quais esperanças podemos tecer neste cenário. Por fim, compreendemos a arte, e, em nosso caso particular, a arte urbana, como uma possibilidade humanismo tal qual defendido por Heidegger: a proximidade do homem com sua essência, com a busca pela verdade do Ser em sua clareira.

A Arte e a Humanidade - Perspectivas

Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. Existem somente artistas." (Gombrich) i A palavra Arte vem do latim Ars, que significa habilidade, talento. Do conceito aristotélico de Arte como imitação da Natureza à visão abrangente de alguns artistas do nosso tempo de que tudo o que nos rodeia é Arte, podemos afirmar com segurança que as suas definições ao longo do tempo foram muitas e variadas. Para Huyghe, por exemplo, a Arte é "uma espécie de respiração da alma", quando o homem, pela obra criada pelas suas mãos, representa ou exprime algo. ii Malraux disse, enigmaticamente, que a Arte era o anti-destino, que se poderá entender como o escape ao mundo real (o destino) através da criação do artista. iii Na procura de uma definição de Arte, Mendieta, no texto A em análise, pergunta-se sobre o papel da Beleza na Arte: é o seu objectivo? O que é a Beleza? Onde se encontra? Para ele, a Arte pretende "a produção de emoções estéticas", sendo a Beleza meramente um meio de as atingir. Por outro lado, para Huyghe, a Beleza não pode ser definida, porque é simplesmente uma pesquisa intensa e obstinada da qualidade iv . Já para os artistas do Quattrocento (os artifices ou "homens de arte"), a Beleza representava "o fim supremo da arte", v assim como para Winckelmann, pai da História da Arte moderna, para quem a finalidade da Arte era a Beleza (beleza de forma, de ideia e de expressão). vi No outro extremo, encontramos Dada, que se afirmava contra a beleza na Arte, recusando-se a gratificar o espectador, assim como Duchamp, apologista de uma arte intelectual. vii É com a frase provocante em epígrafe que Gombrich inicia a sua História da Arte. O conceito de arte, diz-nos, varia consoante a época e o local. E compara a beleza evidente de um retrato que Rubens fez do seu filho pequeno com o retrato que Durer fez da sua mãe, idosa e muito desgastada, sem nenhuma beleza aparente, para concluir que a beleza não reside no tema viii . Mas o que é, afinal, a Arte? Ensaiemos uma definição: A capacidade de expressão criadora do ser humano, que se traduz materialmente na obra de arte, seja de interpretação da realidade percepcionada, seja de exteriorização do que lhe vai na alma. No texto B, Huyghe diz-nos que "a arte é uma função essencial do Homem", apesar de alguns a considerarem inútil e elitista. Se olharmos para o passado, veremos com facilidade como a Arte se encontra intimamente ligada às funções na vida humana. Na Pré-História, os objectos a que hoje chamamos Arte tinham uma função prática bem definida, geralmente de carácter mágico; não interessava a sua beleza, mas se funcionavam para aquilo que tinham sido criados. ix Através da Arte, o homem pré-histórico pretendia projectar-se no universo, fazer parte dele, ao mesmo tempo que o dominava, pela forma submissa e maleável de um objecto. x No Antigo Egipto, a Arte era primariamente orientada para servir os mortos e os deuses, através das suas pirâmides, templos e sarcófagos, tendo um papel marcante na sociedade -era uma Arte para a Eternidade.

O tempo da resistência: arte popular e enfrentamentos

Por todo o território brasileiro encontram-se manifestações conhecidas como folguedos, brincadeiras, cortejos, rodas, são muitas (Boi Bumba, Boi de Mamão, Tambor de Crioula, Jongo, Nego Fugido, Maracatu, inúmeras variações de samba). Elas envolvem enredos e exigem de seus participantes a atuação em narrativas, na contação de dramas que revivem a história através das estórias populares. Elas compõem o conjunto do que foi chamado por Mário de Andrade, em seus estudos sobre o folclore, como "danças dramáticas do Brasil". Este trabalho se inspira naquelas manifestações de motriz africana que acontecem no recôncavo baiano, dentre as quais estão a Capoeira, o Samba de Roda, o Nego Fugido e as Caretas de Acupe, entre outras.

Dois anti-humanismos

À guisa de uma reflexão em torno da atualidade do anti-humanismo teórico como problemática para o pensamento social contemporâneo, contrapomos as formulações do Marxismo Althusseriano com a Teoria dos Sistemas de Niklas Luhmannaquela considerada periférica, esta reconhecida como legítima no campo sociológicoa respeito do modo como ambas, ancoradas nessa posição epistemológica, encaminham suas formulações e propostas teóricas no que se refere à questão sociológica clássica da diferenciação/integração social. Fugindo de uma necessária síntese entre elas, destacamos suas diferenças para, a partir do realce dessa pluralidade, lançar luz sobre as várias possibilidades, ao contrário do que as críticas provenientes da defesa do (inter) subjetivismo fazem crer, que tal posicionamento abre para a teorização e compreensão das sociedades complexas. Por fim, cumpre apontar a impertinência da marginalização do pensamento de Louis Althusser, resgatando-o em seu potencial crítico.

Humanidade e animalidade nas artes marciais chinesas

Campos - Revista de Antropologia, 2022

O que é aprender com os animais nas artes marciais chinesas? Qual o status da relação humanidade/animalidade no cosmos chinês? Para responder a estas questões, divido este ensaio em três partes. Primeiro, especifico o problema de investigação a partir de situações como aprendiz de kung fu Garra de Águia e de notas de minha etnografia em performance do Chen taijiquan. Segundo, abordo o problema da humanidade/animalidade na perspectiva de Tim Ingold para investigar como (e se) opera tal distinção na cosmologia correlativa chinesa, como apresentada por Anne Cheng. Terceiro, para elucidar o caráter da animalidade no aprendizado destas artes marciais chinesas, conecto o debate de Ingold com a questão dos modos de conhecimento e da cosmotécnica na filosofia de Yuk Hui. Em conclusão, argumento que os padrões animais na arte marcial chinesa não são imitativos, mas sim emulativos dos mesmos princípios que operam o cosmos chinês, numa via de integração.