O Memorial Itinerante: Africanidades (original) (raw)

Uma memória das africanidades

RESGATE-Revista Interdisciplinar de Cultura, 2010

Uma memória das africanidades N o embarque forçado para a travessia transatlântica, os negros africanos cap turados pela escravidão marcavam a separação de suas origens por meio de um ritual. Homens deveriam dar nove voltas e mulheres, sete (Barbieri, 1998) em torno de um frondoso, imponente, acolhedor e centenário baobá que ficaria conhecido como a "árvore do esquecimento". Essa atitude, executada entre outros motivos para apagar memórias, parecia não combinar com os valores da cultura africana de reforçar e respeitar raízes, saberes e identidades. Entretanto, seu simbolismo ajudou a conceituar a história das culturas de origem negro-africana no Brasil como, notadamente, marcada pela preservação de uma memória e identidade étnicas que, não raro, sobrevivem nas produções culturais (de) e sobre afro-descendentes. Tradições, hábitos, visões de mundo têm sido evidenciados no registro, difusão e fruição, por exemplo, das imagens fotográficas, compondo um inventário das manifestações de uma cultura viva e capaz de transmitir e interpretar a memória sobre ela. Fotógrafos que dedicam seu trabalho ao que poderíamos chamar de "temática negra" parecem reverter esse movimento ancestral e, nesse retorno, as "imagens fotográficas constituem um dos meios mais criativos e eficazes para a identificação, o reconhecimento e a representação das singularidades nacionais de uma cultura, tanto quanto DENISE CAMARGO

ROTEIROS DE MEMÓRIA E ESQUECIMENTO PELA PEQUENA ÁFRICA NO RIO DE JANEIRO: OS CIRCUITOS DE HERANÇA AFRICANA COMO POLÍTICA DE MEMÓRIA

Fillipe Alexandre Oliveira Alves, 2021

Esta pesquisa antropológica pretende compreender os usos e tensões de práticas do patrimônio cultural e do turismo, para a identidade local e para a memória da diáspora africana na região da Zona Portuária na cidade do Rio de Janeiro no tempo presente. O trabalho de campo realizado nos anos de 2018 a 2020 se direciona ao “Circuito de Herança Africana"" e às narrativas e práticas de determinados guias turísticos sobre a ""Pequena Africa"" no Rio de Janeiro. Particularmente com foco na redescoberta e patrimonializacão do Cais do Valongo, são analisados dois circuitos turísticos: o do Instituto dos Pretos Novos e o de uma empresa privada, busca-se compreender o turismo cultural afro centrado e étnico como meios de valorização da identidade negra e como estratégias de apoio da luta antirracista."

Subjetividades Em Trânsito: Identidade, Diáspora Africana e Cultura Imaterial

Psicologia & Sociedade, 2018

RESUMO A proposta do artigo pretende trazer contribuições para a valorização da memória oral da diáspora africana no contexto latino-brasileiro contemporâneo, com ênfase na relação entre identidade e diáspora africana do início do século XXI. Para o desenvolvimento do artigo foram utilizados os dados etnográficos coletados, entre os anos de 2013 e 2015, no Estado do Rio de Janeiro, com angolanos que vivem na capital carioca e têm interesse pela manutenção de uma memória oral da diáspora africana contemporânea no Brasil. Assim sendo, a potência das ideias e crenças foram analisadas para que se identifiquem as redes de movimento e reprodução social e subjetiva, que mobilizam os sujeitos envolvidos na pesquisa, enfatizando a importância da salvaguarda da memória atlântica contemporânea, para que não seja esquecida e nem silenciada.

Kumbukumbu: África, memória e patrimônio

Kumbukumbu: África, memória e patrimônio, 2022

Em 2014 inauguramos no Museu Nacional a exposição “Kumbukumbu: África, memória e patrimônio”, resultado do projeto “Sala África: novos usos para a coleção de objetos africanos do Museu Nacional” que foi coordenado pelo Prof. João Pacheco de Oliveira e que contou com a curadoria do Profa. Mariza de Carvalho Soares. O projeto recebeu financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e resultou em inúmeros produtos: a digitalização do acervo – a primeira a ser realizada no Setor de Etnologia e Etnografia –, exposições temporárias, artigos, monografias, dissertações, além, claro, da exposição de longa duração Kumbukumbu: África, memória e patrimônio. Dois anos depois de inaugurada a exposição, publicamos o livro Conhecendo a exposição Kumbukumbu do Museu Nacional (2016), planejado para servir como ferramenta pedagógica aos docentes em visita à sala África. Sua disponibilização gratuita em ambiente virtual possibilitava o acesso prévio ao conteúdo da exposição, favorecendo o preparo e planejamento de atividades didáticas. Permitia também que esse material pudesse ser acessado em sala de aula, prolongando, para além das dependências do Museu, a divulgação da história do continente africano, de sua diversidade cultural e das suas conexões com o Brasil, em conformidade com a Lei n. 10.639/2003, que determina o ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira. Em 2 de setembro de 2018, contudo, o trágico incêndio atingiu todo o prédio do Museu Nacional e a exposição Kumbukumbu infelizmente desapareceu. Com o desastre, o livro Conhecendo a exposição Kumbukumbu do Museu Nacional adquiriu uma nova função. Se inicialmente ele deveria auxiliar o percurso da exposição, após o desastre ele passou servir como registro documental dos objetos desaparecidos e como memória de um projeto expositivo. Em 2021 foi traduzido para o inglês e publicado pela Slave Societies Digital Archive Press. Na presente presente edição ganhou uma nova versão, revisada, atualizada e rebatizada com o nome da própria exposição, Kumbukumbu: África, memória e patrimônio. O livro traz informações novas, fruto de estudos desenvolvidos nos últimos anos pela equipe de pesquisa envolvida no projeto, os quais permitiram complementar, rever e aprofundar conhecimentos, o que resultou na produção de textos e legendas novas. Traz também informações relativas ao incêndio que marcou a história da instituição. Ele segue dividido em quatro seções: A exposição; Para saber mais; Acervo exposto; Atividades pedagógicas. Na primeira seção apresentamos textos e imagens das peças que constituíam as vitrines. A seção Para saber mais traz informações adicionais sobre a formação das coleções que integravam o acervo. No Acervo exposto, temos imagens das vitrines desaparecidas acompanhadas da relação das peças que as integravam. Por fim, as Atividades pedagógicas consistem em sugestões aos professores que desejarem trabalhar com o conteúdo apresentado ao longo do livro. Esperamos que Kumbukumbu: África, memória e patrimônio ofereça uma leitura proveitosa e contribua para superar as perdas de 2018, bem como para manter vivos os objetos e suas histórias.

Remanescentes Culturais Africanos no Brasil

Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2002

Panorama dos estudos sobre o negro no Brasil, do ponto de vista da cultura e das línguas, destacando-se as publicações, iniciadas somente ao final do século XIX. Abordam-se também<br />os congressos, que se realizaram principalmente na década de<br />1930, e os centros de estudos africanistas que se formaram<br />em algumas universidades brasileiras a partir da segunda<br />metade do século XX. Observa-se a precariedade dos estudos<br />lingüísticos nesse campo, os quais, em sua maioria,…

SINCRETISMO COMO CRUZAR DE MEMÓRIAS EM CONTEXTOS AFRICANOS: EM DEFESA DA PRECISÃO

Sincretismo certamente está no rol daqueles termos que se aproximam de um vazio conceitual. Situado em uma linha tênue entre a validade ou não de seus potenciais analíticos, o termo tem a tendência de se tornar impreciso quando utilizado como ferramenta explicativa de situações concretas. Meu esforço neste trabalho será buscar um refinamento do conceito de sincretismo quando este é usado para pensar as realidades culturais africanas. Assim, após apontar para a importância que as noções de memória encontram nas organizações sociais de diferentes grupos no continente, contextualizarei o conceito de sincretismo para que este se enquadre melhor nas realidades concretas. Por fim, considerando a centralidade daquelas memórias, elaboro a ideia de um “cruzar de memórias” no plano religioso. Mais que uma fuga dos problemas com o uso do conceito, minha proposta é qualificá-lo, tornando-o mais preciso e, por isso, mais cheio de significado analítico.

Memórias Esbramquiçadas: As heranças africanas nos Museus Portugueses

2014

Neste artigo abordamos as narrativas sobre as heranças africanos nos museus portugueses a partir da problemática da memória e do esquecimento. Nele procuramos identificar o lugar e o modo de apresentação sobre as heranças africanas. Trata-se duma interrogação que se insere no campo das pesquisas sobre a memória social, iniciadas nos alvores do século XX, numa perspetiva da teoria crítica.