A alegria em Tutameia: terceiras estórias de Guimarães Rosa (original) (raw)

Humor e alegria em Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa

2012

Esta tese visa a esmiudar, a partir de uma abordagem marcadamente intratextual, a questão do humor e da alegria em Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa. No primeiro capítulo, apresentam-se considerações mais teóricas e gerais sobre o tema, que aparece, em Rosa, matizado pelas sombras da angústia, da dormência, do trágico; ambos, alegria e humor, espontam de uma hermenêutica inteiramente varada pela consciência do absurdo. No segundo capítulo, discute-se a relação entranhada da própria forma lacunar da obra com esse espírito intransparente, ao mesmo tempo melancólico e venturoso, que a constitui. No último capítulo, interpreta-Aletria e hermenêutica esquadrinhando os artifícios de composição de parte de suas anedotas, e trazendo à luz a fabulação paradoxal, chistosa e sublime do texto. Palavras-chave: Guimarães Rosa. Tutaméia: terceiras estórias. Humor. Alegria. Absurdo.

Humor, Alegria e Forma Em Tutameia: Terceiras Estórias De Guimarães Rosa

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Olhando para trás e em frente: perspectivas de viagens em Tutameia Terceiras estórias, de Guimarães Rosa

Letrônica, 2015

Ir e vir é um direito assegurado a todo cidadão. Deslocar-se é próprio da espécie animal; escolher caminhos, traçar uma via para viajar, é característica humana. O artigo pretende identificar, no itinerário de personagens do livro Tutameia Terceiras Estórias, os motivos que os impulsionam para viajar, bem como observar o traçado espacial desse itinerário. Ocorre que entre esses personagens a viagem torna-se diversa em sua configuração, à medida que não são apenas viagens por estradas reais, por terra e por rio, por meio de montaria ou de barco. O tema da viagem em Tutameia configura-se também pela metáfora do olhar para frente e para trás, o que se reverte na ação do próprio leitor na travessia de ir e vir, direito e dever assegurados por um narrador. Propõe-se uma análise intratextual da obra rosiana, para interpretar enigmas que se imbricam entre personagens de contos diferentes, na representação metafórica da viagem.

A Dimensão Mítica De Tutaméia (Terceiras Estórias), De Guimarães Rosa: O Retorno Ao Sagrado Nos Contos "Curtamão" e "Presepe" 1

2015

Resumo: Guimarães Rosa considera a literatura um ofício sagrado, cuja importância exige daqueles que se empenham nesta função muita seriedade e compromisso, assemelhando-se a um verdadeiro sacerdócio. Tutaméia (Terceiras Estórias), último livro publicado em vida pelo autor, em 1967, está envolto por uma atmosfera mítica, pois, para muitos críticos, nesta obra, Rosa sintetiza todo o seu legado poético. Tendo em vista que o mito revela "uma história sagrada", este artigo objetiva apresentar que Tutaméia (Terceiras Estórias), como um todo, adentra as esferas do mítico, bem como há, de modo particular, nos contos "Curtamão" e "Presepe", um retorno ao sagrado. Palavras-chave: Tutaméia (Terceiras Estórias); mito; retorno; sagrado. "(o mineiro) não acredita que coisa alguma se resolva por um gesto ou um ato, mas aprendeu que as coisas voltam, que a vida dá muitas voltas, que tudo pode tornar a voltar. Até sem saber o que faz, o mineiro está sempre pegando...

Mãos vazias e pássaros voando: memória, invenção e não-história em" Tutaméia: terceiras estórias", de João Guimarães Rosa

2011

Em 1967 João Guimarães Rosa publica Tutaméia: Terceiras Estórias, livro em que a história é questionada desde o início, quando o autor define seu texto como estória, uma forma narrativa mais próxima à anedota e contrária às "grandes narrações" da historiografia. Em Tutaméia, o sertão mineiro não é apenas um cenário de carências que só pode ser expresso por discursos míticos, pois também possui a sua história, que é contada nestes textos literários extremamente herméticos, que se sustentam na temática da memória e da invenção. Para interpretar estas estórias e situá-las no contexto da modernização do sertão, partimos de pesquisas arquivísticas, filológicas e empíricas, com o objetivo de encontrar um lugar legítimo para a história na obra rosiana.

O terceiro estado em Guimarães Rosa

THE THIRD STATE IN GUIMARÃES ROSA: THE ADVENTURE OF BECOMING This work introduces and puts into practice the category of the third state as a tool for reflection in the analysis of representative texts by João Guimarães Rosa. When considering the narrative in a traditional perspective, I believe that the conflict initially proposed to set the plot in motion is the first state, while the solution of the conflict within the expectation created by the first state would result in what I have termed the second state. I assume it is possible to refer to the first and second states even when the composition of the narrative can be said to put the conflict in motion, in a metalinguistic arc. Therefore, the third state forms, together with the first and second ones, a circular triangle, from which the initial conflict is disestablished in such a way as to relocate the resolution/denouement. In other words, the expectations are subverted and the text, in its form and content, updates the conflict. In that perspective, I make use of Gilles Deleuze's considerations about the rhizome and the current/virtual dualism, concluding that the third state is a rhizomatic solution, as it implies multiple possibilities of "becoming", which end up subverting certain preconceived notions and establishing new and unpredictable shortcuts, capable of subverting the expectation that the plot may raise at first. Concomitantly with the reflections on the idea of the rhizome and the current/virtual dualism, I aim at relating the third state to the fantastic tradition, departing from the reflexive character proposed by fantastic narratives when they confront the character and a phenomenon that is not appropriated through rational action only. In dealing with the fantastic tradition what matters, above all, is the idea of a fantastic encounter, that is, what happens between the character and the phenomenon and allows action in the tale. In the same way it is relevant to establish the boundaries of the fantastic discourse in relation to the work of Guimarães Rosa, once the immediate reference of that discourse is the rational world, even from a perspective of negation. Such an opposition does not occur in the work of Guimarães Rosa, once it is not possible to think of a polarized relation with reason, but of the configuration of a fictional world in which reason is already an effect of subversion, as it does not work as a basis for the narratives. In fantastic narratives, the encounter between the phenomenon and the character results, on both sides, in a transformation of "becoming", so that the strange and irrational element becomes part of the character and, later, in the denouement, part of the world to which they belong. If in traditional fantastic narratives the phenomenon is a disturbing element with threatening and potentially destructive dimensions, and it is the character's role to subvert that determination, in Guimarães Rosa, the element-the third state-that incorporates itself so as to change the logic of the character's experience in the world has an intensely rhizomatic nature, as it does not start or end, it is always in the middle, in between things, inter-being, intermezzo (DELEUZE & GUATTARRI, 1995, p. 37). The third state is thus, a middle power, as it is neither at the beginning nor at the end. INTRODUÇÃO A obra de Guimarães Rosa tem desafiado a crítica literária desde a sua estréia e muitos estudiosos, como destacou Paulo Rónai, têm se preocupado primeiro em esclarecer os limites do discurso crítico para só então iniciar a empreitada em campo tão vasto (2001, p. 13). Assim, admito que farei o mesmo já de início. A leitura de Rosa representou para mim um caminho de reflexão repetidamente restaurado ao mesmo tempo em que mostrou, mais uma vez, que todo crítico é o triste fim de algo que começou como sabor, como delícia de mascar e morder, como afirmou Julio Cortázar sobre um também perseguidor da arte (1996, p. 43). Acredito que o resultado do esforço de compreensão empreendido neste trabalho tem o mérito maior de reconhecer que a obra de Guimarães Rosa está para além de qualquer proposta que a reduza a um número de procedimentos determinados por esta ou aquela modalidade literária. Entretanto, a tese apresentada inicialmente, em princípio muito modesta, de que sua obra poderia ser lida a partir de um cotejo com a tradição do discurso fantástico, pode denunciar a intenção de fazer exatamente a redução que se acredita inoperante e, ainda mais, ineficaz frente aos textos em questão. Reconheço que uma certa ingenuidade em relação à metodologia de trabalho para uma abordagem dessa natureza fez com que eu julgasse possível uma aproximação direta entre determinadas características da literatura fantástica e algo inicialmente intuído na obra de Rosa. O primeiro problema metodológico apresentou-se justamente quanto a que corpus poderia ser utilizado como referência no âmbito da chamada literatura fantástica. E, então, o problema mesmo da literatura fantástica precisou ser trazido à cena para que fossem estabelecidos os procedimentos próprios dessa modalidade literária que eu julgava, até então, operacionais para um trabalho de leitura aprofundada do autor. O segundo problema para a proposta de abordagem inicial, muito mais sério e capaz de inviabilizar o trabalho, era o fato de que o fantástico se apresenta a partir de determinantes e contingências que o tornam uma questão de amplitude quase tão vasta quanto a da própria arte literária e eu ainda não dispunha de um elemento que pudesse funcionar como elo para a relação entre o universo de procedimentos ditos fantásticos e aquilo que me parecia ecoar nos textos em questão. Ora, foi preciso ouvir esse eco silencioso sem a interferência imediata da intenção crítica para que minha proposta ganhasse alguma probabilidade de êxito. No trabalho de leitura e releitura que empreendi da obra de Guimarães Rosa pude confirmar algo que muitos críticos já haviam apontado, sua produção expressa uma consciência lúcida quanto ao processo criativo ao mesmo tempo em que busca elementos absolutamente alheios à ordenação racional do trabalho criador. Guimarães Rosa põe para funcionar uma máquina de salvação pessoal e coletiva: a arte. A máquina de escrita do autor produz noções inéditas de felicidade, amor, dor e morte, sempre pelo efeito do movimento, alheio a qualquer idéia de quietude sedentária. Ao conjunto de elementos instauradores do milagre, ou melhor, ao milagre proposto em cada texto, chamei terceiro estado. Tal categoria apresentada para dar conta do enredo nas narrativas selecionadas para este trabalho também se revelou operacional na aproximação com o discurso fantástico. Desta forma pude trazer, do âmbito de procedimentos da literatura fantástica, uma série de elementos que apontam diretamente para a necessidade e para o desejo de superação, simultaneamente, da linguagem e da racionalidade excludente, e, mais amplamente, de uma compreensão limitada da experiência humana. O fantástico, como se verá brevemente ao longo deste trabalho, tem participado diretamente dos questionamentos de verdades instituídas desde o século XVIII e tem possibilitado ao homem caminhos insólitos para o conhecimento de si, do outro e do mundo. Com essa estratégia metodológica-a invenção do terceiro estado como categoria analítica-julgo ter avançado na proposta original de cotejo entre os procedimentos do fantástico e a obra de Rosa. É importante ressaltar, no entanto, que de primeiro plano, o fantástico passou a ocupar o bastidor da reflexão central do trabalho e será chamado à cena principal sempre para figurar ao lado da noção de terceiro estado. Ainda assim, a operacionalização da categoria terceiro estado carecia de sustentação maior. Então, numa vereda inesperada, encontrei Gilles Deleuze. A tonalidade vibrante e especulativa do pensamento de Deleuze impressionou-me profundamente e, de imediato, a associação de seus conceitos com a noção de terceiro estado pareceu-me inevitável. O Todo-Uno em Deleuze comporta a idéia de caos como um excesso de determinação, um excesso de devires, ou ainda, segundo Luis Orlandi, uma caótica de devires. E é justamente como operador da liberação de devires que aciono a noção de terceiro estado para a leitura de Guimarães Rosa. Para tanto, interessa, sobretudo, o caráter explosivo da idéia deleuzeana de Ser: essa idéia implica uma noção de caos como caótica de devires na imanência, implica uma concepção do ser como aquilo que se diz univocamente como diferenciação complexa em todo e qualquer ente. Diferenciação complexa que comporta a articulação constante de virtualizações e atualizações. O virtual se atualiza constantemente, em estado de tremores extensivos e intensivos, que é próprio de dinamismos rizomáticos. Tremor de vida. Em Caos e Cosmos (1976), Suzi F. Sperber pretende mostrar como a somatória de leituras realizadas por Guimarães Rosa permite uma compreensão do processo de desenvolvimento do autor, cujos reflexos se fazem sentir na estruturação da obra e no estilo, muito mais fortemente do que na temática. Embora o processo de desenvolvimento do autor não tenha sido o foco principal de meu trabalho, penso que a escolha dos textos realizada aqui e a verificação do funcionamento da categoria do terceiro estado em cada um deles demonstra que, em seus primeiros textos, desde 1937, há sustentação mais direta para justificar a aplicação de tal categoria. O livro P.E., publicado em 1962, sem abandonar princípios já explorados anteriormente pelo autor, faz perceber um movimento de sofisticação do processo de elaboração artística, assim o esquema proposto neste trabalho como modelo de reflexão para o terceiro estado precisou ser trabalhado de modo a estabelecer um suporte mais sutil no corpo das narrativas do livro para sustentar-se como instrumento de análise. Daí a necessidade de uma preocupação maior com este livro, em particular. O quarto capítulo deste trabalho é dedicado,...

Guimarães Rosa e a Nomadologia: três tempos de uma história

2013

Utilizando do conceito de “maquina de guerra nomade”, de Gilles Deleuze e Felix Guattari, analisar de forma sintetica, a partir dos movimentos autoctones narrados no “Grande Serao: Veredas”, de Guimaraes Rosa, as forcas exteriores, aquem ou alem do Estado, inserido dentro dele ou nao, que lutaram consciente ou inconscientemente pela soberania nacional, atraves de passagens no Imperio, na Republica pre-64 e no Brasil dos dias atuais. Colocar o romance de GR como sintese das forcas politicas que atuavam no pais antes do golpe, mostrando suas raizes no Imperio e que se desenvolveram ate a nossa decada.

A magia poética da alegria e do amor, em Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa

2017

O que se propoe analisar neste trabalho e a busca constante da transmutacao do modo de ver o mundo, que faz da obra de Rosa uma grande paideia, que incita o jogo do devir, o jogo de atravessar, o jogo das metamorfoses continuas e comuns de toda forma de vida. O narrador rosiano poe o leitor em constantes rupturas da logica, dos limites, dos pragmatismos humanos, a fim de descontruir a automatizacao dos homens e do mundo, gestando o aprendizado de uma nova leitura do mundo, que destroi os determinismos e logicas da subordinacao, decretando o fim da logica do senhor e do escravo. Essa nova visao mito-poetica faz o homem comum religar-se ao mundo, nao como superior, mas como parte integrante que deve aprender o movimento dialetico da vida: o nascer e morrer constantes, o transformar-se para perpetuar-se, o ir e vir continuos e perpetuos. Assim, neste trabalho, o que se objetiva estudar e a representacao das personagens rosianas em busca de sua construcao como individuos, especialmente ...