O cinema soviético do stalinismo tardio: entre a propaganda e a anfibologia (original) (raw)

O novo modelo de repressão do stalinismo tardio, pseudociência e Cinema

Fronteiras, 2023

https://periodicos.uffs.edu.br/index.php/FRCH/index O novo modelo de repressão do stalinismo tardio, pseudociência e Cinema The new model of repression of late Stalinism, pseudoscience and cinema Moisés Wagner Franciscon 1 Resumo Se a URSS da década de 1930 foi dominada por modelos de repressão por cota, massivos, o pósguerra, com maiores dificuldades de controle, conheceu uma máquina profissional e acurada para identificação e coação de dissidentes. Charlatães das pseudociências utilizaram a cultura política e os novos instrumentos de repressão para se impor diante de seus pares cientistas, como demonstra Kojevnikov. A sócio-história cinematográfica de Marc Ferro permite entender como o cinema fez parte da guerra cultural do regime para disseminar tais práticas e tentar unificar o país diante de inimigos internos e externos. Para isso, foram selecionados os filmes Sud chesti, e Velikaya sila, pela temática comum do Tribunal de Honra.

O novo modelo de repressão do stalinismo tardio, pseudociência e Cinema/The new model of repression of late Stalinism, pseudoscience and cinema

Fronteiras Revista Catarinense de História, 2023

Se a URSS da década de 1930 foi dominada por modelos de repressão por cota, massivos, o pósguerra, com maiores dificuldades de controle, conheceu uma máquina profissional e acurada para identificação e coação de dissidentes. Charlatães das pseudociências utilizaram a cultura política e os novos instrumentos de repressão para se impor diante de seus pares cientistas, como demonstra Kojevnikov. A sócio-história cinematográfica de Marc Ferro permite entender como o cinema fez parte da guerra cultural do regime para disseminar tais práticas e tentar unificar o país diante de inimigos internos e externos. Para isso, foram selecionados os filmes Sud chesti, e Velikaya sila, pela temática comum do Tribunal de Honra. If the USSR of the 1930s was dominated by massive, quota-based models of repression, the post-war period, with greater control difficulties, knew a professional and accurate machine for identifying and coercing dissidents. Pseudoscience charlatans used political culture and the new instruments of repression to impose themselves on their scientific peers, as Kojevnikov demonstrates. Marc Ferro's cinematographic socio-history allows us to understand how cinema was part of the regime's cultural war to disseminate such practices and try to unify the country in the face of internal and external enemies. For this, the films Sud chesti and Velikaya sila were selected, based on the common theme of the Court of Honor.

A sátira social no cinema soviético da Era Brejnev

Faces da História, 2019

O Glavlit era o orgao encarregado da censura na Uniao Sovietica. Sua presenca na diretoria de produtoras, em fiscalizacoes e no controle da edicao nao era a unica fonte de repressao na producao filmica. Estudios e diretores dependiam dos contratos com o governo, pois trabalhavam em um sistema estatizado. Era conveniente receber as encomendas de filmes – cuja producao era numericamente prevista pela planificacao. Embora houvesse apenas uma fonte de financiamento, existiam varios estudios repartindo tais recursos. O sistema incentivava a autocensura. Os diretores eram cobrados para que o filme fosse economicamente viavel e agradasse ao publico. Entretanto, havia espaco para a critica no cinema sovietico, dentro de certos limites. Sua transposicao equivalia a condenar a pelicula a tesoura da censura. Esse espaco de manobra variou durante as etapas politicas do regime: aberto nos tempos de Lenin (durante a NEP), estreito sob Stalin, amplo com Kruschev (1953-64) e um pouco menos extenso ...

Suvorov (1940), de Pudovkin: o cinema soviético e o conservadorismo no Exército Vermelho

Revista Ágora, 2020

Ao contrário do que aponta a maior parte da historiografia, a reorganização do Exército Vermelho não se deu durante a Batalha de Stalingrado. Tampouco foi obra desenraizada, concebida e imposta rapidamente por um tirano. Ela se inscreve num processo mais lento, iniciado com a década de 1930. O governo soviético lançou uma campanha pelas reformas ainda em 1940, inclusive com o uso do cinema. Apesar da pressão financeira, legal e física sobre os cineastas, jamais conseguiu exercer um controle absoluto. O cinema, como aponta Marc Ferro, abre uma janela para uma visão minuciosa de uma sociedade, que poderia passar despercebida sem o uso dessa fonte. O filme Suvorov (1940), dirigido pelo cineasta soviético Vsevolod Pudovkin, permite realizar uma análise segundo a perspectiva mencionada acima.

Mikhalkov: Cinema e Ideologia frente ao desmoronamento soviético

Dissertação de Mestrado, 2019

Anna: dos 6 aos 18, filme russo dirigido por Nikita Mikhalkov, lançado em 1993 e rodado ao longo de mais de uma década sob a efetivação das políticas da Glasnost e da Perestroika, retrata enquanto forma e conteúdo o panorama político que se desenhava no antigo bloco socialista durante a transição dos anos de 1980 a 1990, o consequente redirecionamento da organização econômica e a mudança nos padrões comportamentais para uma sociedade de consumo nos moldes ocidentais efetivando o desmoronamento (Hobsbawm) das estruturas estabelecidas. Realizado durante essa fase de transformação política, econômica e cultural, o filme reporta acontecimentos daquele contexto, mas os condiciona à forte política de consenso do diretor ao regime sucessivo, que conduz as entrevistas feitas ao longo da década com a jovem filha a modo de apresentar a substituição do modelo socialista como uma evolução, mudança esta garantida, segundo ele, através da luta popular contra a tirania. O presente estudo busca traçar uma análise formal da obra, mas relacionada intrinsicamente com a conjuntura política, cultural e socioeconômica em micro e macro escalas e com as inclinações do diretor, assim como busca apresentar o fenômeno de liberalização e abertura como um aprisionamento às estruturas do capitalismo global, do mercantilismo organizacional (Chomsky), da política de consenso, do capitalismo como culto e religião (Benjamin) e de unidimensionalidade do homem contemporâneo (Marcuse), pautado pela acriticidade, alienação e consumo.

Cinema e História: o caso do Cinema Bélico soviético do pós-guerra

A primeira parte deste artigo apresenta as contribuições do cinema para a História; que consistem na representação de fatos longínquos, não observáveis por outro meio a não ser o da reconstrução e encenação, e no fornecimento de dados importantes sobre a sociedade em que o filme está inserido. E tece considerações teóricometodológicas que embasam a utilização do filme como fonte histórica. Na segunda parte evidencia-se que, o cinema soviético sobre a Segunda Guerra, produzido no pós-guerra, não se distinguiu tão fundamentalmente do cinema ocidental pelo uso da propaganda ou da busca pela construção da memória coletiva. Portanto, a concepção de totalitarismo não é passível de ser aplicada realisticamente ao quadro cultural do qual o cinema participava, ou à sociedade no qual o mesmo estava inserido.

Dissertação de Mestrado "CINEMA, PROPAGANDA E POLÍTICA: Hollywood e o Estado na construção de representações da União Soviética e do Comunismo em Missão em Moscou (1943) e Eu Fui um Comunista para o FBI (1951)"

SILVA, Michelly Cristina da. CINEMA, PROPAGANDA E POLÍTICA: Hollywood e o Estado na construção de representações da União Soviética e do Comunismo em Missão em Moscou (1943) e Eu Fui um Comunista para o FBI (1951). 2013. 190 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. A presente dissertação analisa dois filmes norte-americanos produzidos e distribuídos pelo estúdio Warner Bros., ambos baseados em histórias reais, que de distintas formas representaram, seja de forma idealista ou condenatória, a União Soviética, o Comunismo e os membros do Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA). O primeiro, "Missão em Moscou", dirigido pelo já renomado Michael Curtiz e lançado no contexto da Segunda Guerra Mundial, apresenta evidências de ter sido feito sob a tutela tanto da agência governamental Birô do Cinema- Secretaria de Informação da Guerra quanto do presidente dos Estados Unidos à época, Franklin Delano Roosevelt. Pela forma como interpretou fatos da história da Rússia e por sua campanha do país como membro dos países Aliados, o filme recebeu a denominação de “pró-soviético” pela literatura que o estudou. Já o segundo, "Eu Fui um Comunista para o FBI", lançado apenas oito anos após Missão em Moscou, mas já no contexto da Guerra Fria, evidenciou, por outro lado, a tentativa da companhia cinematográfica em se alinhar à atmosfera de repúdio ao Comunismo reinante em boa parte da opinião pública norte-americana no período, bem como de tentar afastar as acusações do Comitê de Atividade Antiamericanas (HUAC) da presença dentro de Hollywood de elementos “subversivos” e de sua propaganda. Por sua representação, filmes como Eu Fui um Comunista para o FBI, recorrentes na década de 1950, foram denominados “anticomunistas”. O estudo aqui empreendido inicia-se com a caracterização da indústria cinematográfica em Hollywood na época de sua chamada Era Clássica (1930- 1948), primeiro capítulo; passando pelas análises fílmicas e de contexto de ambas as obras, resultando no capítulo dois e três; para encerrar-se, no último capítulo, com as considerações sobre a recepção das duas obras, levando para isso em conta as produções de significado de três “agentes”: os críticos cinematográficos; o seu público espectador, e os seus números de bilheteria. Por fim, nas considerações finais, colocamos em comparação a obra pró-soviética e anticomunista no tocante às suas diferenças, bem como similitudes, nas estratégias para a representação das personagens envolvidas em suas tramas. Palavras-chave: Hollywood, anticomunismo, propaganda, representação, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria. ABSTRACT SILVA, Michelly Cristina da. Cinema, Propaganda and Politics: Hollywood and the State in the making of depictions of the Soviet Union and the Communism in Mission to Moscow (1943) and I Was a Communist for the FBI (1951). 2013. 190 pages. Thesis (Master’s Degree) - Faculty of Philosophy, Languages and Literature, and Human Sciences, University of São Paulo, São Paulo, 2013. This thesis analyses two American movies produced and distributed by Warner Bros. Studios. Both are based on true stories, that used different depictions, one in an idealized way and the other condemnatory, of the Soviet Union, of the Communism and of the members of the Communist Party of the United States. The first film, "Mission to Moscow", directed by Michael Curtiz and released in the context of World War II, presents evidence that it was fostered by the governmental war agency, the Bureau of Motion Pictures – Office of War Information and by the president of the United States himself at that time, Franklin Delano Roosevelt. Due to its interpretation of recent facts in Russian history and because of its propagandistic campaign to generate a better understanding of this country among Americans, historians and film theorists have classified the picture as “pro-Soviet”. The second movie, I Was a Communist for the FBI, whose premiere occurred only eight years after Mission to Moscow, showed, on the other hand, Warner Bros.’ attempt to realign itself to the atmosphere of anticommunism perpetrated by the majority of American public opinion and also to deny any accusation that the motion picture industry was full of “subversive elements” and their propaganda. When considered for its representation and depiction of Communism, movies like I Was a Communist for the FBI, very common in the 1950s, was denominated “anticommunist”. We divided this work into four parts. We start in the first chapter by exploring the motion picture industry in Hollywood during what was called the “Golden Age” (1930 – 1948). Then, we move to the film analyses of both pictures, the content of chapters two and three; in chapter four we study the reception of the two feature films, using as elements of measure the productions of meaning of three different agents: the critics, the spectator and the box-office numbers. Finally, in “Conclusions”, we compare Mission to Moscow and I Was a Communist for the FBI, aiming to observe them in the light of their differences but also of their similarities in the strategies used for the representation of the characters in the stories. Keywords: Hollywood, anti-communism, propaganda, depiction, World War II, Cold War.

ALCOOLISMO COMO PROPAGANDA NA GUERRA FRIA: A ÓPTICA SOVIÉTICA NO CINEMA DO STALINISMO TARDIO

Revista Percurso - NEMO, 2024

Durante o stalinismo tardio (1945-53) uma série de filmes com temática antianglo- americana foi rodada na URSS como meio de se combater a guerra cultural na nascente Guerra Fria e se contrapor ao discurso antissoviético dos ex-aliados. O mote do alcoolismo foi importante para ambos os lados, tendo os soviéticos conseguido inverter a lógica hollywoodiana, copiando e redirecionando a propaganda antissoviética baseada em antigas imagens russofóbicas contra os inimigos capitalistas, representados como embriagados decadentes, de maneira caricata e aberta quando membros das classes baixas, e mascaradas pela arrogância, riqueza e desfaçatez entre as elites. Foram selecionados 22 filmes soviéticos produzidos no período do stalinismo tardio em que aparecem mensagens anti-anglo-americanas. A sócio-história cinematográfica de Marc Ferro permite apreender essa interação dos cinemas das potências rivais e sua utilização política e ideológica. Também procurou-se compreender e metrificar o fenômeno do alcoolismo na URSS, suas questões políticas e sociais, e compará-lo com outros lugares do mundo.

Os sinuosos trilhos soviéticos: Alexandre Medvedkine e o cine-trem

A dimensão técnica das experiências cinematográficas soviéticas ganha novos contornos a partir das produções de seus expoentes cineastas como Eisenstein, Vertov, Pudovkin, Dovzhenko, entre outros. No entanto, diferentes projetos envolvendo a cinematografia russa insurgem no interior do contexto revolucionário. É o caso do cine-trem, organizado por Alexandre Medvedkine, que percorre grande parte do território soviético no ano de 1932 e cujas práticas da elaboração de roteiro, captação de imagens, montagem e exibição se aproximam do cotidiano da luta de classes.