Linguagem e Pobreza (original) (raw)

Linguagem e Raça

Trabalhos em Linguística Aplicada, 2021

Abordar a temática da raça, neste momento, é de fundamental importância. Embora já tenhamos, no país, vários avanços históricos com relação a questões raciais, como, por exemplo, políticas públicas e políticas linguísticas que evidenciam a necessidade de trazer para o contexto brasileiro a questão da raça como central na elaboração dessas normativas, passamos por um período difícil, tanto nacional como internacionalmente. Por essa razão, demarcar esse espaço é necessário para que possamos garantir que reflexões críticas estejam presentes, já que "o racista numa cultura com racismo é por esta razão normal" (NASCIMENTO, 1978, p. 85 apud MILANEZ et al., 2019, p. 2165). Não existe história do Brasil sem racismo, principal motivador da escravização dos povos indígenas e africanos. A doença do racismo, essa espécie de epidemia global do racismo se originou na nossa separação da natureza, quando nós nos separamos da natureza a ponto de não compartilharmos mais com a natureza a riqueza da diferença. Quando se disse que a diferença é o outro, é a impossibilidade de aceitar a diferença, de aceitar o outro como diferença-isso gerou o que nós reconhecemos historicamente como racismo (KRENAK in MILANEZ et al., 2019, p. 2172). Mas a terminologia raça, que é construída e reconstruída dia a dia social, histórica, cultural e discursivamente, através das nossas relações sociais, ainda tem significado contestado, a tal ponto de "os trabalhos que mostram as consequências (e a continuação) dessa escravidão [receberem] pouca atenção" (MILANEZ, 2019, p. 2166), o que é muito grave, pois elas seguem entre nós de inúmeras formas. Eventos recentes, como, por exemplo, o assassinato de Mariele Franco, a morte, por sufocamento, de George Floyd nos Estados Unidos, do menino João Pedro, que foi deixado sozinho no elevador pela patroa, enquanto a mãe passeava com o cachorro da patroa e de João Alberto, que foi espancado até a morte dentro de um supermercado, bem como os inúmeros assassinatos dos Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul são motivados por racismo. Ou seja, se essas pessoas fossem brancas, o que ocorreu com elas não teria ocorrido. Sendo assim, falar sobre raça é afirmar enfaticamente que ela é um demarcador de corpos que permite às pessoas viver ou morrer. Essa questão do genocídio começa quando os europeus chegaram aqui e disseram: "Não são nada, nem são gente, nem são humanos, que não têm fé, porque não tem lei, porque não tem rei. Então são o que? São nada". Daí pra cortar a cabeça ou partir ao meio com um facão ou atravessar com uma bala não faz muita diferença, porque a morte já foi decretada, foi executada antes (GAMELA in MILANEZ et al., 2019, 2172).

Linguagem e Enativismo

Prometeus, 2020

A linguagem não precisa ser vista como um problema para enativistas radicais. A objeção do escopo usualmente apresentada para criticar explicações enativistas só representa um problema, se tivermos uma visão referencialista e representacionalista da natureza da linguagem. Apresentamos uma hipótese normativa para a grande questão do problema difícil do conteúdo, a saber, a respeito de como práticas linguísticas se desenvolvem de mentes sem conteúdo. Nós portamos conteúdo representacional quando dominamos relações inferenciais e dominamos relações inferenciais quando dominamos relações normativas, especialmente quando somos introduzidos em quadros de autorizações e proibições. Inspirados no antiintelectualismo do segundo Wittgenstein e no inferencialismo de Brandom, apresentamos a hipótese que a linguagem emerge da ação inferencialmente articulada a partir de elementos normativos e não da manipulação em estados mentais internos de conteúdos fixados pela referência a coisas externas.

Lingua e mestiçagem

Agradecimentos À Tânia, pela confiança, pela orientação e pelo exemplo profissional. Ao Sírio, referência acadêmica e ética. Ao Jonas pelo diálogo e apoio. Ao Ilari, à Inge, ao Raja pelas sugestões durante o curso. Aos professores que aceitaram participar da banca. Aos amigos queridos do IEL, pelo compartilhamento nesta jornada árdua:

Linguagem e Ideologia

Muito tem se falado sobre o movimento politicamente correto que engloba a linguagem como uma das principais ferramentas ideológicas. Na contramão do politicamente

Linguagem e parentesco

Revista de Antropologia, 1999

Professor do Departanzento de Antropologia-USP RESUMO: Este artigo tem por objetivo traçar um cshoço tentativo das relações entre tennin ologias e atitudes convencionais entre os pov os indígenas do nordeste da Arnérica do Sul, região conhecida con10 "Gu iana" na literatura etnográfica recente. O exercício consiste cn1 dar a essas esferas dos sisternas ..... de parentesco o n1csn10 tratarnento que Lévi-Straus s concedeu às f orn1as variantes de u1n n1ito. PALAVRAS-CHAVE: sistemas de parentesco, terminologias e atitudes convencionais, povos amerí ndios da Gu iana. La flex ibilité des co111bi11aisons possib/es ouvre la porte a11x n,odifications qu 'apporte l' Histoire, ,nais les blocages, ellx-ce qui 11 'est pas pensable, ce qui n 'est pas poss ible, ce qui 11 'est ja111ais réalisé-, sont des plzé11 on1enes de st ructll re.

Filosofia e Linguagem

O propósito destes ensaios é apresentar a Filosofia da Linguagem a partir de perspectivas divergentes, as quais apesar das diferenças têm em comum o fato de, primeiro, abandonarem as concepções modernas e tradicionais da linguagem como objeto, e, segundo, colocarem a linguagem como o lugar dos problemas e o meio pelo qual estes se resolvem: a abordagem hermenêutica, fundada por Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834), a abordagem lógico-semântica, inaugurada por Friedrich Ludwig Gottlob Frege (1848-1925), e a abordagem pragmática, introduzida por Charles Sanders Peirce (1839-1914) e desenvolvida por John L. Austin (1911-1960). Essas perspectivas teóricas, inauguradas no século XIX, justificam ainda hoje a necessidade e a prioridade da consideração e da análise da linguagem na atividade filosófica. Além disso, pretende-se apresentar teorias e modelos do significado linguístico, tendo como foco principal o problema da fixação do conteúdo semântico das expressões e o problema da equivalência semântica entre expressões diferentes. Essa abordagem da linguagem por meio do conceito de conteúdo semântico permitirá que se discuta de modo unificado os problemas das perspectivas apresentadas, sobretudo no que se refere às relações entre linguagem, ação, pensamento e mundo.