Crueldade na literatura: percursos pela violência mórbida no conto Venha ver o pôr do sol (original) (raw)

A escrita do feminino: assédio e feminicídio no conto Venha ver o pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles

Revista Criação & Crítica

O presente trabalho pretende analisar a crise de representação da personagem feminina no conto Venha ver o Pôr-do-sol, de Lygia Fagundes Telles, a partir da perspectiva da literatura de autoria feminina e da violência vivenciada pela protagonista. O conto vale-se de razões estéticas bem definidas ao trabalhar com conceitos como gênero, identidade, subjetividade e a maneira como esses conceitos interferem na elaboração e nas ações das personagens. Desde a primeira linha do conto até o seu desfecho há a focalização nas personagens e a valorização do elemento espacial como responsáveis pelo efeito sombrio e misterioso que se evidencia ao longo do texto. O enfoque nesses elementos narrativos e a forma como a escritora trabalha as temáticas pertinentes à literatura de autoria feminina favorecem a possibilidade de se reconhecer que Venha ver o pôr-do-sol é um conto em que Telles se consolida como uma das representantes deste tipo de literatura no Brasil. Esse artigo apresenta, inicialment...

Duelo, de Guimarães Rosa: moira em interface com a violência do sertão

Agora-estudos Classicos Em Debate, 2018

his essay aims at reflecting on the concept of moira, referring to destiny accor-ding to the Greek tradition, in connection with the journeys and violence of the backwoods, as shown in the short story Duelo, the fourth narrative included in Guimaraes Rosa’s Saga-rana. The ancient concept of destiny has been adapted to the hardships endured by man in the Brazilian dry hinterland, portrayed as a space of persecution, death and instability. This reflection on Rosa’s short story will therefore be carried out by placing the harsh landscape of the backwoods within the context of Greek universalist tradition pertaining to destiny.

Crueldade, perversidade e violência: uma "visão" do narrador no conto "A lei" de André Sant’Anna

Literatura e Autoritarismo, 2017

Este artigo busca analisar questões relativas à perversidade, crueldade e violência no conto "A Lei", de André Sant'Anna, que integra a coletânea intitulada Contos Cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea, organizada por Rinaldo de Fernandes. Por meio da exposição "convulsiva" do narrador personagem somos levados a um mundo completamente violento, ao qual nos apresenta aos poucos, e conforme o narrador "ganha confiança" do leitor, se revela completamente, todavia sempre tendo consciência de que está em uma narrativa. Para tal leitura tomamos como base, para além de conceitos críticos e teóricos relativos à estética literária, também nos aportaremos em estudos relativos à perversidade, crueldade e violência, tais como A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos,

Literatura, violência e fome

Revista Odisséia, 2023

Resumo: O artigo aborda as obras Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, O Quinze (1930) de Rachel de Queiroz, e Pedra Bonita (1938), de José Lins do Rego, objetivando identificar pontos em comum, como a violência compositiva da estruturação formal do sertanejo: a fome e o meio-natural e social-hostil. O estudo permite delimitar problemáticas em torno da vida no sertão que, denunciadas na obra euclidiana, são ficcionalizadas pelos romances almeidiano, queiroziano e reguiano, observando-se a relação entre a literatura e o contexto de sua criação. A abordagem possibilita vislumbrar a literatura como forma de provocar reflexões, outras percepções ante a realidade de violência com a qual os indivíduos se habituaram, podendo contribuir para alterar esse quadro, sobretudo quando se verifica, dia a dia, o número crescente das suas vítimas. Palavras-chave: Literatura e violência. Literatura e fome. Literatura e sociedade. 1 Da literatura e do direito, da violência e da fome

Literatura e Violência em um conto de Rubem Fonseca

A presente leitura do conto O cobrador, de Rubem Fonseca, enfatiza as ambiguidades do narrador. Ao mesmo tempo vítima de uma violência objetiva e agente de uma violência individual, o narrador expressa a sua revolta solitária através da poesia em verso livre e do crime violento contra indivíduos abastados, dos quais ele “cobra” a “dívida social”. Sob uma ordem social profundamente desigual e consumista, a poesia e a violência são modos complementares de revolta individual do consumidor frustrado. This paper on Rubem Fonseca's O cobrador emphasizes the ambiguities of its storyteller. At the same time victim of an objective violence and agent of an individual one, the storyteller expresses his lonely revolt by suing free verse s poetry and violent crimes against rich individuals, from whom he “charges” what he calls a “social debt”. Under a deeply unequal and consumerist social order, the poetry and the violence dimensions of Fonseca’s writing appear as complementary modes of an individual revolt motivated by a frustrated consumer condition.

De uma literatura sobre a violência: um debate com a escritora Patrícia Melo

Jangada: crítica | literatura | artes

Com 27 anos de carreira, Patrícia Melo é um dos nomes mais expressivos da ficção brasileira contemporânea. Seus mais de 10 livros, ainda que heterogêneos e plurais, convergem na temática: a violência. De fato, mesmo correndo o risco de simplificação, sua obra gira em torno de aspectos típicos da violência brasileira, em todas as suas faces: antissemitismo, machismo, misoginia, racismo, entre tantas outras formas. Patrícia imprime uma espécie de estética da violência, transpondo à ficção a brutalidade em seus amplos aspectos. Nesse debate, gravado no dia 14 de maio de 2020, pela plataforma Google Meet, a escritora falou sobre a violência brasileira em perspectiva ampla, mas se dedicando a dois de seus aspectos: o machismo e o antissemitismo, em dois de seus livros, Valsa negra (2003) e Mulheres empilhadas (2019). Em Valsa negra, Patrícia apresenta um maestro que, obsessivo com sua mulher, amalgama antissemitismo com machismo em uma violência que vai gradualmente ascendendo; já em Mul...

Crime, violência e maldade na “Literatura do Norte”, uma problemática em questão

Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2010

Nos romances constituintes da “Literatura do Norte”, de Franklin Távora, o crime, a violência e a maldade são temas recorrentes. A escolha de bandidos e tipos marginalizados, como protagonistas de suas obras, sugere que, além do objetivo primeiro de exaltar os tipos humanos, as figuras lendárias e os heróis tradicionais da região, o autor constrói romances que investigam os meandros interiores da alma humana e buscam compreender as forças motrizes direcionadoras das escolhas individuais. A partir da concepção de que a literatura funciona como um instrumento de sondagem do eu e do outro, dos anseios e desejos mais obscuros do homem, o artigo objetiva discutir como o tratamento desses temas, na produção de Franklin Távora, revela, por um lado, a cosmovisão do autor, permeada pela confluência de estilos literários, ideologias e teorias filosófico-cientificistas em um momento de transformação do país; por outro, põe em pauta um questionamento primordial sobre o Mal e suas consequências.