Mapeamento da violência motivada por discriminação à identidade de gênero e sexualidade no município de São Paulo: uma metodologia cartográfica na investigação de geografias invisíveis (original) (raw)

Recalque espacial: mapas de violência contra a mulher no Município de São Paulo

2020

A compreensão que a violência contra a mulher possa ser analisada do ponto de vista territorial abre a perspectiva que políticas públicas de segurança, saúde, assistência social e acesso à justiça possam ser planejadas para serem estratégicas em função das diferentes demandas que existem no espaço urbano. Foi feita a espacialização dos dados de ocorrências de violências das bases de dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública e dos atendimentos dos centros da mulher da Prefeitura no município de São Paulo em 2018. Apesar de ocupar todo o perímetro da mancha urbana, este mapeamento revelou que, em números absolutos, existem concentrações em vários distritos periféricos e semiperiféricos, assim como em alguns existem déficits dos equipamentos de segurança, assistência social e justiça. Em números relativos, entretanto, quando fazemos o recorte com a população residente, as violências estão em maior número nos distritos do centro expandido. Esse aspecto nos levou a supor que esta violência é resultado do tensionamento não somente dos conflitos de gênero, quanto das demais normas subordinadoras patriarcal, oligárquica e racial no Brasil versus a resistência/afirmação das mulheres no espaço urbano. Tal suposição levanta a hipótese que exista um recalque espacial, herança ainda presente da sociedade colonial, escravagista e patrimonial, somada ao neoliberalismo, cujos efeitos aparecem no território e, consequentemente, são sentidos sobre o corpo da mulher. Palavras-chave: violência contra a mulher, violência doméstica, segregação social, estudos de gênero, espaço urbano Abstract An understanding that violence against women could be analysed regarding its spatial features opens a public policy perspective that safety, health, social services and access to justice could be planned in order to be strategic if it faces different demands throughout territory. Violence against women report data were spatialized with data base from Public Safety State Department records and social services at women assistance centers of Sao Paulo City Hall in 2018. Although it occupies whole urban edge perimeter, this mapping revealed that, in absolute values, exist concentrations in many peripheral and semiperipheral districts, as well as, some have deficits on police stations, social services and justice centers. In relative terms, however, when we cross with number of inhabitants, violence against women is in higher numbers at broad central districts. These characteristics led us presume that this violence is a result not only of gender clash, but also from patriarchal, oligarchic and racial subservient norms in Brazil versus women resistance/empowerment in urban space. Such assumption raises a hypothesis that exists a spatial repression heritage still existent from colonial, slaver-oriented and patrimonial society, added up with neoliberalism, whose effects appear throughout territory and, consequently, are felt on women body.

Cartografia da violência aos corpos dissidentes da normatividade sexual e de gênero em São Paulo [resultados preliminares]

Anais XIII ENANPEGE, 2019

RESUMO Propomos neste trabalho refletir sobre metodologias cartográficas para a representação dos processos de produção de gênero e sexualidade. Nosso objeto de estudo é a espacialidade da violência às pessoas cujos corpos são dissidentes da normatividade sexual e de gênero. Por dissidência sexual e de gênero, entendemos as expressões não alinhadas aos papeis designados às pessoas cisgêneras (cuja identidade de gênero se referencia na designação feita no momento do nascimento e pautada na interpretação dos órgãos genitais, ou pênis=homem=masculinidade e vagina=mulher=feminilidade) e heterossexuais (atração pelo gênero oposto, em uma apreensão binária do gênero). Entendemos que o espaço geográfico, enquanto uma dimensão da sociedade, diz respeito "ao conjunto de relações que a distância estabelece entre diferentes realidades" (LÉVY; LUSSAULT, 2003). Componente dessas relações é também o gênero e a sexualidade, enquanto agenciamentos performativos (BUTLER, 2017), porque a produção de espaço, principalmente do espaço urbano, é parte do processo de disciplinarização dos corpos, portanto, de produção também de gênero e sexualidade (FOUCAULT, 2018; PRECIADO, 2010). Da mesma forma, a violência, principalmente a violência contra as dissidências sociais (MBEMBE, 2018; VALENCIA, 2010), é composto e componente do espaço geográfico. Assim, pensar a espacialidade da violência às dissidências sexuais e de gênero é fundamental para pensar o espaço. A partir dos dados dos boletins de ocorrência, da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, construímos mapas que mostram a distribuição e o peso espacial das agressões físicas e/ou verbais no município de São Paulo, entre 2008 e 2017. Não nos limitamos às representações com fundo de mapa euclidiano, a fim de construir um repertório mais amplo das possibilidades de representação do fenômeno, fugir da naturalização dessa métrica no mapa e acompanhar as discussões atuais sobre a noção de espaço relativo e relacional (FONSECA, 2007). Em um segundo momento, apresentamos esses mapas para alguns interlocutores, a fim de verificar o que os boletins não puderam nos mostrar. Nesse diálogo, propusemos a construção de mapas mentais da cidade a partir da percepção de segurança e insegurança em relação aos corpos das pessoas entrevistadas, levando em consideração uma abordagem interseccional. Procuramos não apenas aproximar a investigação científica das pessoas que compõem nosso objeto, mas construir coletivamente um olhar sobre a violência e sobre a cidade. Por fim, apresentamos caminhos para a identificação de formas espaciais elementares (coremas) nos mapas mentais e nas entrevistas, com o auxílio da modelização gráfica e do Iramuteq, um software para análise textual. Concluímos que os caminhos percorridos na pesquisa e apresentados aqui nos trazem elementos positivos para pensar como pode ser feito um trabalho cartográfico em uma temática que envolve não apenas dados objetivos, mas também a subjetividade das pessoas. Palavras-chave: cartografia, mapa mental, violência, gênero, sexualidade

Proposta de cartografia queer a partir do mapeamento da violência aos corpos dissidentes das normas sexuais e de gênero em São Paulo

Dissertação de mestrado, 2019

Propomos aqui um olhar a partir da geografia para a violência aos corpos que não se encaixam nas normas sexuais e de gênero baseadas na heterossexualidade e na cisgeneridade. A cartografia é usada neste trabalho como uma linguagem orientadora no processo investigativo. Nosso objetivo é discutir metodologias cartográficas que possibilitem apreender a produção das espacialidades das pessoas com as quais trabalhamos a partir da interseção com o gênero, a sexualidade e a violência. Estruturamos a dissertação em duas grandes partes: discussão teórica a partir de referências geográficas e de estudos de gênero e sexualidade colocamos em diálogo Milton Santos e Paul B. Preciado a fim de pensar em uma outra abordagem geográfica que procure o papel do gênero e da sexualidade na produção do espaço, e que chamamos aqui de geografia contrassexual; em seguida, trazemos as discussões recentes acerca do mapa, as novas possibilidades e a defesa de uma cartografia que esteja em diálogo com as discussões sobre o espaço geográfico e não sirva como simples ilustração no texto a partir disso, pensamos em cartografia queer quando nos propomos a desconstruir o mapa a fim de encontrar nele meios para a representação de processos subjetivos na produção das espacialidades marcadas por gênero e sexualidade. Para construir os mapas, trabalhos com dados dos boletins de ocorrência registrados em delegacias do município de São Paulo de 2008 a 2017. Representamos esses dados em mapas de fundo euclidiano, mapa modelo, anamorfoses e anti-anamorfoses. Apresentamos um perfil das vítimas e dos autores dessa violência a partir do nosso recorte espaço-temporal e realizamos uma comparação com a percepção das pessoas acerca da violência e também dos mapas que produzimos. A fim de apreender outro ponto de vista sobre a violência, trabalhamos com mapas mentais e entrevistas com 19 pessoas sobre sua percepção da violência na cidade em relação à sua identidade. Nossas entrevistas foram constituídas também por um roteiro semi estruturado, analisado aqui em diálogo com nossas referências teóricas e também com o auxílio de um software de análise estatística textual. Por fim, mostramos que o mapa pode ter um papel ativo na investigação científica em geografia, levantando hipóteses e construindo narrativas. Também mostramos que esse mapa não precisa se limitar à métrica euclidiana, sendo possível trabalhar outras métricas espaciais que se fazem presentes com o espaço geográfico atual.

GEOGRAFIA DO CRIME E TERRITÓRIOS URBANOS: uma análise da expansão da violência urbana a partir da territorialização de gangues na cidade de Igarapé-Miri/PA

TCC JOSENILDO BARRETO DE OLIVEIRA, 2018

Nesta pesquisa abordam-se os motivos que levaram ao surgimento e estruturação dos grupos de gangues na cidade de Igarapé-Miri e como suas ações influenciam o cotidiano dos residentes locais. Entender a problemática da atuação de gangues e a crescente onda de criminalidade na cidade perpassa pelo estudo do surgimento de territórios urbanos e de como estes foram cooptados e são controlados por diversos grupos, portanto, esta pesquisa evidência que a crescente onda de criminalidade está atrelada a grupos de pessoas territorializadas que utilizam tanto o caráter simbólico/cultural, quanto o político/econômico de seus territórios para afetar, influenciar e controlar áreas citadinas, assim como as ações dos residentes locais. O objetivo desta pesquisa foi analisar os processos territoriais de expansão das diversas formas de violência na cidade de Igarapé-Miri a partir da criminalidade relacionada à atuação de gangues locais, apontando as causas que favoreceram e favorecem a violência no contexto social da cidade. Os procedimentos metodológicos adotados foram: a abordagem qualitativa através do estudo de caso com aplicação de questionário semiestruturado com perguntas abertas e fechadas com a participação de dezesseis pessoas em dois territórios de gangue (Cinco Bocas e Padre Emílio); entrevistas semiestruturada com autoridades policiais, direção escolar, um membro de gangue e um ex-membro de gangue. Assim, este trabalho é de suma importância para se obter uma compreensão de como a violência urbana vem se desenvolvendo em quase duas décadas (2000-2017) na cidade de Igarapé-Miri/PA. Sobre os grupos de gangues, constatou-se que surgiram a partir de conflitos entre grupos de frequentadores em festas e se espalharam para outras áreas da cidade, além disso, verificou-se que o sentimento de vingança, as relações familiares e o tráfico de drogas e armas contribuíram para a estruturação das gangues, assim como para a cooptação de membros. Constatou-se também que outros elementos contribuem para a criminalidade na cidade, como o pequeno efetivo policial, a falta de estrutura para a atuação destes agentes, a infraestrutura precária em áreas da cidade, o desemprego, a falta de projetos sociais principalmente para os jovens, entre outros fatores. O resultado da pesquisa sobre a atuação de grupos de gangues foi à constatação de que as ações em quase duas décadas (2000-2017) influenciaram negativamente o cotidiano local, através de conflitos armados entre os grupos, assaltos, lei do silêncio, mortes e intimidação, retirando da população o direito de usufruir livremente de todos os espaços da cidade. Palavras-Chaves: Gangues; Territórios urbanos; Criminalidade.

Segregação urbana e distribuição da violência: Homicídios georreferenciados no município do Rio de Janeiro

2010

Este artigo e uma tentativa de identificar algumas das causas do elevado numero de mortes violentas na cidade do Rio de Janeiro entre 2002 e 2006 por meio da analise dos dados georreferenciados das vitimas de homicidios. O texto comprova a existencia de padroes de distribuicao das mortes no territorio que delatam o aprofundamento da segregacao social das populacoes das favelas mais populosas e dos bairros mais pobres, sendo os principais afetados pela concentracao de vitimas, alem da concentracao do numero de civis mortos pela policia nessas areas, tornando os territorios de pobreza locais onde a cidadania e escassa e nao se cumpre com os direitos humanos fundamentais de respeito a vida e a seguranca. The article Urban Segregation and the Distribution of Violence: Georeferenced Murders in Rio de Janeiro represents an attempt to identify some of the causes of the high number of violent deaths in the city of Rio de Janeiro between 2002 and 2006, by means of georeferenced data analysis...

A dimensão política do assédio sexual de rua: aplicativos de mapeamento como iniciativas de cidade inteligente

Estudos Semióticos

Os aplicativos de mapeamento de assédio sexual de rua, que permitem a sinalização, em um mapa colaborativo, de locais de ocorrência de assédio, podem ser entendidos, à primeira vista, como iniciativas de cidade inteligente. Por meio dessas iniciativas, a população e outras instâncias sociais ajudariam o poder público a resolver os problemas citadinos. Tais aplicativos, então, colaborariam para o combate ao assédio sexual de rua e, consequentemente, melhorariam as condições de mobilidade urbana feminina. Analisando os sentidos produzidos pelos textos dos aplicativos, é possível considerá-los como iniciativas de cidade inteligente? Mais especificamente, seu fazer discursivo proporciona a dimensão política adequada para transformar a narrativa do assédio, promovendo uma vida urbana com mais cidadania para as mulheres? Para responder essas questões, analisamos neste artigo quatro aplicativos de mapeamento de assédio sexual de rua, tomando por base os conceitos canônicos da semiótica dis...

MAPAS, FOTOGRAFIAS, TERRITÓRIOS E CORPOS: Refletindo sobre violência a partir dos estudos de gênero

Iluminuras, 2022

Resumo Neste artigo, partimos da análise imagética que Anne McClintock realiza sobre o mapa retratado em "As minas do rei Salomão" para refletir sobre desafios ético-políticometodológicos inerentes aos debates que atravessam atuações acadêmicas feministas e antirracistas. Na primeira parte do texto, contextualizamos a relevância da obra em nosso fazer acadêmico a partir de uma experiência comumuma disciplina eletiva de Antropologia (IFCH/Unicamp) sobre territórios e corpos em contextos de violência, ressaltando a impossibilidade de trabalhar temas como urbanização, criminalização, encarceramento, necropolítica sem estabelecer as devidas conexões com a produção do campo de estudos de gênero. Na segunda parte, evidenciamos os impactos da proposta analítica de McClintock através de uma experimentação envolvendo projeção, fotografia e artes visuais. Palavras-chave: territórios; corpos; artes visuais; estudos de gênero; violências.