Possibilidades de Tecnologias Sociais a partir das Ações de Catadores de Materiais Recicláveis (original) (raw)

2014

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010, prevê que os governos dêem prerrogativas para a construção de um plano para gerenciar resíduos. Uma vez que o ano de 2014 foi definido como prazo final para que os planos estejam aprovados e em andamento, pode-se perceber em notícias, artigos jornalísticos, artigos científicos, dentre outras fontes, interesses múltiplos nos processos públicos de gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Muitas divergências emergem dos processos de participação estabelecidos nos mecanismos democráticos de decisões, tais como fóruns e conferências, onde diversos atores são chamados a deliberar sobre temas públicos, dentre eles, o Movimento Nacional dos Catadores Materiais Recicláveis (MNCR). A partir desse panorama, desenvolveu-se este ensaio guiado pelo seguinte questionamento: as ações desenvolvidas pelos/as catadores/as de materiais recicláveis podem ser entendidas como práticas que levem ao desenvolvimento de tecnologias sociais como enuncia o Pensamento Latino-Americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PLACTS) e a Teoria Crítica da Tecnologia? A reflexão em torno desse questionamento partiu do tema gerador Tecnologias Sociais (TS), bem como dos exemplos apresentados por Hernán Thomas, na abertura do Simpósio Internacional Ciência, Tecnologia e Sociedade e a Produção de Conhecimento na Universidade - Estudos CTS - Ciclo II 2013. Como participantes desse Simpósio, também tivemos como tarefa a definição de um ator, ou melhor, um grupo relevante (GR) que apresentasse características de uma Adequação Sociotécnica (AST). O diálogo sugeriu como Grupo Relevante o Movimento Nacional de Catadores de Resíduos Sólidos (MNCR) por sua trajetória de luta pela organização em cooperativas de catadores/as de rua ou que atuam em lixões e galpões de triagem em todo o país. Vale destacar que, na medida em que aprofundávamos os estudos e diálogos sobre o tema, tivemos a oportunidade de dialogar com catadores/as no 12º Festival Lixo e Cidadania, realizado entre os dias 28 e 31 de outubro de 2013, e posteriormente foi realizada, via correio eletrônico uma entrevista com um dos representantes do MNCR, Alexandro Cardoso. Neste conteúdo, consideramos como apoio teórico sobre o tema, uma seleção de textos sobre tecnologia social, em especial, a síntese histórica do PLACTS e o marco analítico-conceitual elaborado por pensadores como Thomas, Dagnino, Neder, Feenberg, Bazzo, divulgados pela Fundação Banco do Brasil (FBB, 2004), pelo Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina (OBMTS, 2010, 2011, 2012, 2013) e pela Universidade Nacional de Quilmes, bem como outras leituras resultantes de pesquisa a respeito dos resíduos sólidos no Brasil.