Jidi Majia e José Luís Peixoto: encontros poéticos intermediados pela tradução (original) (raw)
2021, Actas do 5º Fórum internacional do ensino de língua portuguesa na China, Zhang Yunfeng e Caio César Christiano (coord.), IPM, Macau, China, pp. 75-86. ISBN: 978-99965-2-262-8.
Resumo: Se seguirmos a definição dada por José Luís Peixoto, ao afirmar que traduzir é como carregar uma taça cheia de água de um lugar para outro, podemos perguntar-nos quantas gotas da poesia de Jidi Majia chegaram ao seu destino na tradução que o próprio propôs para a coletânea de poemas Palavras de fogo. Interessa-nos, por isso, em primeiro lugar neste trabalho perceber as motivações que levaram o autor português, não dominando o mandarim, a realizar a tradução de um poeta chinês da etnia Yi. Nas palavras dos dois autores, aquando da passagem pelo festival literário Rota das Letras de 2019, em Macau, a poesia e a sua tradução permitem aproximar duas culturas que, embora sejam distantes, se aproximam pelas temáticas literárias e pelas preocupações universalistas dos seus autores. Este trabalho pretende também abordar as pontes temáticas estabelecidas entre as obras dos dois autores, nomeadamente questões ligadas à memória, à transmissão de conhecimentos e valores, à relação do sujeito poético com o local das suas origens, mas também ao posicionamento do Eu no mundo. Para um escritor que sabemos privilegiar os universos da escrita de si e, nomeadamente, os espaços da infância em geral e a aldeia de Galveias em particular, como é o caso de Peixoto, é interessante analisar como o sentimento de pertença do autor influencia a tradução de poemas que retratam um espaço geográfico tão distante do Alentejo. A poesia apresenta-se assim como o laço que permite ligar a China de Jidi Majia e, nomeadamente, as tradições da minoria étnica Yi ao mundo rural alentejano descrito por Peixoto nas suas obras.