A hegemonia cultural do PCP e o «esquerdismo» entre 1968 e 1974 (original) (raw)
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Portugal 1974/75: uma revolução impossível? Uma nota histórica sobre o PCP e a revolução portuguesa
O PCP foi um dos primeiros partidos comunistas a participar em um governo na Europa Ocidental no pós-guerra. A presença de um partido comunista em governos europeus foi um tabu dos anos de guerra fria. Foi uma surpresa mundial quando Cunhal foi apresentado como ministro sem pasta – ministros sem pasta foram uma das muitas excentricidades da revolução portuguesa – no primeiro governo provisório liderado por Palma Carlos e Spínola. A estupefação foi ainda maior quando o PCP não somente permaneceu nos governos provisórios seguintes, como aumentou significativamente sua influência até a queda de Vasco Gonçalves em agosto de 1975. A repercussão do papel do PCP continuou crescendo porque, a partir do V governo provisório, no verão quente de 1975, Cunhal foi acusado pelo Partido Socialista, dirigido por Mário Soares, de estar tramando um “golpe de Praga”, ou seja, uma insurreição para tomar o poder. Soares desafiou a hegemonia da mobilização de ruas que, até então, o PCP detinha, levando centenas de milhares às ruas contra Vasco Gonçalves e, apoiado pela hierarquia da Igreja, pela embaixada americana, e pelos governos europeus, estimulando a divisão do MFA que se expressou através do “grupo dos nove”. Meses depois, quando o movimento militar dirigido por Ramalho Eanes, na madrugada de 25 de novembro de 1975, de fato, tomou pela força o poder – fazendo aquilo que denunciava que o PCP estaria preparando - Melo Antunes defendeu, inusitadamente, a participação do PCP na “estabilização democrática”, sublinhando, dramaticamente, que a democracia portuguesa seria impensável sem o PCP na legalidade, para deixar claro que o golpe não seria uma pinochetada, e que foi feito para evitar aquilo que, no calor daqueles dias, se interpretava como o perigo de uma guerra civil, e não para provocá-la. Admitiu, portanto, que o VI governo provisório e o Conselho da revolução estavam fazendo uma intervenção armada nos quartéis (um clássico auto-golpe), mas alegou que era em legítima defesa, para manter a legalidade, não para subvertê-la. Mas o que aconteceu no 25 de novembro foi muito diferente da versão que os vencedores quiseram fazer acreditar no calor dos acontecimentos, e ainda mais diferente do que a versão que, décadas depois, foi popularizada pelo Partido Socialista e Mario Soares, com apoio dos meios de comunicação para justificar o golpe militar.
Sindicatos, carisma e poder: o PTB de 1945 a 1965
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996. 190p, 1996
Todos os trabalhos acadêmicos que implicam anos de pesquisa acumulam débitos com várias pessoas e instituições. Este livro não foge à regra. Ainda que em curtas palavras, quero registrar meu reconhecimento àqueles que de alguma maneira me propiciaram as condições para que eu chegasse a este ponto. Sem estabelecer uma ordem de prioridades e de importância, vou mencioná-los e, se omissões houver, ficam por conta dos lapsos imperdoáveis da minha memória. No Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, onde trabalho há mais de duas décadas, pude me beneficiar de condições excepcionais para a investigação da recente história política brasileira. Na Universidade Federal Fluminense, instituição na qual ensino ciência política, pude contar com a compreensão de colegas, com estímulos e sugestões. No Iuperj, realizei meus estudos de pós-graduação e apresentei uma primeira versão deste trabalho como tese de doutorado. Meu reconhecimento e admiração aos professores desse instituto são notórios e só posso mais uma vez registrar a dívida que com eles acumulei em minha formação profissional. No ano letivo de 1 994/95, fui contemplada pela Comissão Fulbright, em convênio com a Capes, com uma bolsa de pós-doutorado junto à Universidade da Flórida, no Center for Latin American Studies. Este foi um período intelectualmente proveitoso, pois me permitiu, entre outras coisas, rever os originais do trabalho e dar-lhes uma segunda versão, mais adequada à publicação. Por intermédio dos professores Marco Antônio Rocha e Terry McCoy quero agradecer a essas instituições a oportunidade que me propiciaram. No campo das relações pessoais a lista também é extensa e por isso ficará incompleta. Amaury de Souza e José Murilo de Carvalho acompanharam esta pesquisa desde o início e sempre apresentaram sugestões criativas e inteligentes, que minha falta de talento e arte me impediu de melhor aproveitar. Leôncio Martins Rodrigues, Maria Victória de Mesquita Benevides e Ely Diniz também ofereceram importantes comentários, que me ajudaram a reescrever o trabalho original. Não poderia deixar de estender meus agradecimentos aos entrevistados mencionados neste livro. Foram, ao todo, muitas horas de gravação e de paciência por parte dessas pessoas, cuja compreensão me foi imprescindível. Meu reconhecimento também à presidência do STE em Brasília e aos funcionários de seu 7 arquivo, os quais me permitiram uma longa consulta aos papéis e registros oficiais do PTB. Para além da academia há portos seguros cimentados de afeto que tornam os momentos de criação intelectual mais agradáveis, ainda que por vezes sejam áridos e angustiantes. Nas horas espinhosas nunca me faltaram a palavra amiga da família e o sorriso dos filhos. Por isso mesmo este livro está sendo dedicado a Milton, Luana e Caetano.
Impressões de 1968: contracultura e identidades
RESUMO. O presente artigo realiza uma avaliação sintética das implicações dos acontecimentos de 1968, principalmente no que se refere ao movimento da contracultura e ao processo de formação de novas identidades. Procura apresentar como fatores históricos, políticos e culturais acabaram por suscitar, no contexto, uma recusa dos projetos em voga, uma descrença nas instituições, ampla oposição à indústria cultural e à sociedade do espetáculo, favorecendo a perspectiva de uma revolução comportamental e a politização da subjetividade. ABSTRACT. Impressions of 1968: counterculture and identities. This article presents a short appraisal of the implications of events related to 1968, particularly regarding the counterculture movement and the process of emergence of new identities. It addresses ways in which historical, political and cultural factors ultimately triggered a refusal of projects of that time, a disbelief in institutions, great opposition to the cultural industry and the society of spectacle, fostering the perspective of a behavioral revolution and rendering subjectivity political.
Hegemonia cultural em tempos de populismo
2020
O objetivo do ensaio e mostrar que a recente ascensao de liderancas populistas pelo mundo, em particular nos Estados Unidos e no Brasil, veio acompanhada de praticas culturais e de concepcoes esteticas que reforcam o kitsch e as atitudes violentas no plano simbolico. Assim como ocorreu com a ascensao da direita norte-americana nos anos 1980 com a eleicao de Ronald Reagan, o atual movimento de ultradireita busca, por meio da disputa da hegemonia cultural, anular as conquistas dos movimentos sociais ao atacar os direitos das minorias. O texto mostra ainda que, apesar do crescimento do poder desse discuro na arena politica, a disputa pela hegemonia no campo cultural nao e algo dado, pois ha uma forte reacao dos grupos de minoria.