LIVERANI, Mario. ANTIGO ORIENTE: HISTÓRIA, SOCIEDADE E ECONOMIA. Tradução de Ivan Esperança Rocha. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016 (original) (raw)

MARIO LIVERANI. ANTIGO ORIENTE: HISTÓRIA, SOCIEDADE E ECONOMIA - RESENHA

A pós mais de trinta anos das publicações específicas e de envergadura sobre o Oriente Próximo Antigo, em língua portuguesa, representadas pelos dois volumes de Paul Garelli e de Valentin Nikiprowetzky, traduzidos pelo professor Emanuel O. Oliveira, o clássico livro Antigo Oriente, História, Sociedade e Economia, de Mario Liverani cumpre o importante papel de atualizar e enriquecer os conhecimentos historiográficos sobre as civilizações do Antigo Oriente Próximo. O autor utiliza não apenas documentos sobejamente conhecidos, como os que integram parte da literatura clássica e antico-testamentária, mas inclui um conjunto de documentação primária trazida à luz por descobertas arqueológicas que, em muitos casos, contaram com sua participação direta, percorrendo três milênios (3500-500 a.C.) de uma história que deixa importantes traços na cultura ocidental. Liverani destaca que o surgimento de novas fontes acaba exigindo a revisão contínua de capítulos inteiros da história oriental e, naturalmente, com implicações historiográficas mais abrangentes. Liverani publicou, originalmente, seu livro em 1988, mas em suas numerosas reedições, particularmente na reedição de 2009, utilizada nesta tradução, preocupou-se em incorporar as modificações surgidas na interpretação das fontes, nas discussões e metodologias aplicadas ao conhecimento do Antigo Oriente Próximo.

A HISTÓRIA ANTIGA E O ORIENTALISMO

A História Antiga como objeto de estudo tem seu início ainda no século XII, como um movimento cultural e literário que objetivava a produção de memória a partir de textos e objetos que os habitantes de um mundo "antigo" e pré-cristão haviam deixado, que anteriormente não passavam de meros conhecimentos acumulados, mas que agora poderiam fornecer detalhes de um outro padrão de sociedade. A partir da queda de Constantinopla e da popularização da imprensa, a redescoberta de textos dessa época distante já começava a definir uma clara oposição entre a Europa cristã e o mundo islâmico. As ruínas e objetos da Antiguidade foram adquirindo novos significados, e o estudo da história antiga foi se tornando um ativo participante na propagação dos princípios iluministas e renascentistas, que causariam a profunda reconstrução de uma memória que passava agora a rejeitar o passado mais próximo da "Idade das Trevas" e os vizinhos mais próximos do "Oriente", em prol da idealização do ilustre e ocidentalizado passado greco-romano. Os primórdios da História como disciplina científica no século XVIII coincidem com o nascimento do estudo científico da antiguidade.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA COLEGIADO DOS CURSOS DE HISTÓRIA DISCIPLINA: HISTÓRIA ANTIGA DO ORIENTE EMENTA DA DISCIPLINA OBJETIVOS DA DISCIPLINA PROGRAMA

Estudos especiais em temáticas relevantes e complementares ao curso relativas às relações sociais e políticas, às mentalidades e culturas presentes no mundo antigo do Oriente Médio (civilizações egípcia, mesopotâmica, persa, fenícia, hebraica e outras) e do Extremo Oriente (civilizações indiana e chinesa). Discussão de temas pontuais e relevantes que se reinvestem de atualidade histórica. Estudo da historiografia sobre os temas. Objetivo Geral: compreender aspectos pontuais e relevantes – relativos à sociedade e à cultura material e simbólica, às mentalidades e instituições sociais e políticas – das civilizações antigas da Índia. Discutir a longa duração de suas significações filosófico-religiosas e sua atualidade para a compreensão do mundo contemporâneo, onde religião, cultura e política se mesclam opondo, muitas vezes, Ocidente e Oriente como pólos irreconciliáveis, cristalizando uma forma de construção do " outro " onde o Oriente é percebido ao mesmo tempo (ou alternadamente) como exótico e/ou bárbaro. Pensar em que medida a civilização hindu interpela a modernidade ocidental. Objetivos Específicos: as unidades que estruturam o curso buscam articular os seguintes eixos:-a contemporaneidade dos estudos sobre as civilizações antigas do Oriente, particularmente a Índia;-as várias dimensões (filosóficas, religiosas, sociais e políticas) da sociedade de castas e sua historicidade;-a coexistência e rivalidade (muitas vezes violenta) entre hinduísmo e islamismo na Índia;-o politeísmo religioso, seus desdobramentos filosóficos e políticos (instituições).

Resenha do Livro: ANTIFONTE. Testemunhos, fragmentos, discursos. Edição e Tradução de Luis Felipe Bellintani Ribeiro, São Paulo: Ed. Loyola, 2009, 255p.

A recente edição da tradução de textos de Antifonte organizada e traduzida por Luis Felipe Bellintani Ribeiro traz à tona a relevância e o interesse que a sofística antiga vem suscitando no cenário contemporâneo. Diferentes estudiosos se dedicam hoje a elaborar novas traduções e interpretações desses textos, que desde o séc. XIX vem conquistando mais espaço e disseminação nos estudos clássicos. No que cabe a Antifonte, desde a publicação dos Oxyrhynchus Papyri em 1898 por J. Hunt, um acalorado debate sobre o problema de sua identidade e sobre o teor filosófico implicado nas relações entre lei e natureza foi desencadeado. O trabalho de tradução de seus textos passa pela escolha e determinação de seu corpus, o qual se encontra polemizado na discussão entre unitaristas e separatistas da unidade da obra de Antifonte. Desde a comunicação de Croiset: Les nouveaux fragments d'Antiphon 1 na qual o autor refuta a divisão até então aceita entre os dois Antifontes, o problema volta a ser acolhido como eminentemente importante nos estudos sofísticos, salvo algumas posições como a de Guthrie 2 para quem tal problema é de ordem apenas "facultativa". A comunicação de Croiset se propõe a questionar as bases nas quais os argumentos a favor da divisão dos autores se assentam. Tais bases estariam nos escritos de Xenófanes, Hermógenes e Tucídides. Os argumentos mais fortes a favor da separação dos autores se 1 Comunicação realizada na 'Académie des Inscriptions' em outubro de 1916 e publicada na Revue des Études Grecques, Tomo XXX, 1917. Croiset analisa o que até então haviam sido as provas que atestam a separação entre um Antifonte sofista e outro orador, a saber, os textos de Xenofonte, Hermógenes e Tucídides.