Paul Auster, entre outros : sobre os limites da representação nas artes (original) (raw)
Paul Auster, um escritor norte-americano nascido em 1945, é poeta, romancista e tradutor. Sua obra literária, porém, esteve próxima às artes visuais desde suas primeiras publicações. Em A Invenção da Solidão, de 1982, uma narrativa ensaística e também livro de memórias, escreve-se sobre a morte do pai, sobre sua personalidade ausente, mas marcante, sobre a dificuldade de adentrar-sua vida interior‖, de conhecer o homem que desapareceu. Assim, Auster é atraído às fotos de família, que se constituem também como partes das memórias. Elas o ajudam a atravessar a solidão de recordare reinventarseu passado. Atuando como vestígios, permanecem no presente como-retratos de um homem invisível‖, seu pai. Em 1994, Auster começa sua carreira no cinema, a partir da escrita dos roteiros de Cortina de Fumaça e Sem Fôlego e da co-direção deste último filme, em 1995, com Wayne Wang. No primeiro, a fotografia transforma-se em hobby do personagem principal Auggie Wren, que registra momentos de seu dia a dia. Apesar de suas fotos serem muito similares, já que tiradas no mesmo local e horário, ele as vê como únicas, cada uma diferente de todas as outras. Para ele, como em Le Point de Vue 1 (MAGRITTE, 1927), cada imagem é um ponto de vista, mesmo que sua captura tenha se dado a partir do mesmo ângulo que todas as outras. A cena que a câmera registra, naquele fragmento de segundo em que é disparada, nunca mais se repetirá. Estes filmes, além disso, podem ser aproximados à obra de Orson Welles no cinema, como em Verdades e Mentiras (1973). A partir da relação entre elas, é possível identificar a presença do que Deleuze (2005) chama de falsário, que no caso do filme de Welles se esboça, por exemplo, no personagem do Cosmopolita Hipnotizador, uma espécie de ilusionista. Relaciona-se, ainda, ao cinema, à fotografia e à pintura a narrativa intitulada Viagens no Scriptorium (2007), de Auster. Porém o faz de formas diferentes. Nesse caso, trata-se de uma obra literária onde não há nenhuma foto visível ao leitor e nenhuma referência clara a pinturas conhecidas, como acontece em A Invenção da Solidão. Existem, porém, outros 1 O Ponto de Vista. Nesse quadro, veem-se quatro paisagens repetidas através de quadros como molduras ou lentes de uma câmera. A obra encontra-se desaparecida, segundo Carolina Junqueira dos Santos (2006).