Cine Real: etnografia de uma sala de cinema para trabalhadores (original) (raw)
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Cinefilia & gueto - Notas sobre uma (auto)etnografia em um cinemão paulistano
O Cine República é um cine pornô de pegação localizado no centro antigo de São Paulo, especificamente no “gueto”, um espaço tradicional de expressão de sexodissidências. Tal espaço tem passado por transformações ligadas a mudanças amplas na configuração de tais expressões; a emergência dos mercados GLS’s e os efeitos das militâncias políticas que a comunidade LGBT tem acumulado nas últimas décadas estão inseridas neste contexto. Busco neste artigo interpretar as operações empreendidas pelos frequentadores do Cine República – os cinéfilos – em relação à sociabilidade indoors e os aspectos materiais do mesmo. Buscarei também conectar essa interpretação da sociabilidade a amplos fenômenos inscritos no universo das sexodiversidades paulistanas urbanas – inclusive os referentes às transformações no gueto –, problematizando quando possível o papel do/a pesquisador/a. Assim, buscarei estabelecer um nexo entre a sociabilidade indoors e o mundo outdoors (re)contando uma história das sexodiversidades paulistanas do ponto de vista das práticas de pegação.
De casa em casa: sobre um encontro entre etnografia e cinema
Palavrão, 2011
Trata-se de uma edição de dois filmes e um texto. Portanto, um não vive sem o outro e só do encontro entre estas duas “peças” nasce o sentido do projeto. E o conceito de encontro é o que mais lhes convém, porque nem as imagens de João Pedro Rodrigues (JPR) partem das palavras de Filomena Silvano (FS) ou as usam, nem as palavras desta comentam as imagens daquele. A motivação de todo o projeto teve que ver com as questões da “deslocalização da cultura e com as formas de a dar a ver. Queríamos mostrar como é que os membros de uma família, de origem portuguesa mas em viagem constante entre duas aldeias de Trás-os-Montes e a cidade de Paris, constroem os seus próprios universos culturais e, consequentemente, as suas identidades. Nesse ano [refere-se a 1997] acompanhámos e filmámos o quotidiano da família nos percursos entre as suas duas casas de Paris e as casas dos pais de ambos em Trás-os-Montes. Entretanto foi-se desenhando, face ao desejo da família de visitar a Expo’98, um segundo projeto de filme, a rodar em Lisboa durante o verão de 1998” (p. 9). Se uma das premissas deste projeto é dar a ver os mecanismos da construção da identidade e da cultura, a outra é fazê-lo através do cinema, ou seja, não é um meio neutro e nem JPR um realizador qualquer. Ao longo do livro FS descreve com muita precisão e profundidade os problemas relacionados com os lugares da cultura (vistos da perspetiva do emigrante), as viagens à terra e o facto de o ser emigrante implicar um conjunto forte de traços característicos relacionados com o modo como cada um imagina ser a sua nação e o seu papel na construção dessa ideia, mas na introdução FS consegue, numa brilhante síntese, dar conta do modo como o cinema (sempre diferente do filme etnográfico) consegue levar vantagem sobre a escrita corrente da antropologia: “o João Pedro conseguiu aí ultrapassar o problema, tão frequente na escrita etnográfica e no filme documental, da ausência das pessoas. Nesse filme [refere- -se a “Esta é a minha casa”], aquilo que mais me impressionou foi a força, inequi- vocamente verdadeira, dos corpos de José e de Jacinta. Uma presença cuja existência é obviamente cinematográfica” (p. 11). E umas linhas mais à frente acrescenta: “... é como se os corpos contivessem, logo na sua primeira aparição, as verdades dos per- sonagens” (p. 11). E esta “verdade” dá o testemunho que a etnografia tradicional nunca poderia revelar, não só pelas limitações da escrita metodológica da etnografia, mas também porque a cena antropológica, ou seja, a identidade das pessoas, é composta por elementos mutantes e multissituados, ou seja, é feita de percursos. O cinema, através da montagem e do modo como faz aparecer simultaneamente elementos tão díspares, consegue mostrar esse movimento e permanente metamorfose. Nuno Crespo, recensão do livro publicada em : Etnográfica, vol. 17(3) (2013)
Filme etnográfico - relato de uma experiência
2019
Esta comunicação apresenta registros e reflexões sobre a realização de um filme etnográfico, produto final da disciplina Etnomusicologia e Filme Etnográfico, ministrada pela Prof.ª Érica Giesbrecht, no Institudo Villa-Lobos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Constam relatos dos processos de construção e recepção do filme, bem como diálogos com textos estudados em sala de aula no decorrer do semestre 2018/2. Objetiva-se, através de contextualização e análise de uma aplicação prática, contribuir para a construção de conhecimentos acerca desta promissora e rica abordagem etnomusicológica que é o filme etnográfico.
Entre luzes e penumbras - uma etnografia em cinemões
Este artigo tem como objetivo apresentar uma discussão sobre cinemas pornôs localizados na cidade de Goiânia, Goiás e frequentados por sujeitos que procuram por sexo com outros homens, enfocando os processos de constituição de identidades, corporalidades e subjetividades entre eles. A partir do método etnográfico, trago elementos empíricos para adensar tais discussões, a fim de indagar sobre os efeitos da existência desses estabelecimentos no que tange à produção de categorias identitárias e classificatórias relacionadas às homossexualidades, levando em consideração as dinâmicas e efeitos da segmentação do mercado de lazer e sociabilidade para esse público na cidade.
Algumas notas sobre a historia do cinema documentario etnográfico
Comunicación: revista Internacional de …, 2012
Este texto pretende ofrecer una breve historia del documentales etnográfico, desde sus inicios hasta la actualidad. Además, vamos a incursionar en el cine etnográfico en Brasil, el aumento de las producciones más influyentes. Desde este punto de vista histórico, hay una reflexión sobre el lenguaje audiovisual, estudiar conceptos como el documentales y la ficción, ethnofiction, la improvisación, funciones de la cámara, profilm y finalmente sus relaciones con la antropología y el método etnográfico.
O rosto e a vida da sala de cinema na Lisboa do século XX
No livro Os cinemas de Lisboa: um fenômeno do século XX, Margarida Acciaiuoli discorre sobre a relação entre os equipamentos coletivos de lazer cinematográficos e as configurações urbanas da capital portuguesa, sinalizando como a sala de exibição se engendrou nos processos de produção do espaço social e de sociabilidades da cidade, ao longo do século passado. Nossa resenha ressalta os aspectos levantados pela autora, no que concerne à trajetória do cinema como edifício-símbolo de um tempo moderno.