Celso Furtado, intérprete do Brasil (original) (raw)
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Celso Furtado, intérprete da dependência
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
O artigo examina os usos e os sentidos da ideia de dependência no pensamento de Celso Furtado. Para isso, realizamos breve reconstituição do contexto em que as obras e as ideias do autor foram produzidas e acompanhamos as diferentes dimensões da interação entre subdesenvolvimento e dependência na trajetória de Furtado.
Celso Furtado: um senhor brasileiro
2018
A leitura extensiva da obra de Celso Furtado era pratica generalizada entre os de minha geracao que circulavam nos meios de esquerda. Fomos muitos a atravessar, em estado de espirito aquelas fases pelas quais, se aceitarmos a caracterizacao pitoresca de Vera Alves Cepeda, haveria passado as suas analises desde o periodo imediatamente anterior ao golpe militar: uma fase otimista, antes do 1° de abril de 1964, seguida de uma fase de “pessimismo espantado” em que se especulava sobre a natureza politico-economica do novo regime e outra de “critica renitente”, quando este se firmara politicamente e propiciara um largo periodo de diversificacao e expansao economica, firmando as bases de uma nova economia agricola de exportacao, uma industrializacao ampliada, a renovacao do sistema financeiro, enfim, a partir do que foi denominado, pelo poder, o milagre economico brasileiro; e que moldou as formas contemporâneas de inclusao do pais na ordem economica internacional.
A expansão ultramarina se tratou não de uma expansão territorial oriunda de pressão demográfica e sim expansão impulsionada pelo Mercantilismo e a busca por novos mercados e produtos. O comercio interno europeu vinha crescendo intensivamente a partir do século XI. As invasões turcas estavam dificultando o comercio e a linhas de abastecimento de produtos pelo Mar Mediterrâneo. Com a descoberta do ouro nas civilizações antigas do México pela Espanha desperta na Europa um grande interesse pelas novas terras, a ocupação do território brasileiro foi fruto da pressão exercida pelos outros países europeus, que partiam da ideia que Espanha e Portugal só teriam direito as terras que tivessem ocupado de forma efetiva. Ao contrário do sucesso mineiro espanhol, Portugal não encontrou, em primeiro momento, metais preciosos nas novas terras, o que o levou a encontrar outra saída rentável para elas, antes que essas continuassem a ser invadidas. A exploração econômica das terras brasileiras parecia algo totalmente inviável. Portugal já possuía experiência na produção de açúcar, cuja demanda vinha aumentando em toda Europa, o clima tropical propiciava o cultivo da cana-de-açúcar, e quantidade disponível de terras férteis era grande. Havia entretanto um porém, precisava-se tornar viável a vinda de europeus para as novas terras para a instalação dessa empresa. O pagamento de transporte e salários aos trabalhares, e a distância entre a colônia e a metrópole tornaria essa indústria inviável economicamente. A falta de mão-de-obra era a principal dificuldade encontrada. A alternativa foi a tentativa de escravização da mão-de-obra nativa, o que a primeiro momento foi de grande importância, a importação de mão-de-obra escrava de origem africana começou a ser realizada após a instalação da indústria, e serviu para a expansão dessa empresa, pois esses povos já estavam acostumados à servidão, representavam uma mão-de-obra muito mais qualificada e rentável que os indígenas, os portugueses já possuíam um complexo conhecimento do mercado africano de escravos. Furtado diz que a empresa colonial espanhola, dominada pela exploração mineira determinou a decadência da economia da metrópole, e foi essa determinada exploração que permitiu o êxito de nossa indústria açucareira, pois se tivessem eles explorado sua s terras férteis e mais próximas da Europa o empreendimento português teria fracassado. Também responsáveis por esse êxito está a grande quantidade de terras férteis e o clima tropical propícios para o cultivo da cana, a mão-de-obra barata (uso de escravos africanos), e ao aliança estabelecida com a Holanda que possuía conhecimento tecnológico e relações comerciais. Os Flamengos eram responsáveis pela refinação e distribuição do açúcar ao restante da Europa, propiciou um abrangente mercado para o açúcar produzido na Colônia. O holandeses comandavam o comercio açucareiro no início do século XVII. Essa produção concentrava-se na Bahia, Pernambuco e São Vicente. Portugal encontrou na produção de cana-de-açúcar uma fonte de riqueza que garantia a manutenção de seus empreendimentos coloniais. Aproximadamente 20% do capital fixo era com o investido em mão-de-obra, e o escravo possuía uma vida útil de 8 anos. Não havia outro cultivo, a não ser o de subsistência feito pelos escravos. A cada dois anos a empresa açucareira era capaz de duplicar-se. A renda oriunda da indústria açucareira era destinada a compra de
A Dimensão internacional da obra de Celso Furtado
Revista de Ciências Sociais
Esse artigo tem como objetivo central considerar a obra do economista brasileiro Celso Furtado como um internacionalista. Através da análise de várias de suas obras, chegamos a conclusão de que questões abordadas por Furtado – a economia política mundial, desenvolvimento e subdesenvolvimento, a dinâmica do capitalismo, a ciência e tecnologia, os investimentos militares, a financeirização e as crises, inclusive a crise ambiental – são temas pertinentes e que tratam da natureza da economia política. A segunda parte do artigo introduz uma reflexão teórica sobre o por que da não existência de teorias não-Ocidentais nas relações internacionais? Para tanto, nos valemos das reflexões de autores, a exemplo de Amitab Acharya, Achille Mbembe, Partha Chaterjee entre outros que, ao lado de Celso Furtado, representam saberes e narrativas de maior diversidade e expressão cultural global.
Entrevista com o Professor Celso Furtado
Revista Economia Ensaios, 2009
A entrevista com o Professor Celso Furtado apresentada a seguir foi realizada em abril de 1996, em sua residência, em Paris. À época eu estava na França, escrevendo minha tese de Doutorado e, aproveitando a oportunidade, solicitei-lhe a realização de uma entrevista, no que fui prontamente atendido. Meu objetivo era ouvi-lo sobre a ação do Estado brasileiro no âmbito do planejamento econômico à luz da experiência da Sudene. Contudo, para minha satisfação, a conversa se estendeu, enveredando por temas e questões que em muito ultrapassavam meu objeto de pesquisa, privilegiando-me com uma aula de economia, mas também de Brasil, dessas aulas raras que se tem uma ou outra vez na vida. Uma aula sobre o meu país, focada sobretudo no Nordeste, onde, por adoção, tenho raízes muito fortes. O Professor Furtado falou então do Nordeste, seu Nordeste, essa mesma região que durante algum tempo me propus a estudar e que, em sua fala, se abria em uma roupagem diferente, muito mais rica em sua diversidade, muito mais interessante e complexa.
Celso Furtado e a Formação da Cultura Brasileira
Revista Eptic, 2012
Em tempos de resgate da contribuição de Celso Furtado sobre a cultura, este artigo analisa especificamente os argumentos e pressupostos de um pequeno texto publicado por ele sobre a formação da cultura brasileira, tecendo comparações e contrastes com autores que trataram do mesmo tema e com as linhas gerais da formação econômica do Brasil segundo o próprio Furtado.
Celso Furtado: homem, obra e caminho
Revista NUPEM, 2024
O objetivo principal deste ensaio foi homenagear – ainda que de forma breve e tardia – o economista e escritor Celso Furtado. Para isso, se fez um apanhado de sua biografia e atuação na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). A partir desses pontos, foram selecionadas informações sobre sua formação pessoal e preocupação social que se acredita ver revelada na presença de tal órgão estatal, em outras ações e também muito de sua produção. Além disso, se pretendeu rememorar os principais eventos que marcaram a trajetória do homenageado. Espera-se, assim, que a história de Furtado contribua para identificar seu papel no debate nacional que levou à inserção do tema da pobreza e do desenvolvimento na agenda da governança, a partir do ano de 1950.