Burguesia e pandemia: notas de conjuntura sobre neofascismo e ultraneoliberalismo no Brasil de Bolsonaro (original) (raw)
A morte foi solta, e nós fomos presos. Estamos presos. A cada dia, a cada hora, seu odor se torna mais intenso, porquanto mais próximo. Imparável, e mesmo desejado pelos sádicos do poder e da bolsa, seu espírito, o espírito da morte, torna-se carne, faz-se corpo, toma corpos e os leva ao mundo dos mortos, como se quisesse poupar muitos corações de um mundo sem coração, como se quisesse livrar logo muitas pessoas carentes dessa situação carente de vida, como se quisesse poupar de uma vez essas pobres almas de uma realidade social desalmada. Antes, só víamos a tragédia em parte, mas, com a pandemia, passamos a vê-la face a face. A agonia cresceu, pois começou a ser ladeada por cadáveres, ou ao menos pelas notícias deles. A morte mora ao lado, e por isso as portas foram fechadas. No seu íntimo, no seu imo, o capital, em sua mórbida fase ultraneoliberal, quer abri-las, de modo que o mercado, com ou sem modos, faça, a seu modo, o serviço, escolhendo, como Deus mundano que é, quem deve ou...