O Paradigma do Vazio Visual - A Edificação Heurística do Novo Mundo. (original) (raw)

A relação do homem com o mundo é fundamentalmente visual, vertigem que conduz o homem a esferas díspares de inusitada transcendência. Do ínfimo átomo, às rubras planicies de Marte, a imperiosa necessidade de compreender visualmente ilustra a imutável relação semiótica que o homem estabelece com o universo. Será a partir desta apropriação imagética, que o homem constroi e edifica uma cosmovisão plural, complexa e proficua. Os mecanismos de interpretação e filiação da realidade, dependem intrinsecamente dessa ligação directa ao mundo sensivel, sobretudo, da sua tradução em complexos filosofemas. Questionar a origem e a essencia da linguagem, constitui na óptica de Ernst Cassirer 1 , uma reflexão consciente sobre a totalidade do mundo, onde linguagem e ser, palavra e sentido constituem unidades inseparaveis. Segundo o filósofo, «O mundo da linguagem rodeia o homem no instante em que este dirige o seu olhar sobre ele, com a mesma certeza e necessidade e com a mesma "objectividade" com o qual está situado frente ao mundo das coisas» 2 . Deste ponto de vista, a lenta apropriação que o homem faz da natureza, edifica uma indiferenciação entre palavra e coisa, ou seja, a sua essência última está contida no nome lentamente consolidado ao longo da esfera temporal de apropriação cognoscente do mundo. Partindo deste pressuposto, a visão, directamente associada à humana capacidade de apropriação e interpretação do mundo sensivel, torna-se mecânica epistemólogica, constituindo por antinomia, todo o mundo não-visual, campo de elocubração metafisica por excelência. A esta mecânica epsitemologica, poder-se-á então atribuir uma das seminais e fundamentais conquistas do homem, a consciência clara entre centro e periferia. Se a apropriação objectiva do mundo, depende da fronteira visual que o homem alcança, ou seja, desta mundivisão estrutural, tudo o que se encontra para lá dessa barreira visual, torna-se obscuro, um fundo hipotético de elocubrações mitícas, um espaço sem referentes. Partindo desta premissa, analisemos as fronteiras visuais do velho mundo, desde sempre regida por duas antagónicas frentes: A oriente, o espaço mítico de onde regressam os reflexos Dionísiacos e Alexandrinos, território experimental de fusão entre 1 Cassirer Ernst Filosofia de las formas simbólicas [Livro]. P. 63. -México : Fondo de Cultura Económica, 1964. 2 Ibidem.