Arqueologia de um sambaqui em abrigo, Ilhabela-SP (original) (raw)

Salvaguarda do acervo arqueológico do Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr, S. J.” do Colégio Catarinense, Florianópolis, SC.

Revista Tecnologia e Ambiente, 2015

RESUMO Este artigo tem por objetivo divulgar os resultados obtidos na realização da primeira fase do "Projeto de Salvaguarda do Acervo Arqueológico do Museu do Homem do Sambaqui Pe. João Alfredo Rohr, S.J. do Colégio Catarinense em Florianópolis, SC". Apresentam-se os métodos de curadoria aplicados à coleção cerâmica do arqueólogo jesuíta Pe. João Alfredo Rohr. Palavras-chave: Cerâmica pré-histórica, Coleção Pe. Rohr, curadoria arqueológica. INTRODUÇÃO O Museu do Homem do Sambaqui "Pe. João Alfredo Rohr, S.J." do Colégio Catarinense (MHSCC), localizado no município de Florianópolis (SC), é conhecido pela sua importância no contexto da arqueologia brasileira, sendo considerado um dos mais importantes para atividades científicas, educativas e sociais do país. Seu acervo já foi objeto de inúmeras pesquisas realizadas, tendo papel relevante na preservação do patrimônio histórico e arqueológico de sociedades pretéritas. A preservação da cultura material, testemunho remanescente das sociedades que viveram muito antes do presente, objeto de estudo da arqueologia, só tem relevância de guarda num museu quando esses materiais são mantidos o mais próximo possível do estado físico original, preservando assim as informações para pesquisas futuras. O conhecimento relativo à preservação e conservação de acervos arqueológicos representa

Estudo arqueomalacológico do sambaqui sob rocha Casa de Pedra

Revista de Arqueologia

O ser humano altera o ambiente em sua volta desde os registros mais antigos e seus impactos ao longo da sua evolução. Dos impactos visíveis na paisagem causados por sociedades pretéritas, destacam-se os sambaquis. Dentre as regiões brasileiras com grandes agrupamentos de sambaquis, destaca-se a Baía Babitonga, uma formação estuarina no sul do Brasil com alto potencial conservacionista e interesse arqueológico. Nesta região, há um único sambaqui situado sob gruta e devido sua singularidade, buscou-se caracterizar os moluscos do Holoceno Tardio e compreender os padrões de exploração deste recurso pelos povos pré-coloniais. A escavação arqueológica no sambaqui resultou em 27 espécies (17.695 indivíduos), onde foi possível inferir as áreas de captação dos moluscos e suas funções e utilidades para estes povos.

O panorama da ocupação sambaquieira no arquipélago de Ilhabela, SP.

O município de Ilhabela, localizado na região insular do litoral norte do estado de São Paulo, nunca havia sido alvo de estudos voltados para o entendimento do panorama da ocupação sambaquieira, sendo considerado ausente de sambaquis, ou área de ocupação periférica. A realização de estudos de arqueologia da paisagem no arquipélago de Ilhabela resultou na localização de diversos sambaquis implantados a céu aberto ou associados a abrigos na Ilha de São Sebastião, na Ilha dos Búzios e na Ilha da Vitória. Os sambaquis dessa região são predominantemente de pequeno porte e alguns com feição muito terrosa, mas revelam a manutenção das práticas culturais tipicamente sambaquieiras como as já estabelecidas para o sul do país. As datações muito tardias dos sítios dessa região, principalmente aqueles localizados nas ilhas mais afastadas do continente, revelam que a região insular ofereceu condições para um estabelecimento sambaquieiro mais prolongado, enquanto que o continente contíguo guarda os sambaquis mais antigos, ainda que muitos tenham sido destruídos durante o período colonial conforme atestado por documentação do período. O final da presença sambaquieira em Ilhabela tem relação direta com a chegada de povos jês ao litoral, dominando e resignificando áreas de domínio e marcos paisagísticos sambaquieiros até mesmo nas ilhas mais distantes.

O estudo e conservação dos sambaquis em uma correspondência entre Pe. João Alfredo Rohr, S. J., e Luiz de Castro Faria (Florianópolis - Rio de Janeiro, agosto de 1960)

Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia IV (Rio de Janeiro, 2011), 2011

Em agosto de 1960, João Alfredo Rohr escreveu a Luiz de Castro Faria manifestando admiração por seu texto "O problema da proteção aos sambaquis", publicado pouco antes, mas inicialmente apresentado em 1952 como relatório ao Conselho Nacional de Pesquisas. Nesta mesma carta, Rohr também faz questão de afirmar que ele já fazia pesquisas com aquele tipo de jazida arqueológica como as que "O problema da proteção aos sambaquis" propunha que deveriam ser realizadas. Luiz de Castro Faria, antropólogo, ligado ao Museu Nacional desde 1936 e praticante da pesquisa arqueológica como um método de investigação antropológica, vinha estudando os sambaquis fazia ao menos duas décadas e se destacando na militância por sua preservação e sistemática investigação; também havia feito escavações nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. João Alfredo Rohr, padre jesuíta, então diretor do Colégio Catarinense, professor e responsável pelo Museu de História Natural desta instituição, estava interessado em tais vestígios pré-históricos desde antes de sua chegada a Florianópolis, em 1941. Ao lidar com este tema, ambos tratavam de questões referentes às relações entre o povoamento indígena antigo do território do Brasil meridional e o estudo etnográfico das populações contemporâneas que aí subsistem, e à conservação destes sítios diante da exploração da antiga indústria do chamado "cal de mariscos". O presente trabalho objetiva traçar uma genealogia da admiração e sinalização de convergência de propósitos manifestas na citada correspondência enviada por Rohr a Castro Faria, que viria a ser fundamento de uma futura colaboração profissional. Para fazer isto, faremos menção a como o padre jesuíta começou a desenvolver suas pesquisas arqueológicas de forma relativamente independente, e tomaremos como base a leitura de "O problema da proteção aos sambaquis" como texto que respondeu e incrementou algumas questões tratadas como pertinentes por Rohr em sua "Contribuição para a etnologia indígena do Estado de Santa Catarina", publicada dez anos antes.