Lavoura Arcaica Sob a Égide Do Tempo (original) (raw)
Resumo: A diferença entre o tempo linear do discurso do filho (narrador-personagem) em Lavoura arcaica (NASSAR, 1975) é um dos fatores fundamentais para o desmantelamento do discurso arcaico do pai. A conseqüência é a impossibilidade de recomeço ou reconciliação da história da narrativa. Esse processo é próprio de artifícios específicos da linguagem escrita. No texto estudado, o discurso do pai, enquanto discurso do imigrante, retoma os textos sagrados / arcaicos e o do filho dialoga com a escrita poética. Essa questão temporal é um dos principais fatores de ruptura na obra e vem de um artifício próprio da língua escrita. Investigamos como isto foi resolvido ou se foi possível resolvê-lo na tradução para o cinema. Palavras-Chave: Lavoura arcaica; literatura; cinema; tempo; sublime. Raduan Nassar é enquadrado no período de 1970 a 1980. A literatura desse período se aproximou muito do panfletarismo, estabelecendo estreita ligação entre a arte e a história. Mesmo tendo produzido duas de suas obras neste contexto, esse escritor ultrapassou a barreira do conteúdo pelo conteúdo, reencontrando-se com as outras tradições narrativas de natureza mais reflexiva, voltadas para a discussão dos problemas de foro íntimo do homem e, principalmente, recapturando o valor e a importância da linguagem. Entretanto, ao falar sobre o indivíduo, nunca deixou de tocar no social. Muitas vezes, as relações humanas comuns nada mais são do que células que constituem o todo do organismo social opressor (IANNI apud CADERNOS, 1996), funcionando, na obra literária, como hipônimos da sociedade de forma geral. Diz a crítica: A originalidade de Raduan Nassar, com relação a outros escritores de sua geração, consiste justamente nessa opção por um engajamento político mais amplo do que o recurso direto aos temas de um momento histórico preciso. Um engajamento no combate aos abusos de poder, em defesa da liberdade individual, numa forma de linguagem em que a arte não faz concessões à mensagem. Um engajamento radicalmente literário, e por isso mais eficaz e perene (PERRONE-MOISÈS, p. 69, 1996). A importância desse livro transcendeu o verbo da crítica especializada já num primeiro momento, para se materializar em premiações. Em 1976, Lavoura arcaica ganhou o