O impacto dos grupos de ajuda mútua no desenvovimento da esperança dos pais de crianças com doença crónica : construção de um modelo de intervenção colaborativa (original) (raw)
Os grupos de ajuda mútua promovem o suporte social de que os pais de crianças com doença crónica podem beneficiar quando os integram. As práticas e princípios de funcionamento destes grupos identificam e criam recursos na comunidade, de modo a apoiar os seus membros, pelo aumento dos níveis de iniciativa individual e valorização do apoio fornecido. Contudo, dada a escassez de estudos que relacionem a esperança nos pais de crianças com doença crónica e a intervenção em ajuda mútua, o cumprimento desta trajectória implicou processos de tomada de decisão interdisciplinar, complementares ao questionamento e reflexão das experiências de intervenção nos grupos de ajuda mútua. A interdisciplinaridade subjacente à intervenção grupal, emerge na perspectiva da amplificação de oportunidades de agir em mutualidade, no âmbito do desenvolvimento da esperança. Objectivos: Pretendemos explorar o impacto que a intervenção dos grupos de ajuda mútua tem no desenvolvimento da esperança dos pais de crianças com doença crónica; e construir um modelo de intervenção que vise o desenvolvimento da esperança, tendo em conta as práticas colaborativas que ocorrem nos grupos de ajuda mútua entre os técnicos e os pais de crianças com doença crónica. Metodologia: A investigação é de natureza qualitativa, utilizando-se como método o Inquérito Apreciativo. A população foi constituída por pais de crianças com doença crónica e técnicos, na área de influência da ARS de Lisboa e Vale do Tejo. A amostra populacional (não probabilística) foi distribuída pelas etapas do estudo. A recolha de dados contemplou para além da caracterização sócio-demográfica, e da entrevista com vista à obtenção de dados para a elaboração do ecomapa e do genograma de esperança; o cumprimento do protocolo da entrevista apreciativa; a observação participada nos grupos de ajuda mútua; e a discussão reflexiva com os técnicos (interlocutores/ stakeholders). Para o tratamento de dados obtidos, recorreu-se à estatística descritiva/indutiva e à estatística analítica. Resultados: Emergiu a co-construção de um modelo de intervenção em ajuda mútua promotor de esperança (MIAMPE). A partir da definição da matriz conceptual, pressupostos e princípios de intervenção, definiu-se a estrutura operativa pela integração de propostas gerais de intervenção, sendo descritas por rituais, duração, preparação do ambiente físico dos encontros, material de apoio e avaliação processual. Numa perspectiva de promoção da esperança nos pais de crianças com doença crónica, fez-se a adequação dos critérios de avaliação às opções de intervenção adicionais sugeridas, mediante a identificação dos factores promotores de esperança, esperança como factor de resiliência e factores de ameaça à esperança, enquanto recursos na intervenção. Além da descrição das actividades por cada proposta de intervenção, evidenciou-se a reflexão entre o modelo coconstruído e a sua aplicabilidade nos encontros dos grupos de ajuda mútua. Conclusão: A operacionalização de uma intervenção sistematizada nos grupos de ajuda mútua, permitiu a edificação de um modelo de intervenção co-construído com os interlocutores/stakeholders, a partir da identificação dos factores que influenciam as dimensões da esperança, fundamentados numa intervenção em ajuda mútua. Constituiu-se como um processo de discussão reflexiva em torno da conceptualização da esperança, ajuda mútua, partilha e subconceitos associados, tendo por base um referencial teórico apoiado numa revisão sistemática da literatura. A multidimensionalidade inerente ao conceito esperança, permitiu a explicitação de actividades conducentes à monitorização futura dos resultados, no âmbito da aprendizagem e análise das vivências promotoras de esperança dos pais de crianças com doença crónica; e tomada de decisões para a inclusão de propostas promotoras de esperança nos grupos de ajuda mútua, desenvolvendo simultaneamente uma relação horizontal entre os pais e técnicos-pais.