Catástrofe, memória e a mística judaica em Anselm Kiefer (original) (raw)


A partir da hipótese de que o cinema estaria apto a produzir uma escrita historiográfica própria, mediante seus recursos expressivos, este artigo investiga o lugar da diáspora africana na obra do realizador britânico John Akomfrah. À luz do cruzamento entre imagem e história formulado por Walter Benjamin, analiso os usos de imagens de arquivo que captam a experiência de membros das antigas colônias britânicas emigrados à Grã-Bretanha do pós-guerra no filme The Nine Muses (2010). Argumento que em Akomfrah os materiais de arquivo excedem a condição de registro circunscrito a dar testemunho do momento em que vieram a existir, revelando potências submersas na atualidade pós-colonial.

Versão revista e ampliada do capítulo 8 de 'Os rebeldes: Geração Beat e anarquismo místico' (L&PM, 2014)

Como parte da geração que foi chamada de “os cabalistas da contracultura”, Jerome Rothenberg contempla em sua poesia diferentes aspectos da tradição mística judaica da cabala. O foco deste trabalho é um exemplo, entre tantos, dessa tendência: o poema “Os Círculos de Abuláfia”. Publicado em 1979 e republicado em 1980, este poema longo nos traz três personagens judeus históricos: Abraão Abuláfia, Jacob Frank e Tristan Tzara. Tomados como personagens em uma aventura mística, a estrutura cíclica do poema nos apresenta a visão vertiginosa do amálgama feito por Rothenberg entre sagrado e profano e seu papel de ambos em sua poesia.

A arte de Leila Danziger é orientada pelas negociações entre memória e história, constantemente com referências ao judaísmo, à Shoah e à literatura. É principalmente aos arquivos, pessoais ou públicos, que a artista recorre para mencionar o indizível das grandes ou pequenas catástrofes. Dos arquivos de papéis, palavras e imagens se tornam material artístico, ora associados, ora solitários, por vezes apenas vestígios. Analisaremos aqui alguns trabalhos que aludem à memória da Shoah como a série Nomes próprios, e a presentificação dessa memória junto às catástrofes cotidianas brasileiras na série Diários públicos.

RESUMO: O escritor carioca Alberto Mussa é um dos mais importantes autores da Ficção Contemporânea Brasileira. Vencedor e finalista de diversas premiações literárias, sua obra já foi publicada em 17 países e traduzida para mais de 15 línguas. Dentre suas obras mais importantes, encontra-se o romance O enigma de Qaf, que se inspira na literatura e cultura árabes a fim de propor uma série de especulações a respeito do estatuto da memória e da representação ficcional. O presente artigo se propõe a empreender uma leitura geral do romance a partir de considerações sobre memória e representação romanesca. Deste modo, procura-se salientar por que O enigma de Qaf é considerado um romance que destoa das características gerais do panorama da prosa ficcional contemporânea brasileira, tanto em sua relação com as abordagens da memória, quanto em relação ao compromisso, por parte da obra analisada, com a especulação filosófica e linguística acerca do ficcional. PALAVRAS-CHAVE: Memória; Ficção Contemporânea Brasileira; Alberto Mussa; O enigma de Qaf. ABSTRACT: Alberto Mussa is one of the most important writers of Contemporary Brazilian Fiction. Winner and finalist of several literary awards, his work has already been published in 17 countries and translated into more than 15 languages. Among many of his important works, the novel O enigma de Qaf makes references to the Arabian culture and literature in order to propose a series of speculations regarding the status of memory and fictional representation. This paper aims at undertaking a general reading of the novel based in considerations of memory and romantic representation. Thus, O enigma de Qaf is considered a novel that distorts from the general characteristics of the Contemporary Brazilian Fiction narrative panorama when discussing the memory, but also in its relation to the commitment of the work analyzed with philosophical and linguistic speculation about the fictional.

As principais considerações acerca das técnicas da memória, expostas no decorrer do artigo, estão focalizadas no acento que concedem ao aparato moral institucional, responsável, em grande parte, pela decadência da cultura. A investigação aponta para a hipótese de que neste projeto nietzschiano mnemónico vigora uma aporia: a de permanecer na esfera da afirmação da técnica, ou seja, da afirmação de todos aqueles procedimentos e aparatos centrados no modo pelo qual algo se realiza. Se, por um lado, Nietzsche questiona todos os mecanismos técnicos, a saber àqueles relativos aos estabelecimentos de ensino por outro, ele não ultrapassa esta esfera, afirma a técnica através dos mecanismos do esquecimento, ao questionar as técnicas de memória. Diante disso, se pergunta: em que medida os escritos de Nietzsche inspiram uma reflexão profícua para pensar a técnica e sua aplicação à memória, de modo a alavancar a cultura, pela superação das tendências da pressa, da especialização e d...