A imagem de Portugal no contexto dos mapas peninsulares do século XVIII (original) (raw)

Construir e divulgar a imagem cartográfica de um país, mais do que um exercício de Poder, é um ato de soberania e de afirmação política. Estas terão sido as principais razões que levaram a Coroa portuguesa, na primeira metade do século XVI, a patrocinar o levantamento de um mapa do território nacional. Com a gravação em Veneza, em 1561, do mapa composto a partir do original de Fernando Álvaro(es) Seco, iniciava-se a primeira tentativa de fixação e divulgação da imagem de Portugal, processo que decorreu ao longo dos três séculos seguintes. A partir desta imagem, ou do seu protótipo manuscrito, outros mapas foram compostos nas décadas posteriores, principalmente por autores flamengos e holandeses, que assim perpetuaram por cerca de um século o desenho dos limites do Portugal peninsular. No entanto, no decorrer da Guerra da Restauração (1640-1668), no contexto, por um lado, de afirmação política, diplomática e militar da Casa de Bragança em Portugal e no estrangeiro, e por outro, da oposição movida pela Casa da Áustria em Espanha, aspirante à manutenção da hegemonia peninsular, duas novas imagens do país surgiram para substituir o mapa de Seco: em 1654, Nicolas Sanson d'Abbeville publicou, em Paris, um mapa de Portugal em duas folhas e, em 1662, foi editado, em Madrid, um mapa em várias folhas da autoria de Pedro Teixeira Albernaz, cartógrafo português ao serviço de Felipe IV. Estes dois mapas foram amplamente copiados por autores das mais diversas nacionalidades, que utilizavam estes documentos como matriz para a composição de "novas" imagens do conjunto de Portugal peninsular. Na segunda metade do século XVIII, dois mapas de Portugal de grandes dimensões, compostos por várias folhas, substituíram os anteriores, ainda que continuassem a incorporar inúmeros elementos obtidos diretamente a partir daquelas fontes cartográficas: o primeiro é o mapa editado em Londres por Thomas Jefferys, em 1762, e o segundo, o mapa de Tomás López, editado em Madrid, datado de 1778, e utilizados até à segunda metade do século XIX como imagens oficiais pelas autoridades portuguesas.