Uma poética da imanência: a escrita em Deleuze (original) (raw)

A imanência, apresentação de um roteiro de estudo sobre Gilles Deleuze

Trans/Form/Ação, 2005

O texto pretende mostrar um tipo de abordagem e de entrada no texto deleuziano. A partir do problema do fato da não existência de consenso no mundo da vida sentiu-se a necessidade de começar a pensar e formular um conceito de formas de vida. Escolheu-se, para isto, a idéia de plano de imanência e o conceito de multiplicidade virtual de Deleuze. Apresentamos, então, uma espécie de roteiro desse percurso. É o conceito de formas de vida, articulado e pensado a partir de Deleuze, a resposta ao problema da pluralidade e da diferença.

O legado de uma canção filosófica: uma hipótese interpretativa para A imanência: uma vida... de Gilles Deleuze

2019

O objetivo geral do presente artigo consiste em postular uma hipotese interpretativa para o texto de Gilles Deleuze, de 1995, intitulado de A imanencia: uma vida... Semelhante hipotese de leitura advoga que Deleuze apresenta dois propositos complementares, que podem ser compreendidos como o legado de uma cancao filosofica: 1 – a pretensao de investigar, filosoficamente, o tema da vida numa perspectiva imanente e transcendental; e 2 – explicitar a natureza das relacoes entre a nocao de “virtual” e o conceito de “vida impessoal”, ou seja, de “ uma vida”. Para desenvolver essa hipotese, este artigo esta dividido em tres momentos, os quais tratam do itinerario argumentativo de Deleuze em A imanencia: uma vida ..., destacando as relacoes que esse percurso pode estabelecer com suas obras anteriores. Do ponto de vista das conclusoes, enfatiza-se que “ uma vida” seja plasmada em meio a distribuicao virtual e nomade, que e produzida no paradoxo imanente entre a vida individual e a morte univ...

Estilo e repetição: Deleuze e algumas poéticas contemporâneas

Há um conceito bastante recorrente nos textos de teoria ou crítica literária que trazem alguma referência a Gilles Deleuze. Talvez mesmo quem não conheça sua filosofia já o tenha lido ou ouvido em algum lugar. Trata-se do conceito de "gagueira". No ensaio intitulado "Gaguejou...", no livro Crítica e clínica, Deleuze desenvolve mais pontualmente a ideia de uma gagueira criadora associada a alguns escritores -mas o termo aparece em outros lugares de suas obras também. E esses escritores, os tais "gagos", são, para ele, alguns dos mais inventivos. Poderíamos estranhar, à primeira vista, por que e como algo que é considerado um "desvio" no modo correto de falar é a tal ponto positivado na obra de Deleuze. A gagueira, que seria um "erro" no bem falar, uma deficiência ou um débito, é revertida ali em um procedimento de linguagem de certo modo intencional, ou até mesmo técnico, adotado por alguns escritores e poetas. A gagueira aparece, em Deleuze, como um procedimento de escrita desejado e desejável; um procedimento extremamente potente em termos criativos. À primeira vista, é possível este conceito causar um certo incômodo. Ele pode soar como uma espécie de capricho do filósofo, de exagero, tendo como objetivo "forçar a mão" para defender uma certa concepção de estilo liberto do peso da tradição -e da correção. Afinal, em sintonia com as propostas literárias do século XX, para Deleuze é fundamental que se desloque o conceito de estilo: ter estilo, em literatura, deixa de ser a qualidade de quem escreve corretamente, segundo as regras da gramática e da sintaxe. Ter estilo, após todas as experiências das vanguardas, aproxima-se muito mais de uma criação sintática do que de uma obediência à sintaxe da língua mãe. O estilo é antes de tudo uma subversão, uma transgressão às leis gramaticais, estando mais próximo do erro do que do acerto, do desvio do que da norma.

Deleuze e a imanência da consciência 1 Deleuze and the immanence of the consciousness

Rev. Interd. em Cult. e Soc. (RICS), 2019

RESUMO O presente trabalho busca apresentar, em linhas gerais, a crítica da filosofia da diferença de Gilles Deleuze à filosofia transcendental e à fenomenologia. Num primeiro momento, é apresentada a ilusão da anulação intensiva derivada dos processos de diferenciação da diferença, presente em Diferença e Repetição; em seguida, é mostrado como esse processo é solidário à desnaturação da imanência, a partir do confronto entre as concepções de sartreanas e deleuzianas do campo transcendental. Finalmente, a noção de plano de imanência-outro nome do campo transcendental deleuziano-oferece a imagem do pensamento em que sujeito e objeto não mais governam, mas, antes, devem ser constituídos. Palavras-chave: Deleuze. Desnaturação da diferença. Desnaturação da imanência. Consciência. ABSTRACT The present paper intends to introduce, in general terms, the criticism of Gilles Deleuze's philosophy of difference to the transcendental philosophy and to the phenomenology. Firstly, the illusion of the cancellation of intensive from process of differentiation of difference is presented, exposed in Difference and Repetition; then, it's shown how this process is sympathetic to the denaturation of the immanence, since of confrontation between the sartrian and deleuzian conceptions of the transcendental field. Lastly, the notion of plane of immanence-another name of the deleuzian transcendental field-gives the image of thought wherein subject and object don't rule anymore, but, first, they must be constituted. Keywords: Deleuze. Denaturation of difference. Denaturation of the immanence. Consciousness. 1 INTRODUÇÃO Para Deleuze, a filosofia transcendental e a fenomenologia partem de um sujeito e um objeto previamente formados, tempo e espaço já inteiramente construídos, e um campo transcendental cuja constituição não passaria de uma cláusula de estilo; trata-se, para ele, de pensar a sua gênese. Para isso, é necessário realizar uma dupla denúncia: a usurpação da identidade em relação à diferença, e da transcendência em relação à imanência. Essa usurpação se faz a partir de um processo que será descrito pormenorizadamente a seguir, qual seja, aquele da ilusão da anulação intensiva. Deleuze (1988, p. 224) reconhece em Kant o descobridor do "prodigioso domínio do transcendental", contudo, Kant ainda "define as condições transcendentais como puro a priori dado, sem ser capaz de considerar a gênese 1 Artigo submetido para avaliação em 14/10/2019 e aprovado em 15/12/2019.

Deleuze e a Escrita: entre a filosofia e a literatura

Vol. 45, N. 2, 2022

Esse ensaio buscará sondar as relações entre filosofia e literatura, no pensamento de Gilles Deleuze, a despeito de sua parceria conjunta com Félix Guattari, atentando tanto para as concepções de escrita expressas ao longo de sua obra quanto para o modo como essas concepções teriam influenciado o estilo de seus escritos filosóficos. Partindo da premissa deleuziana de que a escrita possui um acentuado lastro clínico, sendo a responsável pela elaboração de um diagnóstico das forças capazes de aprisionar ou calar a vida, procurar-se-á esmiuçar as ressonâncias desse lastro clínico, na concepção de filosofia como ato criativo, elaborada pelo autor. Como hipótese a ser aqui trabalhada, defende-se que a escrita deleuziana – compreendida como portadora de uma literalidade, conforme sustenta François Zourabchivili, ou como encrustada de uma poética imanentista, tal qual sugere Anita Costa Malufe – procuraria produzir uma zona de vizinhança ou indiscernibilidade entre a escrita filosófica, de caráter mais exegético, e a escrita literária, mais afectiva, de modo a produzir um deslocamento na relação do leitor com o ato de pensar.

Literatura e fabulação: Deleuze e a política da expressão

Polymatheia–Revista de Filosofia. Fortaleza, 2008

Multiplicando os possíveis sobre o plano da expressão, em condições materiais que impossibilitam qualquer mudança de outra ordem, escrever, falar, pensar são atos que devêm atos políticos fundamentais, para além das teorias do Estado e as doutrinas do consenso. Retomando a noção bergsoniana de fabulação para dar-lhe um sentido político, Deleuze não só restitui toda a sua potência à arte, mas ao mesmo tempo a liberta dos compromissos assumidos com as filosofias da história, fazendo da mesma um problema de saúde (da saúde de um indivíduo, de um povo, de uma cultura, como diria Nietzsche). Problema político da alma individual e coletiva, onde o artista, o escritor, o filósofo, clamam por um povo do qual têm necessidade, e em cuja expressão uma gente dispersa nas mais diversas condições de opressão pode chegar a encontrar um vínculo aglutinante ou uma linha de fuga. Considerando alguns dos principais casos no domínio da arte (Lawrence, Kafka, Klee), assim como a obra de alguns escritores latino-americanos (Borges, Piglia, Vargas Llosa), pretendemos pensar este conceito estético-político nas suas determinações formais e nas suas implicações materiais.

Plano de Imanência e Univocidade do Ser em Deleuze

DoisPontos, 2012

O texto pretende mostrar que, apesar de Deleuze dizer que a univocidade possui três grandes momentos na história da filosofia, Duns Scoto, Spinoza e Nietzsche, sua filosofia mesma constitui um momento contemporâneo nesta história. Será a idéia de plano de imanência a resposta propriamente deleuziana ao problema da oposição entre a analogia de proporção e a univocidade do ser na história da filosofia.

Pensar com a arte: a estética em Deleuze

Viso: cadernos de Estética aplicada, 2017

Pensar com a arte: a estética em Deleuze To think with art: aesthetics in Deleuze Veronica Damasceno RESUMO Trata-se, nesse artigo, de introduzir a maneira singular com a qual Deleuze interpela a arte. Para ele, a arte não precisa de uma reflexão sobre ela, mas sim de uma composição, tendo em vista a criação dos seres de sensação, do mesmo modo como as intercessões da filosofia com a arte possibilitam, na filosofia, a criação conceitual. Uma tal intercessão sugere, na filosofia, o abandono da imagem representativa do pensamento em prol de uma nova imagem e, na arte, a ruptura promovida pela arte moderna com a arte clássica e romântica. Essa investigação nos indica a presença de um campo intensivo e diferencial de forças subjacente a toda realidade formal e representativa, que se abre em direção as novas abstrações, informalismos e figurações. A imagem rizomática do pensamento rompe, pois, com os desenvolvimentos hierárquicos formais e com a preponderância das formações subjetivas do pensamento e abandona, tanto os postulados implícitos da arte clássica em seu afrontamento com o caos, quanto com aqueles da arte romântica ao pretender desvendar os desígnios da terra. À nova imagem da arte e da filosofia impõe-se a determinação de liberar as forças do cosmo reclamados pela modernidade e, sobretudo, pela arte contemporânea, enquanto afirmação dos devires. A intercessão arte-filosofia libera, pois, um campo intensivo de forças, de densidades, de virtualidades e de diferenças. Palavras chave: conceito, sensação, arte, devir, caos, composição ABSTRACT It is, in this article, to introduce the singular way in which Deleuze interposes art. For him, art does not need a reflection on it, but a composition, in view of the creation of beings of sensation, just as the intercessions of philosophy with art make possible, in philosophy, conceptual creation. Such an intercession suggests, in philosophy, the abandonment of the representative image of thought in favor of a new image and, in art, the rupture promoted by modern art with classical and romantic art. This investigation indicates to us the presence of an intensive and differential field of forces underlying all formal and representative reality, which opens in the direction of the new abstractions, informalisms and figurations. The rhizomatic image of thought breaks, therefore, with the formal hierarchical developments and with the preponderance of the subjective formations of thought and abandons both the implicit postulates of classical art in its confrontation with chaos and those of romantic art in attempting to reveal the designs of the earth. To the new image of art and philosophy it is imposed the determination to release the forces of the cosmos claimed by modernity and, above all, by contemporary art as an affirmation of becomings. The intercession of art and philosophy frees, therefore, an intensive field of forces, densities, virtualities and differences. Keywords: concept, sensation, art, becoming, chaos, composition