A Musa Calíope e a beleza do canto em Homero e em Hesíodo (original) (raw)

A Musa Calíope e a beleza do canto em Homero e em Hesíodo The Muse Calliope and the Beauty of Singing in Homer and in Hesiod

Nuntius Antiquus, 2019

Resumo: Retomando sucintamente o debate sobre o sentido da "inspiração divina" promovida pelas Musas na poesia hexamétrica grega, interpretamos o 'proêmio' da Teogonia de Hesíodo (versos 1-115). Partindo de um estudo de Teogonia, 26-28, desenvolvemos a interpretação sobre o emprego épico dos verbos kleío ("glorifico"), ainéo ("exalto", "aprovo") e hymnéo ("hineio") para, em seguida, concentrarmo-nos na relação da Musa Calíope com a compreensão homérica e hesiódica da linguagem política. Propomo-nos a destacar a função de Calíope como mensageira da temporalidade estabelecida pelo reinado olímpico de Zeus. Palavras-chave: Homero; Hesíodo; Musas; Calíope; realeza. Abstract: After succinctly reconsidering the debate on the meaning of the 'divine inspiration' furthered by the Muses in Greek hexametric poetry, we will interpret the "proem" of Hesiod's Theogony (lines 1-115). Beginning with a reflection on Theogony 26-28, we will develop an interpretation about the epic usage of the verbs kleiō ("I glorify"), ainéo ("I praise", "I approve") and hymnéo ("I sing a hymn") in order to concentrate on Calliope's relation with the Homeric and Hesiodic understanding of the political language. We will propose to highlight Calliope's role as a messenger of the temporality established by Zeus' Olympic reign.

A Musa e Homero

Organon

It is a work about some ideas which appear both in poems of Homero and Hesíodo: the statueof the poet, the poem and its public, considering the features of the greek poem since its origins. Thoeseideas will have essential importance in posterior theories.

O nome das musas: desocultação e presença no canto de Hesíodo

É próprio da mente pouco dada à indagação naturalizar seus costumes e meio como inerentes à condição humana, confundido o que lhe é dado pela cultura e civilização com aquilo que, supostamente, é dado pela natureza. Assim raciocinando, ela tece as coisas que a circundam para dentro de um espaço onde são irremovíveisa não ser pelo desvio ou pelo erro-e onde se presume que deveriam sempre ter estado e onde deverão para sempre permanecer, pois se encontram em seu devido lugar. Logo, ao deter sua atenção sobre a realidade, consegue apenas avistar o que lhe é diretamente referente, sem inteligir aquilo que não é referência ou analogia. Esta mente se encontra, em poucas palavras, desprovida do raciocínio critico e do labor investigativo.

Nymphê Calipso e seu duplo propósito na Odisseia de Homero

Resumo: Este artigo se propõe a analisar como a ninfa Calipso busca realizar seu duplo propósito: efetivar o ritual de nymphagôgia e ocultar os viajantes que passam por sua ilha. Compreende-se que, sendo uma deusa-nymphê, Calipso não se distancia do estatuto social das mulheres e busca, através de artifícios de sedução, alcançar seus objetivos. Todavia, as questões aparecem quando seu estatuto ontológico não dialoga com a existência dos ideais do herói épico. Résumé: Le présent article vise à analyser comme la nymphe Calypso recherche réaliser son double but: effectuer le rituel de la nymphagôgia et les voyageurs qui se cachent qui passent à leur île. Il est entendu que d'être une déesse-nymphe, Calypso est non loin du statut social des femmes et la recherche à travers des tours de séduction, à atteindre leurs objectifs. Cependant, apparaissent les problèmes lorsque son statut ontologique ne dialogue avec l'existence des idéaux du héros épique.

Musas e música nos planos epistêmicos da memória na Antiga Grécia

2016

O estudo aponta a importância da memoria nas indagacoes epistemicas da antiga cultura grega. Inicialmente, fala sobre a presenca da deusa Mnemosyne e suas lhas Musas no mito hesiodico e em seguida as estrategias mnemonicas para as competicoes e recitacoes poeticas. Depois, analisa as mudancas ocorridas com a introducao dos discursos fi losofi cos nos debates publicos e competicoes. Em seguida, aborda-se o lugar de Mnemosyne nos cultos orfi cos e a relacao do orfi smo pitagorico com o platonismo. Por fi m, comenta aspectos do texto aristotelico Sobre a memoria e a anamnese observando analogias entre a anamnese aristotelica e a descricao do melos na fi losofi a musical aristoxeniana.

Do «Ódio da Música» ao «Canto das Musas»

9º Seminário de Música Teoria Crítica e Comunicação - Grupo de Teoria Crítica e Comunicação - CESEM NOVA FCSH UNL, 2021

Entre O Ódio da Música, de Pascal Quignard, e O Canto das Musas, de Philippe Lacoue-Labarthe, encontro um pretexto para retomar o debate em torno da música e da representação. La haine de la musique assinala a relação de alguém que amou a música com os seus demónios mais bárbaros. Mas assinala também, secretamente, um eco do título que Georges Bataille, em 1947, dera à primeira edição do seu L’Impossible: La Haine de la Poésie. Este ódio — excesso estético, fruto de um interdito de representação total — será o pretexto para revisitar o motivo sublime do debate em torno da música e da representação: o episódio homérico das Sereias. Desdobrado por Quignard, vislumbrado por entre as páginas de Bataille, criticamente analisado por Adorno e Horkheimer (Dialética do Iluminismo), convoco a este conjunto as leituras de Philippe Lacoue-Labarthe, Maurice Blanchot (Le livre à venir) e Vincent Delecroix (Chanter. Reprendre la parole). O abismo mimético das Sereias encontra na figura e no Canto das Musas uma possível e dupla chave de leitura. Por um lado, permite ver no elemento arcaico, não apenas um impedimento civilizacional, mas a sua condição de alteridade como condição e possibilidade da linguagem — e, como tal, o seu impoder enquanto possibilidade e manutenção dessa civilização. Por outro lado, convida a que a música seja pensada necessariamente como forma de representação mimética, como linguagem.

Uma Menção a Homero na Ética Nicomaquéia III

Publicado em Fonseca, A.C.; Pohlmann, E.; Goldmeier, G. (eds.), Ética, Política e Esclarecimento Público -ensaios em homenagem a Nelson Boeira. Ed. Bestiário 2012, pp. 310-310) Ao concluir, na Ética Nicomaquéia III 5, o exame do objeto de deliberação, Aristóteles se pergunta quando o agente pára de deliberar e passa à ação. Ele escreve então que se pára de deliberar ao se ter o princípio da ação trazido a si próprio e à parte que comanda. O texto provocou já muita discussão, principalmente em torno do sentido a dar ao termo hêgoumenon da linha 1113a6. Meu interesse aqui, porém, é examinar a comparação que se segue, com a qual Aristóteles pretende ilustrar seu ponto: Isto fica também evidente pelas constituições antigas, que Homero cantou em poemas, pois os reis anunciavam ao povo o que haviam escolhido por deliberação. (EN III 5 1113a7-9) Surpreende inicialmente o apelo a instituições tão antigas, ainda que os versos de Homero fossem bem conhecidos pela maioria dos gregos -e certamente admirados. Por que Aristóteles recorre às instituições políticas dos tempos homéricos para ilustrar seu ponto sobre o momento de parar a deliberação e passar à ação? Em certo sentido, a surpresa poderia ser somente nossa. A expressão kai ek tôn archaiôn politeiôn pode ser entendida igualmente como "mesmo pelas constituições antigas": elas teriam sido evocadas menos como exemplares por excelência do que se quer exemplificar, mas antes pelo fato de até nelas um determinado fato se dar -um fato que elas realizariam assim minimamente, mas serviriam de exemplo na medida justamente em que não podiam deixar de o realizar, apesar de serem um caso fraco ou limite de sua realização. Esta leitura parece reforçar-se pelo fato de Aristóteles ter-se valido, nas linhas imediatamente precedentes, quando visava a distinguir entre o objeto de deliberação (bouleuton) e o objeto de escolha deliberada (prohaireton), de um vocabulário fortemente impregnado das práticas políticas de seu tempo. Ele escreve, pois, que o objeto de

Música e poesia na obra de Homero: novas perspectivas na análise da Ilíada e da Odisséia

História Questões & Debates, 2009

O objetivo deste artigo é analisar os elementos musicais que podem ser encontrados nas obras de Homero, produzidas no VIII século a. C., pois entendemos que a obra homérica apresenta uma linguagem musical específica que deve ser estudada junto com os aspectos poéticos pelos pesquisadores de temas ligados à Antigüidade Clássica.