CINTIA (original) (raw)

2022, Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade

Cíntia por Paulo Martins Cíntia é uma personagem do poeta elegíaco romano Propércio, que viveu entre 43 aEC e 17 EC, o que o posiciona entre os chamados poetas augustanos ou poetas da Época de Otávio Augusto. A poesia de Propércio é exclusivamente elegíaca, tendo como precursores, ora na poesia grega arcaica com Mimnermo de Colofon (630 aEC-600), ora na poesia helenística com o poeta e bibliotecário de Alexandria, Calímaco de Cirene (310 aEC-240), ora na poesia que o antecede em Roma, com os poetas novos (poetae noui) ou neotéricos, Catulo (84 aEC-57) e Cornélio Galo. A vertente elegíaca em Roma é, básica e não exclusivamente, erótica sem obviamente elidir sua vertente histórica, o lamento e seu viés etiológico, mas o que une esses autores, a saber, Galo, Catulo, Tibulo, Propércio e Ovídio é a construção de personagens femininas que servem como alvo de sua poesia, suas «amadas», respectivamente, Licóride, Lésbia, Délia, Cíntia e Corina. O século XIX as transformou, essas elaborações poéticas, essas mulheres, em personagens históricas dissimuladas por pseudônimos, crendo que o autor Apuleio (125 EC-170), no século subsequente, dissesse que fossem mesmo personagens históricas já que dizia que Catulo ocultava Clódia em Lésbia, Tícidas, Metela em Perila, Propércio, Hóstia em Cíntia e Tibulo, Plânia em Délia, um absoluto rumor (Apuleio. Apologia, 10). Queria, sim, Apuleio, autor formado na sofística, dizer que qualquer personagem dissimula alguém pelo simples fato de aquelas são verossímeis a essas, daí serem a expressão de um éthos.