O marxismo hegeliano e a nova leitura dialética da obra de Marx (original) (raw)

A Dialética e o Marxismo

Peço licença para começar por uma curiosa experiência vivida há muitos anos, em 1964, no IPM do ISEB. Interrogado por um coronel a respeito de uma palestra que eu havia feito sobre o marxismo, falei em dialética. Para a minha surpresa, o coronel explicou ao sargento datilógrafo: "A dialética é esse negócio que os comunas inventaram para dizer que uma coisa é, mas ao mesmo tempo não é"… No momento em que ouvi a explicação, por força da situação grotesca, achei-a apenas engraçada. Sinistra, porém cômica. Com o tempo, entretanto, comecei a reconhecer que havia alguma procedência naquela crítica rudemente formulada: de fato, com esse sentido a dialética tem sido -e continua sendo -usada com freqüência.

A Dialética Negativa No Jovem Marx: Uma Leitura Adorniana Da Crítica Ao Hegelianismo

Problemata, 2019

Resumo: Neste artigo são avaliadas algumas das continuidades e rupturas entre o hegelianismo e os primeiros trabalhos de Karl Marx. Intenta-se mostrar, contra a leitura althusseriana, que a crítica da dialética hegeliana empreendida nos Manuscritos de 1844 coloca Marx fora de qualquer marco antropocêntrico e de todo primado do sujeito. O recurso ao pensamento de Adorno permitirá precisar alguns elementos próprios de uma dialética negativa na abordagem juvenil marxiana. Essa releitura autoriza, também, a recuperação de certos traços dessa abordagem no contexto filosófico contemporâneo.

Materialismo e Dialéticas sem Aufhebung: Adorno, leitor de Marx; Marx, leitor de Hegel Materialism and Dialectics without Aufhebung: Adorno's reading of Marx and Marx's reading of Hegel

Resumo: Este artigo visa discutir os modelos de síntese pressupostos pela dialética negativa de Adorno através de aproximações de temáticas maiores da filosofia de Karl Marx. Isto nos permitirá qualificar melhor a natureza materialista da dialética negativa adorniana, abordando inclusive o impacto político de certas elaborações conceituais. Abstract: This article aims to discuss the models of synthesis presupposed by adornian negative dialectic. For it, we should evaluate the meaning of the close relations between Adorno and some themes from Karl Marx's philosophy. With this strategy in mind we can better qualify the materialistic nature of adornian negative dialectic, exposing through it the political impact of some conceptual productions.

O confronto de Marx e Hegel diante do legado neoplatônico da dialética

Na presente comunicação intenciona-se investigar algumas transformações que o método dialético sofre através da história da filosofia frente à dialética materialista proposta por Karl Marx em sua obra O Capital. O ponto de partida será o próprio método elaborado e aplicado nesta obra de Marx, para então proceder ao já conhecido confronto com a dialética especulativa de Hegel. Este confronto com a dialética hegeliana se voltará para a análise dos conceitos de unidade, identidade e contradição, avaliando como estes se articulam no plano geral tanto de Marx quanto de Hegel. A dialética hegeliana será, neste sentido, avaliada tendo como foco a unidade especulativa da ideia lógica com fundamento do sistema, na sua Ciência da Lógica; ao passo em que na dialética marxiana tem-se por fundamento a própria luta de classes na medida em que constitui-se como contradição histórica e logicamente originária a partir de onde emana todo o movimento do sistema, a identidade do capital em si mesmo sendo concebido no interior desta região antitética da luta de classes. Como resultado desta avaliação, busca-se apontar como ocorre a inversão que a dialética materialista almeja operar na dialética idealista hegeliana, reinterpretando o termo alemão para inversão: umstülpen. Uma vez identificado que o confronto entre Marx e Hegel compreende, principalmente, o papel que o conceito de unidade exerce no interior do movimento dialético (confronto de Marx contra uma dialética da identidade), com isso passaremos a investigar as procedências na tradição dialética da priorização do Uno (hén) enquanto fundamento dialético. Nesta investigação almejamos explorar a procedência neoplatônica desta dialética da identidade, onde a ontologia transforma-se em henologia, demonstrando-se ainda fiel ao monismo de cunho parmenidiano. Deste modo intenciona-se apontar as raízes na história da filosofia sobre o verdadeiro foco no qual derradeiramente se volta o confronto entre Hegel e Marx. Esta investigação possibilitará não somente um maior esclarecimento detalhado dos conceitos que circundam este confronto sempre revisitado, assim como nos levará a identificar neste confronto como Marx estava atingindo sua maior maturidade teórica sobre o assunto, obrigando seus intérpretes a realizar um verdadeiro retorno ao fundamento do próprio método dialético enquanto tal.

Dialética em Marx: uma perspectiva a partir de seus elementos centrais

Cadernos De Campo, 2012

Este artigo pretende analisar o método dialético desenvolvido por Karl Marx. Uma das maiores dificuldades ao estudar a concepção marxiana da dialética deve-se ao fato do autor não ter escrito uma obra específica acerca dessa temática. O objetivo é enfocar o método dialético de Marx a partir de duas análises principais. Primeiro, apontando a crítica e o reconhecimento à dialética hegeliana, com destaque para os aspectos que diferenciam o método marxiano do hegeliano. Em seguida, analisando a construção do método dialético marxiano a partir de seus elementos centrais (movimento perpétuo, historicidade, totalidade, contradição, determinação e materialismo histórico). A finalidade desta tarefa é compreender esse método a partir desses princípios explicativos, e não defini-lo de modo fechado e taxativo. Entretanto, é possível a tentativa de uma síntese-explicativa através da ideia do concreto real como ponto de partida e de chegada da dialética em Marx-considerada conjuntamente com seus princípios explicativos.

As novas leituras entre Hegel e Marx: a dialética sistemática e as homologias entre a lógica e o capital

Revista Princípios, 2024

O objeto do presente artigo compreende o debate sobre a relação entre as dialéticas hegeliana e marxiana, em especial a partir da perspectiva teórica apresentada pela “nova dialética”, também conhecida como “dialética sistemática”. A partir da chave de leitura proposta pela dialética sistemática e de comparações entre a Ciência da Lógica de Hegel e O Capital de Marx, o artigo tem por objetivo demonstrar que as dialéticas de Hegel e Marx possuem uma série de homologias e semelhanças e se desenvolvem sobre uma mesma estruturação lógica ordenada a partir da relação “universal-particular-singular”, o que, se por um lado, não deve conduzir a uma identificação absoluta de ambos os sistemas dialéticos, por outro, por óbvio, também não autoriza o total descolamento de uma de outra. Trata-se, na verdade, de evidenciar a necessidade de se ler Hegel a partir de Marx e Marx a partir de Hegel a fim de extrair das obras de ambos toda a potencialidade de seus sistemas dialéticos e superar falsos debates que propõem uma cisão entre esses autores a partir de rótulos reducionistas como “idealista” e “materialista”. O objetivo dessa reconstrução cruzada da obra de ambos os autores é demonstrar que a clássica contraposição entre um Hegel “idealista” e um Marx “materialista” é ou falsa, ou mistificadora, e que ambos devem ser lidos como momentos sucessivos de um mesmo “bloco sistemático-dialético”, pois é essa “leitura em bloco” que permite descortinar de forma acabada a crítica materialista de Marx à totalidade capitalista e todas as suas implicações para uma perspectiva política emancipatória.