Ucrânia: uma história inconveniente (original) (raw)
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Ucrânia, O Campo de Confronto Imperialista
O presente artigo analisa a crise ucraniana partindo do pressuposto de que a Ucrânia, desde a sua independência, tem sido vítima ou campo das disputas geopolíticas de dois impérios – o ocidental e o russo. Realça-se igualmente, que a razão desta condição de vítima da Ucrânia no contexto da crise resulta, por um lado, do sentimento russo de que a Ucrânia faz parte da sua esfera de influência natural, por causa da proximidade geográfica, histórica e identitária, por outro lado, resulta das ambições geopolíticas do ocidente como o alargamento da União Europeia e a expansão da Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN). O confronto entre os dois impérios foi tomando contornos complexos que desembocaram na revolução laranja em 2004, nos conflitos sobre o preço do gás natural entre 2006 e 2010, na adesão/ anexação da Crimeia em 2014 e na assinatura do Acordo de Livre Comércio e Cooperação Política em 2014. Todos estes acontecimentos puseram a Ucrânia em sucessivas crises e dilemas diante da pressão tanto do ocidente quanto da Rússia. No tocante ao futuro da Ucrânia o artigo apresenta quatro cenários dos quais o primeiro tem mais possibilidades de se materializar, dada a situação prevalecente na Ucrânia.
A Ucrânia e a União Euro-Asiatica
2013
A África Subsariana vem registando na última década progressos mais ou menos localizados e importantes no fortalecimento do Estado de direito, na melhoria da governação e nos processos de democratização, que conjuntamente com as oportunidades económicas são elementos decisivos para alcançar o desenvolvimento sustentável. Este artigo faz um ponto de situação relativamente aos progressos registados bem como aos riscos que enfrentam vários Estados da região em termos do nexo segurança e desenvolvimento. A recente indisponibilidade da Ucrânia na assinatura do Deep and Comprehensive Free Trade Agreement com a União Europeia, que na prática posicionaria o país numa fase de pré-adesão à organização, levantou naturalmente a questão do país, por esse facto, poder vir a aderir ao projeto da União Aduaneira, embrião da futura União Euro-asiática proposta pela Federação Russa. Encontrando-se atualmente a opinião pública ucraniana fortemente bipolarizada entre o projeto europeu e um incremento relacional com a Federação Russa, realidade que naturalmente se projeta na classe política, a decisão entretanto tomada não deverá contudo ser apenas perspetivada como decorrente exclusivamente da pressão russa nesse sentido, mas também como consequência do peso dos interesses nacionais ucranianos.
Conjuntura Austral, 2022
A presente guerra entre Rússia e Ucrânia aturdiu um grupo bastante representativo de acadêmicos e diplomatas ocidentais. Entretanto, frente à "inesperada" anexação da Crimeia, ocorrida em 2014, e o início do confronto no Donbass, tal postura seria no mínimo incauta. Esta análise de conjuntura tenta dar conta das origens do problema a partir da complexidade empírica da relação russo-ucraniana e da incapacidade teórica da disciplina de relações internacionais em perceber o círculo vicioso entre identidades e interesses, o qual foi fundamental para chegarmos à situação atual. Isso é feito por meio da interpretação de textos acadêmicos, matérias jornalísticas e documentos oficiais sobre a relação entre Ucrânia, Rússia e a OTAN, à luz da importância das identidades estatais dos atores como causa para o conflito. À guisa de conclusão, sugere-se que a alternativa mais adequada para cessar a violência imediatamente seria a declaração unilateral da OTAN de uma moratória ao ingresso de novos membros, por um prazo bastante estendido, e o comprometimento de se iniciarem negociações sobre um estatuto de neutralidade militar da Ucrânia.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia - lições ecumênicas
Caminhos de Diálogo, 2022
A invasão russa à Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022 e a guerra dela decorrente continua até hoje, porém tem raízes mais profundas. Estas ficaram especialmente visíveis ao redor do chamado Euromaidan, em 2014, e a subsequente anexação da Crimeia por tropas russas. Mais do que naquela vez, ficou visível a atuação tímida, se não diretamente apoiadora, da Igreja ortodoxa russa em relação às agressões promovidas pelo presidente russo, Vladimir Putin, em 2022. A partir de análise bibliográfica e documental, privilegiando vozes enraizadas no Oriente europeu e com conhecimento profundo de causa, além de documentos recentes de críticos à guerra e do Conselho Mundial de Igrejas, em sua reunião do Comitê Central, em junho de 2022, e sua XI assembleia realizada em Karlsruhe, Alemanha, em setembro do mesmo ano, destaca-se a necessidade de manter juntos crítica profética e diálogo ecumênico, o qual, contudo, não deve ser confundido com leniência ou harmonia romântica.
Na poeira dos incidentes de Ferguson, no Missouri, decorrentes do assassinato Michel Brown e na angústia da incompreensão da decapitação dos jornalistas e cidadãos americanos James Foley e Steven Sotloff no Oriente Médio pelo grupo Estado Islâmico, o presidente Barack Obama atravessou o Atlântico para participar, nos dias 4 e 5 de setembro de 2014, da Cúpula da OTAN no País de Gales, no Reino Unido. No centro da discussão reside a definição do destino do dossiê ucraniano; dossiê que, por sua vez, implica todas as lideranças internacionais verdadeiramente ativas e atuantes nos dias que correm.
Ucrânia: dois anos de guerra (2024)
Le Monde Diplomatique, 2024
A guerra na Ucrânia tornou-se uma alavanca geopolítica que parece apontar para "o retorno da nação" na agenda do imaginário político.
O que está por trás da guerra na Ucrânia
Tri Continental, 2022
Trata de crise internacional de pugnas hegemônicas e sua dramática irrupção bélica na Ucrânia. Analisa as causas e responsabilidades desta guerra e suas possíveis consequências para a arquitetura internacional
A Situação Pós Comunista: Rússia x Ucrânia
Em 2020 fiz o texto chamado Orientações Marxistas. 1 Nele, toquei em um pouco que nos coloca na atual realidade entre Rússia x Ucrânia. Quem são os oligarcas russos? Por que a Rússia se adaptou bem ao modo de ser capitalista? Reproduzo aqui algumas páginas do texto com intuito de rememora-lo para lermos a situação atual em que vivemos da crise Rússia x Ucrânia. Não foi só a ira, a insatisfação que estão extraviadas, mas a administração doméstica psíquica parece se ver condenada há algum tempo à reprivatização das ilusões. 2 Com a reintrodução da propriedade privada, requisito fundamental para pôr fim ao experimento comunista, mas com a queda da União Soviética, não havia mais um contrato social em validade. Grandes propriedades e excedentes comunistas ficaram à disposição, quantidades enormes de territórios viraram terra selvagem, foram abandonados no que diz respeito aos direitos. Virou um tipo de faroeste para pegar propriedades, textos, imagens, empresas, arte. A vida social até então não parecia ter sido ancorada por um direito civil como um "direito natural" à propriedade privada. O excedente pós-comunista precisou virar uma terra ninguém, um Velho Oeste norteamericano. Um dos principais motivos de se ter criado "castas" e classes privilegiadas. Toda uma reestruturação teve que ser parcelados, distribuídos, abertos e privatizados utilizando regras que não haviam. O que vimos foi uma violência bruta pela aquisição de propriedade privada outrora bens coletivos. Não se trata de uma situação de transição que levou de volta uma sociedade ausente da propriedade privada para uma sociedade com propriedade privada. O modo de se privatizar virou algo tão artificial quanto a nacionalização-estatização. O Estado que havia nacionalizado para construir o comunismo é o mesmo Estado que, agora, privatizou para construir o capitalismo. Esse excedente nacional pode ser visto como um artefato de planejamento estatal e por que não dizer também produtor de uma classe. A privatização, se a entendermos como a re-introdução da propriedade privada, não leva à natureza, um tipo de bem, posse, propriedade no sentido Ocidental, como uma naturalidade. O pós-comunismo é, em verdade, uma instalação artística. Isso demonstra que o Estado Soviético comunista foi tão artificial quanto o agora Estado capitalista. Ela
Por uma história malcomportada
História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography
O presente artigo analisa as principais contribuições de Michel Foucault para a formulação de uma outra história possível. A despeito do título provocativo, seu objetivo é mapear aspectos centrais na historiografia de Michel Foucault os quais colocam em tensão os projetos de uma historiografia ainda pensada em termos de uma ciência do homem no tempo e fidelizada epistemologicamente ao humanismo iluminista. Passamos, assim, por alguns conceitos e categorias centrais em Foucault que rearticulam a proposta de uma arqueogenealogia histórica. Dividimos nossa exposição em dois movimentos de análise: 1. Articulações entre história, sujeito e verdade no interior do método arqueogenealógico; 2. As relações entre acontecimento, documento e arquivo como efeitos da estratégia arqueogenealógica do sujeito. Ao longo do texto, analisamos o processo de reconversão dos conceitos de história, sujeito histórico, verdade, acontecimento e documento/arquivo como efeitos de uma estratégia metodológica em ...