Criando comunidade: emoção, reconhecimento e depoimentos de sofrimento (original) (raw)

Criando comunidade: emoção, reconhecimento e depoimentos de sofrimento 1

Resumo nesse artigo abordamos uma campanha, de âmbito nacional, que reivindica reparação estatal aos filhos de ex-internos de colônias hospitalares-onde portadores de hanseníase foram compulsoriamente internados ao longo de mais de cinco décadas no Brasil. a luz de duas subáreas do cenário atual de antropologia – a que lida com emoções e a que lida com vítimas-, buscamos refletir sobre relatos de familiares, ativistas e ex-internos presentes em uma audiência pública em Porto Alegre. Após descrição etnográfica da diversidade de depoimentos e depoentes, apresentamos as razões que nos levaram a rever nossa perspectiva e tencionar certa abordagem que vê nos discursos de sofrimento mero mecanismo de controle e submissão dos sujeitos ao estado. Finalmente, sugerimos que tais relatos podem, ao invés de vitimizar os sujeitos, atuar na eficácia da reivindicação, além de servirem como liga na criação de uma comunidade política. Palavras-chave sofrimento. vítimas. antropologia das emoções. Reparação. Hanseníase. Abstract in this article, we analyze the national campaign that aims at state reparation for the children of ex-internees of hospital-colonies where, for more than five decades, Brazilians suffering from Hansen's disease were subjected to forced internment. drawing on inspiration from two sub-areas of contemporary anthropology – that dealing with emotions and that dealing with 1 Este artigo é fruto de discussões e comentários travados durante o ST " Vitimização: políticas de moralidade e gramáticas emocionais " organizado por Maria Claudia Coelho e Ceres Victora durante o 37º Encontro Anual da ANPOCS.

Afeto, memória, luta, participação e sentidos de comunidade

2015

O texto tem como objetivo central promover uma discussao acerca da producao dos sentidos de comunidade a partir dos afetos, da memoria coletiva e da luta comunitaria, considerando diferentes formas de participacao social e seus elementos potencializadores. Utiliza de forma ilustrativa para a discussao duas experiencias distintas (um grupo de integrantes de uma OnG e um grupo de pescadores artesanais). A reflexao se conduz em torno das potencias comunitarias geradas, evidenciadas e fortalecidas pelos processos grupais de producao de sentidos de comunidade. As experiencias de afetos, das memorias individuais e coletivas, das lutas, das intrigas e desavencas, das coesoes e das coercoes, da cotidianidade e da participacao social apoiam a producao de movimentos coletivos – nao sem embates e enfrentamentos internos. A perspectiva da comunidade e compreendida a partir da inevitavel correlacao de forcas que atuam em um coletivo, produzindo tensoes, negociacoes, convergencias e divergencias,...

Tecendo Redes, Suportando o Sofrimento: sobre os círculos sociais da loucura

Sociologias, 2014

Este artigo tem por objetivo investigar a estrutura das redes sociais não ancoradas territorialmente; são interações mediadas pela Internet, capazes de estruturar laços secundários (predominantemente) e primários (de forma ocasional). De forma similar a outras práticas de sociabilidade ancoradas territorialmente, estas, mediadas pela Internet, também são capazes de prover apoio social. Tendo como ponto de partida o conceito de Círculos Sociais desenvolvido por Simmel, procuro construir uma tipologia de práticas de sociabilidades mediadas pela rede mundial de computadores, a partir de informações recolhidas na literatura especializada. A conclusão é que comunidades online de pessoas ligadas ao que designo círculo social de transtorno mental são importantes instrumentos para a criação de apoio social e disseminação de práticas e informações sobre cuidado.

Medo e vergonha: emoções comunitárias e emoções sociais

Thomas J. Scheff defende ser a vergonha a emoção social por excelência. A tese deste artigo é a de que o medo está para a vergonha como a comunidade está para a sociedade. Por mais seguro que seja o ambiente social, continuamos a sentir medo quando nos ameaçam com exclusão na escola ou no emprego ou na família. Como comunidade e sociedade, também o medo e a vergonha são dois aspectos da mesma realidade confundidos um no outro, distintos pelos diferentes tempos de actuação. Tomam-se para estudo três casos ilustrativos da co-presença de medo e vergonha em comunidade e em sociedade. Conclui-se que a teoria social dominante se auto-limita a uma visão construtiva da sociedade, deixando-se colonizar acriticamente por emoções de vergonha e repugnância ao medo, em vez de as analisar, de enfrentar os respectivos incómodos e tirar os respectivos proveitos.

“Roda De Terapia Comunitária”, Um Grupo De Sentimentos: Relato De Experiência

Atenção Interdisciplinar em Saúde, 2019

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Testemunhar - Um Modo De Compartilhar O Trauma

RESUMO: Este artigo tem como propósito trazer uma contribuição à teoria e clínica do trauma. Para isso, iremos apresentar uma interlocução entre a literatura de testemunho e a psicanálise. Nosso objetivo será mostrar como o reconhecimento e o compartilhar do outro, destacados na literatura de testemunho, podem estar ligados à relação primária e constitutiva de nosso eu e do aparato psíquico, que ocorre na relação estabelecida com os cuidadores. A partir disso, poderemos pensar uma questão clínica importante no que diz respeito ao tratamento da neurose traumática.

Emoções e política: a vítima e a construção de comunidades emocionais

Mana

No presente texto, detenho-me na construção cultural da categoria vítima como forma de afirmação da civilidade. Ao longo dos últimos anos, temos presenciado na Colômbia a afirmação de uma linguagem que narra experiências pessoais de sofrimento na forma de testemunho pessoal. Essa linguagem, eminentemente emocional, cria laços entre pessoas diversas, naquilo que podemos chamar sociedade civil, ao redor do compartilhamento da "verdade" a respeito dos fatos de violência ocorridos recentemente. Argumento que esta linguagem do testemunho pessoal tem efeitos políticos, na medida em que constrói uma versão compartilhada dos acontecimentos de violência da última década e serve de alicerce para uma ética do reconhecimento e para ações de protesto e de reparação, visto que é um mediador simbólico entre a experiência subjetiva e a generalização social. Examino a construção social da categoria vítima em três cenários sociais: a encenação e a mobilização por parte da comunidade indígen...

Atenção compartilhada e partilha de experiências na produção coletiva de sentidos

Ayvu: Revista de Psicologia

Este artigo visa analisar, a partir de uma abordagem enativa, como a atenção compartilhada participa da produção coletiva de sentidos – processo através do qual damos sentido ao mundo através de nossas interações com as pessoas. Tradicionalmente, fenômenos da cognição social como a produção coletiva de sentidos foram investigados a partir de perspectivas cognitivistas, mas, recentemente, vêm se tornando objeto, também, de abordagens enativas da cognição. Entretanto, apesar de os estudos enativistas ressaltarem o caráter incorporado da produção coletiva de sentidos, pouco exploram seu caráter experiencial. Através de um exemplo descrito em primeira pessoa, o presente trabalho pretende lançar luz sobre o caráter experiencial da produção coletiva de sentidos, buscando explicitar, mais especificamente, como a atenção compartilhada participa desse processo. Argumenta-se que a atenção compartilhada desempenha papel central na constituição de um plano comum da experiência, a partir do qual...