Entre alagados e penhascos: o ouro da liberdade nas resistências quilombolas do século XVIII na capitania de Mato Grosso - região mineradora Guaporeana (original) (raw)
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Minas Gerais do século XVIII: a tributação do ouro no período colonial
XIX Encontro de Iniciação à Pesquisa - Universidade de Fortaleza - 2013, 2013
O presente trabalho se ocupa da temática referente à tributação do ouro em Minas Gerais durante o final do século XVII e o decorrer do século XVIII, período em que o Brasil esteve sob o domínio colonial português. Pretende-se, portanto, tratar das mudanças ocorridas na Colônia após a descoberta do ouro; das consequências do descobrimento em plano nacional e internacional; dos principais mecanismos administrativos adotados pela metrópole a fim de tutelar o novo produto que se torna, a partir do século XVIII, o núcleo da economia colonial; e dos tributos referentes ao ouro e a forma que a arrecadação desses era feita. Por derradeiro, apresentar-se-á a conclusão acerca das consequências, para o Brasil, da descoberta do ouro e a conseguinte mudança de fluxo, passando o Centro-Sul ao foco da economia, enquanto o açúcar produzido no Nordeste, antes no auge da produção, saía do ponto de convergência nacional.
História dos Sertões: Sociedades Coloniais, 2023
Homens, mulheres e crianças, indígenas em suas terras ou aldeados, outros feitos trabalhadores; africanos e seus descendentes escravizados; pobres e livres, como sitiantes, agregados, camaradas; comerciantes; fazendeiros e funcionários do Reino e do Império, constituíram uma história dinâmica e conflitiva que resultou no povoamento não indígena e na desterritorialização de muitos povos, como os Guarani e os Kayapó, à margem da economia e da política do Reino de Portugal e do Império do Brasil. É dessa história que trata este texto.
Actas do Congresso Internacional Atlântico de Antigo Regime: poderes e sociedades
Em 1742 surgiu na Vila do Príncipe (MG) um mendigo barbado, logo tido pelos habitantes como homem de grande fé; algum tempo depois seria, contudo, preso, juntamente com uma escrava, e acusado pela justiça secular de fomentar a revolta dos cativos contra o poder branco. Posteriormente, foi denunciado à Inquisição por blasfemar e difundir proposições heréticas; encarcerado durante 7 anos, foi mandado libertar pelos inquisidores em 1753, na sequência de um despacho em que era dado como louco. Quem era este visionário, que ora se apresentava como filho de pobres, ora como príncipe, afirmando-se enviado por Deus e pelo rei, seu pai, para libertar os escravos do Brasil? O que pregava? Como se explica a inquietação causada pela sua presença e que eco teve a sua mensagem junto daqueles a quem se dirigia, negros e mulatos? Estas são algumas das questões a que aqui procuramos dar resposta, analisando o caso do “profeta” mineiro, até agora desconhecido, à luz da vivência colonial e do desenvolvimento do messianismo de cunho sebastianista em Portugal e no Brasil; ao mesmo tempo, chamamos a atenção para a novidade contida nas suas propostas, assinalando o carácter potencialmente revolucionário das mesmas.
Coartações e dinamização das liberdades nas Minas Gerais do século XVIII
Escravidão e liberdades na América Portuguesa e no Império do Brasil, 2024
Embora já existissem na Península Ibérica desde, pelo menos, o fim da época medieval, as coartações chegaram ao seu auge no Novo Mundo, mais precisamente na capitania das Minas Gerais, na América portuguesa, durante o século XVIII. Tratava-se de direito costumeiro, negociado diretamente entre escravos e senhores, a partir do qual os primeiros poderiam se afastar do domínio de seus patronos para buscarem pecúlio com o qual pagariam o valor de suas alforrias em parcelas, durante alguns anos. Ao longo deste período, segundo o costume, o cortado não deixava de ser escravo, mas não poderia ser vendido, legado, alugado, arrestado, emprestado ou trazido novamente ao cativeiro se cumprisse as cláusulas do acordo. Obviamente, ao longo do tempo, várias coartações deram errado, com descumprimentos de ambas as partes envolvidas, resultando, inclusive, em muitos processos judiciais de escravos contra senhores, sendo que em alguns deles os cativos lograram êxito. O sucesso alcançado por essas práticas nas Minas Gerais esteve diretamente relacionado ao enorme contingente de cativos concentrado na região, sobretudo nas áreas urbanas e suburbanas; à economia diversificada e dinâmica, irrigada por relações comerciais que articulavam o local ao global; pela mobilidade social aí engendrada, lastreada também na presença frequente de famílias escravas, libertas e livres não brancas e nas mestiçagens biológicas e culturais que as constituíam fortemente; pelas incontáveis oportunidades reais de inserção econômica e de ascensão social, mesmo entre escravos; pela extraordinária atuação cotidiana das mulheres escravas de distintas "qualidades" (índias, negras, pretas, crioulas, mestiças, pardas, mulatas, cabras, etc..) em todas as dimensões sociais, tornando-se a maioria entre os coartados e os libertos e pela formação de redes femininas de sociabilidade e de solidariedade entre senhoras não brancas e escravas. Ao longo do século XVIII e durante a primeira metade do século XIX esses aspectos garantiram que as Minas Gerais abrigassem a maior população total entre as capitanias brasileiras (c. 360.000 habitantes, em 1786 e c. 520.000, em 1823), assim como uma das maiores concentração de escravos da época (c. 140.000, em 1770 e c. 170.000, em 1820) e, igualmente, uma das maiores concentrações de forros e seus descendentes livres já vista até então (c. 123.000, já nos anos 1780). Considerando-se as informações existentes na documentação de variada natureza disponível nos arquivos, é possível inferir-se que parcela muito significativa das alforrias tenha derivado dos acertos formais e informais de pagamento parcelado, o que se transformou em um excelente negócio para os senhores, muitos deles ex-escravos e livres não brancos. Na longa duração, esse movimento sustentou o escravismo, pois o reproduziu e fortemente, ao mesmo tempo em que contribuiu para sua extinção, na medida em que gerou grande quantidade de mão de obra liberta e livre, diminuindo a dependência dos tráficos atlântico e interno e da própria escravidão, uma vez que a maioria desses homens e mulheres teve que trabalhar para se sustentar e às suas famílias. Portanto, estudar as coartações é essencial para se compreender a complexidade da história da escravidão e da liberdade no mundo moderno.
Resumo Este artigo conta a história de uma comunidade de escravos quilombolas que viveu durante a década de 1860 nos arredores de Diamantina, Minas Gerais. Através da análise de processos criminais, demonstramos como as relações de reciprocidade estabelecidas en-tre quilombolas e a população despossuída de Diamantina, incluindo escravos, explicam a longevidade do quilombo durante uma época de intenso combate ao protesto escravo. Argumentamos que este grupo de homens e mulheres escravos e libertos era parte fundamental da economia informal que garantia tanto a sobrevivência do povo pobre do sertão mineiro, quanto a continuidade da luta dos escravos por sua liberdade. Abstract This essay tells the story of a community of runaway slaves who lived nearby the city of Diamantina, Minas Gerais, during the 1860s. Through the analysis of criminal records, this essay shows how the mutual support established between quilombolas and the Diamantina's most disenfranchised working class, including slaves, allowed for the long-term survival of their maroon community despite intense repression of slave protest. It ultimately argues that this group of enslaved and freed men and women maintained the local informal economy alive, and ensured both the livelihood of the rural poor and the continuity of the slaves' quest for freedom.
1999
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Cadernos De Pesquisa Do Cdhis, 2011
Este artigo conta a história de uma comunidade de escravos quilombolas que viveu durante a década de 1860 nos arredores de Diamantina, Minas Gerais. Através da análise de processos criminais, demonstramos como as relações de reciprocidade estabelecidas entre quilombolas e a população despossuída de Diamantina, incluindo escravos, explicam a longevidade do quilombo durante uma época de intenso combate ao protesto escravo. Argumentamos que este grupo de homens e mulheres escravos e libertos era parte fundamental da economia informal que garantia tanto a sobrevivência do povo pobre do sertão mineiro, quanto a continuidade da luta dos escravos por sua liberdade.