Demografia e trabalho escravo nas propriedades rurais cafeeiras de Bananal, 1830-1860 (original) (raw)

Demografia e trabalho escravo nas propriedades rurais cafeeiras de Bananal, 1830-

2013

A presente dissertação investiga a demografia e o trabalho escravo nas propriedades rurais cafeeiras de Bananal, no médio Vale do Paraíba, entre as décadas de 1830 e 1850, no período de expansão da cafeicultura. O corpus documental é composto pelos inventários post mortem dos cafeicultores escravistas e pelas listas nominativas de habitantes, em especial, as referentes aos anos de 1817, 1822 e 1829. Por meio delas, objetiva-se analisar a estrutura da posse de cativos e o perfil demográfico da escravaria, mapear a estrutura fundiária, determinar a capacidade produtiva das unidades agrícolas e traçar o quadro da exploração do trabalho escravo. Pretende-se demonstrar a existência de um padrão demográfico uniforme no médio Vale do Paraíba, caracterizado pela disseminação da posse de escravos e, ao mesmo tempo, concentração da propriedade cativa pelos megaescravistas, donos de 100 ou mais cativos. Do mesmo modo, intenta-se mostrar a concentração do processo produtivo pelos megaescravistas, que dominavam a mão de obra escrava, a propriedade fundiária e os cafezais cultivados.

Geografia da escravidão na crise do Império: Bananal, 1850-1888

Universidade de São Paulo , 2014

A pesquisa tem como objetivo investigar os usos do espaço agrário como um dos elementos centrais para os mecanismos de dominação senhorial e também para as estratégias de resistência escrava. Tendo como base os processos criminais do município de Bananal, o trabalho procura entender que o espaço foi vetor fundamental para produzir o controle senhorial sobre o conjunto dos homens livres e dos escravos. No entanto, o desejo de ordem e disciplina imposto pelos senhores era constantemente burlado pelos cativos, que se valiam dos conhecimentos adquiridos dos espaços e dos tempos permitidos e proibidos para realizarem um grande número de ações de resistência. Nesta pesquisa, a geografia da escravidão refere-se à dialética existente entre os usos alternativos ou não que os escravos faziam do espaço de plantação e os controles realizados por feitores, administradores e senhores sobre a mobilidade e o corpo dos cativos. Dos conflitos que se originavam desses embates tem-se a possibilidade de se compreender uma nova dinâmica para a resistência escrava. A pesquisa procurou também ultrapassar a escala do município e ampliar os horizontes. Desse modo, conseguiu-se entender a localidade de Bananal não como um estudo de caso , mas como um município articulado a um quadro mais amplo de consolidação, transformação e crise do Estado Imperial. Deste modo, a escravidão e seus corolários geográficos estavam interligados com o momento de crise da escravidão no plano nacional. Por esta razão, foi possível delinear uma nova dimensão da geografia, relacionada com as redes desenvolvidas pelos sujeitos para além dos limites do município.

A expansão escravista da plantagem cafeeira e o movimento demográfico na província de São Paulo. 1850-1888

Espaço e Economia - Revista Brasileira de Geografia Econômica, 2018

Neste artigo investigamos a relação da produção cafeeira com a sobrevivência do escravismo na segunda metade do século XIX, principalmente na província de São Paulo. Tal inquietação parte do combate que Jacob Gorender travou contra o mito de que os cafeicultores do Novo Oeste paulista seriam, além de ‘capitalistas’, abolicionistas (por promoverem a imigração e o trabalho livre em suas fazendas), provando, em verdade, que o trabalho escravizado permaneceu como opção prioritária para esses plantadores até a Abolição. Em decorrência, apontamos, em linhas gerais, a inevitabilidade de retomar a discussão sobre o movimento abolicionista e a luta dos escravizados como os principais responsáveis por colocar termo ao escravismo colonial.

O advento da cafeicultura e a estrutura da posse de escravos (Bananal, 1801-1829)

Estudos Econômicos, 1991

Este trabalho analisa a evolução da estrutura da posse de escravos em Bananal-SP em meio à fase inicial do desenvolvimento cafeeiro naquela região, com base nas listas nominativas de habitantes, em especial as de 1801, 1817 e 1829. Procura-se, pois, captar os efeitos daquele desenvolvimento sobre os padrões de distribuição da propriedade escrava. Adicionalmente, delineiam-se algumas das características da popula9ao cativa acompanhando-se, outrossim, o seu evolver no decurso do período considerado. Verifica-se que, num primeiro momento, a difusão da cafeicultura aparentemente contribuiu para a conformação de um ambiente propício à proliferação dos escravistas de menor porte. Com o tempo, porém, a atividade cafeeira dá mostras de evoluir decididamente no sentido de uma agricultura de plantation. Concomitantemente a essa evolução, alteram-se as características demográficas da população cativa: aumenta a importância dos escravos homens, dos africanos e daqueles em idade produtiva, bem como dos cativos solteiros.

Lutas políticas, abolicionismo e a desagregação da ordem escravista: Bananal, 1878-1888

Almanack, 2015

O objetivo deste artigo é entender as disputas políticas ocorridas no município cafeeiro de Bananal no período entre 1878-1888. Pretende-se entender esses conflitos articulando-os a um quadro mais amplo de consolidação, transformação e crise do Estado imperial. Desse modo, analiso a realidade política do Império do Brasil e as disputas políticas advindas de uma situação de instabilidade criada especialmente pelo movimento abolicionista.

Economia autônoma de escravos nas grandes fazendas cafeeiras do sudeste do Brasil (zona da Mata mineira-século XIX)

América Latina en la Historia Económica, 2009

A proposta deste artigo é apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que tem por objetivo reconstituir histórias e memórias de roceiros negros na Zona da Mata mineira (Juiz de Fora e Mar de Espanha -século XIX). No período proposto a região possuía condições físicas para o cultivo do café, então o principal produto de exportação do Brasil, e foi a mais rica de Minas Gerais, sendo responsável por uma produção da rubiácea, em Minas Gerias, que variou de 90% (década de oitenta do oitocentos) a 70% (década de vinte do século passado). A principal mão-de-obra utilizada nas lavouras cafeeiras foi a do negro, primeiro na condição de cativo e depois como trabalhador livre predominante. Partindo de relatos de viajantes, fontes cartorárias, processos criminais e variados processos civis (inventários, ações de cobranças de dívidas, processos de divisão e demarcação de terras, despejo, embargo e outros) investigo as atividades econômicas de cativos nas roças destinadas por seus senhores ...

Demografia e família escrava em uma vila paulista, século XIX

2008

Regimes demográficos são um tema que tem preocupado os estudiosos da população européia desde os anos 1960. No caso do Brasil, apesar de a discussão desse tema na demografia histórica nacional remontar à década de 1980, através do trabalho pioneiro escrito por Maria Luíza Marcílio e, posteriormente (início dos anos 2000), retomada e ampliada por Sérgio Odilon Nadalin, os regimes demográficos têm recebido pouca atenção de nossos historiadores demógrafos. No intuito de avançar para a discussão sobre os regimes demográficos propostos para o passado brasileiro, este trabalho procura contribuir sobre os regimes demográficos da escravidão através da caracterização da demografia escrava e da reconstituição de trajetórias familiares de cativos em uma área voltada à criação de gado e ao abastecimento interno. Embora Nadalin tenha avançado em relação a Marcílio na reflexão do regime demográfico da escravidão ao incorporar novos elementos econômicos, socioculturais e demográficos, esses autores apresentam o regime demográfico da escravidão partindo de uma realidade muito mais próxima das plantations. Esperamos, dessa forma, chamar a atenção para a existência de trajetórias demográficas da população escrava diversificadas de acordo com o período e o contexto econômico em que se encontravam, além de trazer novos ingredientes para o estudo da escravidão.

Escravidão, Medicina e Doenças: investigando sociabilidades escravas nas plantations cafeeiras de Cantagalo, século XIX. In: XXVII Simpósio Nacional de História: conhecimento histórico e diálogo social - ANPUH, 2013, Natal. Anais do XXVII Simpósio Nacional de História, Natal - RN, 2013

Sob diversos ângulos muitos autores debruçaram-se sobre as múltiplas características dos universos sociais escravistas em variados contextos atlânticos, examinando o cotidiano, os arranjos familiares e as sociabilidades diversas. Considerando o intenso intercâmbio que ocorreu durante séculos entre os continentes Americano e Africano, o entendimento dos universos escravistas no mundo Atlântico adquire relevância entre estudos históricos mais recentes. Através de abordagens mais sofisticadas têm surgido investigações a respeito de vários aspectos da agency 1 e da cultura escrava. 2 E é neste âmbito das "experiências negras" que se renovam as abordagens (e também métodos) sobre a escravidão e a pós-emancipação, privilegiando aspectos dos arranjos familiares, dos significados de liberdade, das formas de protesto e cultura políticas, entre outras práticas. Nesse sentido, diversas faces da cultura material africana na diáspora, consideradas cruciais na formação da cultura e da identidade 3 , têm ganhado destaque nas análises mais recentes. Incluiríamos aí padrões de mortalidade e morbidade 4 no interior das senzalas que analisados sob novas óticas podem ser reveladores das experiências cativas, considerando os múltiplos universos escravistas que se moldavam na diáspora africana e a complexa rede de significação tecida, destacadamente, no universo do trabalho.