Da cultura da diferença à diferença das culturas : a apropriação do conceito de cultura no discurso de primatólogos (original) (raw)
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DIVIDIR O PÃO: A CULTURA ENTRE A HISTÓRIA E A ANTROPOLOGIA
Relegens Thréskeia, 2020
Resumo: O presente artigo tem por finalidade mapear algumas conceituações da noção de cultura, especificamente àquelas que explicitam um diálogo entre a Antropologia e a História. Tal proposta surgiu da discussão de pontos de vista distintos sobre o conceito de cultura, compreendidos pelas autoras ora como aproximados ora como distanciados, segundo as formações acadêmicas de ambas as autoras. Justificado pela necessidade de clarificar os movimentos desta noção, oferecemos uma descrição de algumas proposições-chave da noção de cultura, objetivando a sistematização e a orientação de acadêmicos de ambos os cursos que estão iniciando as leituras acerca deste debate. Isto posto, este artigo é composto por um referencial bibliográfico antropológico e historiográfico, não utilizando-se de pesquisa de campo, fontes ou experimental. Palavras-chave: Antropologia; História; Cultura. Abstract: This article presents a map of the notion of culture, between Anthropology and History. The proposal arose from the discussion of different points of view on the concept of culture , understood by the authors as either approximated or distanced, according to the academic formations of both authors. Justified by the need to clarify the movements of this notion, between anthropological and historical knowledge, we offer a description of some key propositions of the notion of culture, aiming to guidance academics from both courses who are beginning to read about this debate. Composed by an anthropological and historiographic bibliographical reference, this article is not using field research, historical or experimental sources.
DIÁLOGO NA SOCIEDADE TRADICIONAL COMO PRÁTICA DA MULTICULTURALIDADE
Este artigo aborda uma temática importante do processo de aculturação que o povo angolano sofreu com o processo de colonização e que vem sofrendo pela má interpretação dos preceitos da globalização. Tal concepção permitiu queo papel da sociedade tradicional tivesse perdido força levando à desvinculação da sabedoria do mais velho com o conhecimento científico. Neste âmbito, ocorre,à medida que o tempo passa, uma perda de identificação da sociedade, o que provoca conflitos entre o modernismo e a tradição.
O reconhecimento de uma cultura, no caso cultura indígena, determinou a obrigatoriedade, estabelecida tanto para o Estado quanto para a sociedade, de encarar o índio como cidadão, respeitando sua diversidade. A diferença étnica deve ser respeitada, protegida e valorizada, mas nunca tutelada. Significa que o órgão indigenista federal deve assumir uma nova feição a partir do texto constitucional de 1988. Significa que o Estado deve adequar suas políticas públicas ao contexto da cultura diferenciada existente nas comunidades indígenas. Significa que o índio, sujeito de direitos, deve ser encarado de outro modo pelo Estado, com a afirmação plena de sua identidade e capacidade. A Lei Substantiva Civil pátria atual considera o índio como relativamente capaz. A Lei nº6001, de 1973, submete o índio à tutela estatal. Tais dispositivos, presentes no Código Civil e no Estatuto do Índio 2 , não foram recepcionados pela atual Constituição. Senão vejamos: A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe, em seu artigo 232, que os índios têm capacidade processual eis que "são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses". Consoante estabelece o artigo 7º do Diploma Processual Civil, toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo. Logo, a partir da promulgação da Constituição, em 1988, os índios brasileiros adquiriram completa capacidade civil e processual. O instituto da tutela não subsiste mais a partir do novo texto constitucional. Note-se bem que tanto o Código Civil quanto o
O ERUDITO E O POPULAR: DIALOGAL CRIATIVO NA DIVERSIDADE CULTURAL
THE ERUDITE AND THE POPULAR: CREATIVE DIALOGUE IN CULTURAL DIVERSITY, 2019
O presente artigo visa abordar a complexidade da formação cultural de um determinado povo. Tratando especificamente do uso problemático dos termos: cultura erudita e cultura popular como distintivos e isolados de uma realidade holística. Com base na pesquisa sobre textos de autores da história cultural buscamos avaliar tal fato, demonstrando que esses movimentos se traspassam constantemente e que é igualmente difícil caracterizar o que é dominante e dominado em cultura. Abstract This article aims to address the complexity of the cultural background of a particular people. Dealing specifically with the abuse of the terms: high culture and popular culture as distinctive and isolated in a holistic reality. Based on the survey authors of cultural history texts we seek to assess this fact, showing that these movements are constantly pierce and it is also difficult to characterize what is dominant and dominated culture. Existe uma real bifurcação entre cultura dominante e dominada? Estaria para nós de maneira inequívoca tal distinção fronteiriça entre o que vem a ser alta cultura e cultura popular, sobretudo nas Américas? Esta questão é levantada por Roger Chartier (1995, p.182) ao citar Lawrence W. Levine. Por toda parte, na sociedade da segunda metade do século XIX, a cultura americana eslava passando por um processo de fragmentação [...]. Ele se manifestava no declínio relativo de uma cultura pública compartilhada que, na segunda metade do século XIX, se estilhaçou numa série de culturas
Primatologia, culturas não humanas e novas alteridades
De modo semelhante aos rompantes etnocêntricos de uma cultura humana frente a outras, as relações entre humanos e primatas não humanos incluem um estranhamento pontuado por atração e repulsa, identificação e diferença. Ciência, arte e mitologia são a expressão viva e atualizada disso. Desde 1960, a primatologia destaca-se nesse cenário por contribuir significativamente na revisão das definições sobre o comportamento dos primatas e, consequentemente, na redefinição do humano ao apresentar a polê- mica proposição de existência de “culturas” entre animais não humanos. Assim, a aproximação entre humanos e primatas não humanos parece inexorável e irreversível. Isso implica, por exemplo, em cogi- tar se esse processo engendra, ou não, a constituição de novas alteridades a partir de um novo outro (não humano), carregado de significados. Isso incluiria, por exemplo, a reformulação de representações e de categorias de classificação, bem como o aprofundamento do debate sobre os direitos dos animais não humanos. Ao dirigir tal tipo de desafio a situações de pesquisa antropológica deve-se ter aguda consciência de que o registro etnográfico das relações entre humanos e os outros primatas será uma construção em- pírica, perceptual e teórica. Dado o tipo particular de relação estabelecida entre humanos e outros pri- matas, pautada em um universo fronteiriço de incômodas semelhanças e diferenças, constituem-se aí coletivos híbridos em que o alcance e a profundidade das interações possíveis ainda são desconhecidos.
CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO
A Antropologia, principalmente na abordagem dos fenômenos culturais, tem-se mostrado uma ferramenta importante para o trabalho teológico, tanto na formulação conceitual da teologia, quanto na práxis desses conceitos, principalmente quando tratamos da missiologia e a inserção dessa no contexto transcultural. E quando digo contexto transcultural penso tanto na vivência missionária em lugares e culturas distantes e bastante diferentes da nossa, como na missão feita nos púlpitos, praças e ruas no meio urbano, que pode se deparar, também, com uma infinita variedade cultural. Por isso, como um incentivo ao estudo e diálogo da Teologia com a Antropologia, quero com essa resenha despertar o interesse dos meus leitores pela abordagem cultural oferecida pela Antropologia e levar, aos que estudam a Teologia e fazem missão, a enveredarem-se no saboroso e enriquecedor diálogo interdisciplinar. O livro de LARAIA é introdutório e, como todo bom trabalho acadêmico, não apresenta qualquer juízo de valor. O autor é professor titular da Universidade de Brasília e domina como ninguém o tema que se propõem a escrever, tanto que consegue sintetizar em poucas páginas um arcabouço teórico construído no decorrer de séculos por inúmeros pensadores e pesquisadores do campo da Antropologia. A pequena brochura de LARAIA pretende traçar uma apresentação introdutória ao conceito antropológico de cultura num texto didático, claro e simples (p. 07). O tema é tratado no livro em duas partes. A primeira parte apresenta a herança teórica do conceito de cultura até os autores contemporâneos. A segunda parte aborda a influência que a cultura exerce no comportamento social e como produz, mesmo diante da constatação de unidade biológica, a diversidade nas sociedades humanas. A primeira parte é iniciada com a discussão sobre as perspectivas do determinismo biológico como fator preponderante na formação e concepção da diversidade cultural. O autor apresenta razões que levam a conclusão de que essa perspectiva é equivocada, uma vez que, mesmo havendo diferenças determinadas biologicamente, como a de sexo, por exemplo, a antropologia tem comprovado que atividades atribuídas à mulher em uma dada cultura podem ser atribuídas ao homem em outra (p. 19). Portanto, o comportamento de uma pessoa pode ser atribuído ao seu aprendizado, que o autor chama de um processo de endoculturação.
Discurso, Cultura e Ideologia Na Trama Dos Sentidos
Revista de Letras Norte@mentos, 2019
Publicado em 2017, “Nas Tramas do Discurso: aspectos culturais e ideológicos”, obra organizada por Gicelma da Fonseca Chacarosqui Torchi, Rita de Cássia Pacheco Limberti e Silvia Mara de Melo, professoras doutoras da Universidade Federal da Grande Dourados, vem a público apresentar uma reflexão a respeito dos intrincados fios que tecem as tramas do discurso, entrelaçando-os e entretecendo-os às questões culturais, bem como às ideológicas fomentadoras dos processos de exclusão dos sujeitos (in)fames. A coletânea tem por objetivo central a problematizar quais são e como funcionam as redes de poder subjacentes ao enredamento dos sujeitos periféricos e excluídos de diversas formas do e no bojo da sociedade hegemônica. Prefaciada por Pedro Navarro, professor doutor associado da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pesquisador do CNPq com experiência na área de Linguística, com ênfase em Análise do Discurso de linha foucaultiana, esta obra é composta por 204 páginas, divididas em duas...
ESTUDOS CULTURAIS, DIFERENÇA E SURDEZ: UMA LEITURA TEÓRICA 1
Resumo O presente ensaio tem como principal objetivo a análise das contribuições críticas e teóricas dos Estudos Culturais acerca da compreensão da surdez enquanto diferença, rompendo com a ideia de deficiência que orientava as leituras da surdez e do sujeito surdo. A presente análise parte da constatação de que a compreensão da comunidade surda enquanto um grupo minoritário que instaura um elemento de distinção na cultura hegemônica, resultando na construção de uma nova forma de representação do Outro sob o prisma da diferença é resultado da apropriação de conceitos como identidade, diferença e cultura a partir de uma perspectiva política. Para a obtenção deste objetivo, busca-se construir uma revisão bibliográfica que se estrutura em três eixos de análise: o primeiro focado na investigação das questões que orientaram a formação da disciplina Estudos Culturais; o segundo tem como objetivo discutir o conceito de diferença à luz das contribuições de teóricos pós-estruturalistas e dos Estudos Culturais e, por fim, o terceiro eixo examina o uso do conceito de diferença enquanto ferramenta crítica e teórica para o tratamento da surdez e do sujeito surdo.
Resenha: Primitivos contemporâneos? A história do mito das diferenças
Publicado originalmente no ano de 1975 – pela revista britânica “The invention of the primitive society” - este livro do antropólogo Adam Kuper – traduzido para o português e publicado no ano de 2008 pela Editora Universitária da UFPE - é dividido em cinco partes, contendo ao todo onze capítulos, que narram a história das formas científicas de pensar a sociedade primitiva, cujo estudo teria feito da antropologia uma ciência legitimamente cartesiana na segunda metade do século XIX. A obra em si representa uma importante fonte de dados para os estudos sobre a teoria antropológica e os impactos sofridos pela disciplina no pós-colonialismo, representando - antes de tudo - uma crítica contundente à prática antropológica de sistematizar e mal interpretar outros povos, exotizando comportamentos e estigmatizando certas práticas ao longo de sua história. De acordo com Kuper, os antigos analistas estudaram inicialmente a mentalidade primitiva, especulando a origem das línguas e das “estranhas” religiões.