Neoliberalismo na América do Sul: A Reinvenção por Meio do Estado (original) (raw)

Neoliberalismo na América do Sul

Os últimos anos têm apresentado uma nova relação entre o Estado e o mercado nos contornos sul-americanos. A crise do modelo econômico, teórico e prático, neoliberal e as mudanças geoeconômicas globais -que têm como foco a região de Ásia-Pacífico e, principalmente, a ascensão da China com sua política de going out (VADELL, 2011) -provocaram impactos da maior importância política e econômica na América do Sul. Esses desdobramentos ali-75 Contexto Internacional (PUC) Vol. 36 n o 2. Nessa linha, a percepção atual é de que os Estados, como dirigentes do desenvolvimento, tenham importância e que "o tempo das crenças ingênuas em favor das teses ligadas à irrelevância dos Estados Nacionais parece estar chegando ao fim" (CARDOSO JR.; SIQUEIRA, 2009, p. 10). 3. O ponto 2 das dez teses sobre o novo-desenvolvimentismo expressa: "O mercado é o lócus privilegiado desse processo, mas o Estado desempenha um papel estratégico em prover o arcabouço institucional apropriado que sustente

Neoliberalismo no brasil

Introdução Ao decorrer dos anos todas as nações tramitaram sob seu plano econômico e os meios de produção para fabricação de objetos compráveis. Ao decorrer dos milênios pode-se identificar o sistema escravagista, principalmente, na história antiga com o Império Romano, onde, quanto maior o número de escravos, maior seu poder. Com a derrocada deste, erguem-se, por cerca de um milênio, as monarquias. Nesta, o modelo econômico representativo foi o feudalismo. Com a revolução industrial e a acumulação de capital nasce o capitalismo e suas inúmeras vertentes. Uma destas vertentes é o neoliberalismo que iremos estudar suas raízes e seus impactos aqui.

Neoliberalismo Autoritário No Brasil

Caderno CRH

O artigo define neoliberalismo como a construção política da sociedade de mercado, constituindo o modo de regulação ou o regime de governamentalidade predominante na fase atual do capitalismo. Historicamente, o neoliberalismo sempre esteve associado ao esvaziamento da democracia e a estratégias autoritárias. Após a crise de 2008, o neoliberalismo radicalizou suas medidas ao mesmo tempo em que aprofundou o recurso ao autoritarismo, estabelecendo uma diferença de grau que permite afirmar, seguindo a análise de Nancy Fraser (2017), a passagem de uma fase progressista que mantinha práticas autoritárias para uma fase propriamente autoritária do neoliberalismo. Por fim, o artigo busca compreender tal deslocamento de fase na crise da Nova República, admitindo a singularidade do processo de neoliberalização brasileiro. Esta singularidade se deve ao fato de que o neoliberalismo não substituiu completamente outras racionalidades políticas e projetos de regulação previamente existentes, mas se...

Neoliberalismo e crise na América Latina: o caso de Brasil

2010

No início dos anos 90, o Brasil, tendo à frente o Governo Collor de Mello, foi o último país da América Latina a aderir e implementar o projeto político-econômico neoliberal, sistematizado doutrinariamente em 1989, de forma inequívoca, pelo chamado "Consenso de Washington". Com a deposição constitucional desse governo em 1992, e sua substituição pelo Governo Itamar Franco, o ritmo de implantação desse projeto diminuiu durante o período 1993/1994, sendo retomado posteriormente com toda a força, e amplamente executado, pelos dois Governos de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002). Após mais de uma década dessa experiência, os resultados essenciais, com nuances e detalhes secundários, são os mesmos verificados nos demais países do Continente, quais sejam: estabilidade relativa dos preços e baixíssimo crescimento econômico, acompanhados pelo aumento das dívidas externa e interna; a desnacionalização do aparato produtivo, com transferência de renda do setor público para a setor privado e da órbita produtiva para a órbita financeira; a elevação das taxas de desemprego e a redução dos rendimentos do trabalho. Em suma, aprofundamento dramático da dependência e da vulnerabilidade externa do país, a ampliação da fragilidade financeira do setor público, a precarização do mercado de trabalho e a manutenção ou deterioração das condições sociais-pobreza, criminalidade, violência e desigualdade de renda e de riqueza.

Neoliberalismo e dependência na América Latina

2014

The objective of this study is to show how and why Latin America was becoming a region conducive to neoliberalism, by analyzing the type of development project in the region and the assumption that the implementation of neoliberal economic policies was “facilitated” by democratically elected governments. A historical economic analysis was made using statistical data for the 1960 to 1990 period. It can be seen that the social maladjustment in the 1990s was the result of the tripod: dependent development, policy choices and neoliberalism.

Neoliberalismo e (neo)autoritarismo: uma perspectiva de longo prazo a partir de casos do Cone Sul da América Latina

2019

Professor Unisinos / Bolsista Produtividade CNPq) O neoliberalismo foi implementado como política pública por primeira vez nos regimes autoritários do Cone Sul da América Latina, tendo o caso chileno como emblemático. Foi lá que se gestou sua grande experiência, a que contou inclusive com o beneplácito de Friedrich Hayek, Milton Friedman e James Buchanan (Meadowcroft e Ruger 2014). Ele não nasce com as ditaduras, é um projeto que se vinha gestando desde tempo atrás, mas só se plasma tendo elas como instrumentos. Posições liberais eram antigas na região, mas quem dominava o debate econômico antes dos setenta era a heterodoxia. No debate Roberto Simonsen e Eugenio Gudin 1 , entre 1944 e 1945, tido como um marco, foi o primeiro quem se sagrara vencedor naquele momento, tendência dominante que se reforçaria com a instalação da CEPAL em 1948, que fez mais potente essa hegemonia, até por contar com a chancela das Nações Unidas, assim como pelo fato dos governos da época professar uma aberta predileção pelo desenvolvimentismo. De todo modo, noções neoliberais foram penetrando desde a década de cinquenta, corpus teórico que estava se desenvolvendo na Europa e nos Estados Unidos em resposta aos problemas do liberalismo clássico em dar solução à Crise de 1929 e, por sobre tudo, diante a ascensão dos regimes totalitários e ao comunismo, que tinham no uso do Estado e no planejamento seu alicerce, o que lhes fazia temer pelas implicações de longo prazo das soluções keynesianas (Mirowski e Plehwe, 2009; Dardot e Laval, 2016). Reunidos no Colóquio que homenageara Walter Lippman, em 1938, chegaram até fundar o Centre international d'études pour la rénovation du libéralisme (CIRL) (Denord, 2009). Suas atividades já sofriam com os fantasmas da Guerra e será em 1947 quando se rearticulam definitivamente em torno da Sociedade Mont Pèlerin, que passa agrupar a parte significativa desse contingente, com o expurgo do Ordoliberalismo alemão, certamente por esse admitir um maior uso do Estado e do planejamento, políticas que  Texto desenvolvido com o incentivo da Bolsa de Produtividade em Pesquisa, do CNPq, e do Edital Pesquisador Gaúcho, da FAPERGS. 1 O IPEA publicou dois livros contendo esse debate (Simonsen e Gudin, 1977).

Neoliberalismo e criminalização do lumpemproletariado nos Estados Unidos

Toda forma estatal expressa determinada correlação de forças na luta de classes. O neoliberalismo é expressão de uma violenta ofensiva capitalista contra as classes trabalhadoras em geral e suas conquistas sociais históricas, visando proporcionar a retomada da acumulação capitalista. Dessa maneira, o Estado neoliberal se apresenta como um complemento de toda uma mudança estrutural, necessária para a emergência do novo regime de acumulação, atuando no campo da regularização das novas relações sociais imprescindíveis à efetivação da acumulação integral de capital e, conseqüentemente, da restauração do poder de classe da burguesia (VIANA, 2009). Com a vitória de Ronald Reagan à presidência dos Estados Unidos em 1980, inicia-se a era da liberalização econômica, da desregulamentação dos mercados e das relações trabalhistas, dos cortes de impostos para as corporações capitalistas, cortes orçamentários públicos e dos ataques à classe operária e a outros trabalhadores em geral. Um caso exemplar dessa nova ofensiva do capital sobre o trabalho nos Estados Unidos pode ser percebida no duro golpe aplicado contra os sindicatos dos controladores de vôo (PATCO) no ano de 1981 e do impacto negativo que os salários sofreriam a partir desse ano. De acordo com Harvey, a derrota desse sindicato para Reagan, na greve de 1981, marcou um ataque generalizado aos poderes do trabalho organizado no próprio momento em que a recessão inspirada em Volcker produzia altas taxas de desemprego (de ao menos 10%) [...] O efeito global sobre a condição do trabalho foi dramáticotalvez melhor captado pelo fato de o salário mínimo federal, que era paritário ao nível de pobreza em 1980, ter caído para 30% abaixo desse nível por volta de 1990. Iniciou-se assim, com vigor, o longo declínio sobre os níveis dos salários reais (2008a, p. 34).

Apresentação: Democracias Neoliberais na América Latina

Revista Sul-americana de Ciência Política, 2018

Às vésperas de 2019, não seria exagero afirmar por ocasião da abertura do presente Dossiê, que as democracias liberais se encontram em uma crise sem precedentes, tanto no norte quanto no sul global. Extrapolando a discussão sobre o déficit de representação e o papel dos partidos políticos travada desde os anos 1990, as motivações para a agonia do modelo democrático hegemônico desde o final da Guerra Fria não são necessariamente encontradas no interior da política, provocando a Ciência Política a rever e reformular algumas de suas bases científicas enquanto disciplina autônoma. Uma delas está relacionada ao reconhecimento de que o fenômeno relacionado ao colapso das democracias liberais contemporâneas, seja no Ocidente imperial ou colonizado, encontra parte de suas origens em variáveis exógenas ao campo político e nacional per se, representando ao mesmo tempo um esgotamento dos discursos, identidades, sociabilidades, instituições, organizações e enquadramentos que lhe oportunizaram historicamente. A crise da democracia liberal talvez seja melhor compreendida como uma crise maior relacionada às profundas transformações sociais do mundo político, econômico e cultural.

Breve História do Neoliberalismo

A história da humanidade é marcada por mudanças, evoluções, rupturas. A sucessão de modos de produção é expressão deste processo. Em cada modo de produção também há mudanças, evoluções, rupturas. Isto ocorre com todos os modos de produção e também com o capitalismo. A sucessão de regimes de acumulação demonstra o processo de transformação no modo de produção capitalista. Porém, um regime de acumulação também não é estático, é histórico e caracterizado por alterações e isto vale para os seus elementos componentes. O neoliberalismo, assim como qualquer outra formação estatal capitalista, não é algo estático e a-histórico. O neoliberalismo também sofre alterações com o desenvolvimento histórico. Sendo assim, adquire importância tentar observar as mudanças ocorridas no Estado neoliberal, desde suas origens até os dias atuais.

O Neoliberalismo e a reforma do Aparelho do Estado brasileiro

Diário do Engenho: Opinião, Sociedade e Cultura, 2019

Pensar o neoliberalismo enquanto perspectiva capitalista exige uma análise dupla. Por um lado, a vericação dos condicionantes históricos que produziram estas doutrinas e, por outro, as ideias em si. O objetivo deste texto, portanto, consistiu em trazer para o debate as principais teorias propulsoras do