Repensando os sistemas de conhecimento para a resiliência urbana: Contribuições feministas e decoloniais para transformações justas (original) (raw)

Entre o capital e a vida: pistas para uma reflexão feminista sobre as cidades

Reflexões e práticas de transformação feminista, 2015

Este texto parte dos acúmulos da economia feminista e da crítica a mercantilização do corpo e da vida para buscar articular uma reflexão sobre os desafios de transformação que a realidade das grandes cidades nos impõe hoje, com a segregação, a violência e a expropriação do nosso tempo cada vez mais acelerada.

Revendo a história das cidades paulistas: A inserção feminina e a (re)leitura do cotidiano

Esbocos Revista Do Programa De Pos Graduacao Em Historia Da Ufsc, 2008

Resumo Objetiva-se realizar uma revisão historiográfica e a ampliação dos estudos de "gênero" ao investir na historicização e desconstrução dos estereótipos e dos papéis sociais de homens e mulheres que vivenciaram o processo de formação das cidades do Oeste paulista na primeira metade do século XX. Por meio da interpretação de indícios observados na documentação jurídica e jornalística da cidade de Bauru (SP), foi possível desvelar os silêncios sobre a presença feminina e as formas de repressão à vida das mulheres que, ainda hoje, têm seus desdobramentos no comportamento social e político da sociedade brasileira. A pesquisa é sensível às recentes reflexões e debates sobre os paradigmas da história, atenta aos diferentes movimentos de atores sociais, às temporalidades e aos espaços, possibilitando captar o cotidiano das cidades paulistas e rever as narrativas tradicionais ao demonstrar que tais cidades, colocadas na condição de "periferia", possuem especificidades ante o processo de modernização e, muitas vezes, rompem a relação causal com a Metrópole paulistana, "centro" dinâmico do capital em expansão.

Cidade do cuidado: De um urbanismo hegemônico para um urbanismo feminista, situado e transformador

Thesis, 2024

O agravamento das desigualdades socioespaciais, de gênero e raça tem exigido uma revisão teórica e prática profunda no campo do urbanismo. O debate crítico revela a marginalização de grupos sociais, territórios e práticas espaciais cotidianas, enraizadas nos valores patriarcais, racistas e eurocêntricos. Para um urbanismo transformador, que seja anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e anticolonialista, é crucial rejeitar os pressupostos positivistas- -tecnocráticos e valorizar outros modos de ser e existir no espaço. No entanto, uma questão persiste: quais práticas podem realmente modificar o curso do que entendemos por urbanismo hegemônico? Neste ensaio, sustentamos que o urbanismo focado no trabalho reprodutivo e de cuidados, predominantemente realizado por mulheres, oferece uma oportunidade para deslocar a prática hegemônica que prioriza cidades produtivas para o capital, em direção a um urbanismo feminista, situado e transformador, que promova cidades que cuidem e garantam a vida. Apresentamos reflexões sobre como o urbanismo e o planejamento urbano privilegiam o trabalho produtivo em detrimento do trabalho reprodutivo, a partir de uma perspectiva marxista feminista. Utilizamos o exemplo da mobilidade urbana para dar suporte às nossas análises a respeito dessas questões, discutindo o caso de Bogotá, onde a implementação do Sistema Distrital de Cuidados (SIDICU) se destaca como uma abordagem transformadora no Plano de Ordenamento Territorial 2022-2035. Este ensaio visa explorar o potencial avanço ético, político e teórico-metodológico ao adotar perspectivas feministas numa abordagem interseccional no urbanismo através da mobilidade urbana.

Cidades feministas: a dimensão comunicativa dos mapas da violência

Memorias Congreso ALAIC 2022, 2022

Neste artigo discutimos as dinâmicas entre comunicação e cidade a partir dos mapas desenvolvidos por ativistas e organizações sociais de mulheres, que produzem dados sobre feminicídios, assédios e agressões, permitindo uma navegação personalizada com diferentes tipos de filtros. Nosso objetivo foi entender o que caracteriza esses mapas que têm a violência como tema central. A metodologia envolveu pesquisa bibliográfica, localizando-os como proposta de comunicação e de metodologia feminista e análise documental das produções: Cartografias dos feminícios en Costa Rica, Violencia Feminicida en el Estado do México, Mapa Latinoamericano de Feminicidios, Violencia Feminicida Ecuador, Mapa da Delegacia da Mulher (Brasil), Yo te nombro (México), Feminicidios Uruguay, Femicidios en Nicaragua, Elas tienen nombre (Ciudade Juárez) e Violencia hacia lesbianas (Argentina). Os resultados mostram que a temática predominante são os feminicídios e o principal método é a coleta de notícias, combinada aos dados públicos ou depoimentos, posteriormente inseridos nas plataformas Google Maps ou OpenStreetMaps. Os mapas são descritos como ferramentas de denúncia e identificamos esforços para ampliar o alcance, como presença nas mídias sociais, campanhas e planilhas de dados abertas. Concluímos que os mapas constituem-se como meios de comunicação fundamentais para abordar desafios, camadas e tensionamentos da violência de gênero na América Latina.

Mulheres e vulnerabilidade urbana: caminhos e entraves para o protagonismo feminino na produção de cidades resilientes e justas

2020

As mudanças climáticas e o processo de urbanização desigual vêm intensificando a ocorrência e a magnitude de desastres ambientais. Mulheres se mostram particularmente vulneráveis, sendo as principais vítimas desses eventos. Neste artigo, discutimos a incorporação da mulher como agente de transformação para cidades resilientes e buscamos entender as dificuldades para a efetivação dessa meta no atual contexto político nacional. Para tanto, traçamos um panorama da discussão mulher e risco na agenda política global, contextualizando com a política brasileira de gestão de desastres. Realizamos um levantamento de ações que impactam sua efetivação, levando em conta a política ambiental e de inclusão social. Considerando que o debate do urbanismo contemporâneo ressalta o protagonismo feminino como essencial para a transformação das cidades, formulamos estratégias alternativas ao cenário político brasileiro. Estas perpassam pelo engajamento feminino e comunitário para construção de um conhecimento coletivo capaz de reduzir a vulnerabilidade da população. Palavras-chave: riscos ambientais, redução da vulnerabilidade, gênero. Linha de investigação: Dinâmicas Urbanas.

O conhecimento situado e a pesquisa-ação como metodologias feministas e decoloniais: um estudo bibliométrico

Revista CS Núm. 29 (2019): Activismo académico en las Américas del siglo XXI , 2019

A Sociologia, desde sua emergência no século XIX, foi aproximada das Ciências Naturais, na busca por sua cientificidade. Para isto, a objetividade e a neutralidade tornaram-se critérios fundamentais. A despeito desta tradição, a Teoria Feminista tem argumentado em defesa de um posicionamento científico crítico, engajado e transparente. Neste cenário, emergem as propostas metodológicas em torno do Conhecimento Situado e da Pesquisa-ação. O presente artigo tem como objetivos: (1) descrever o Conhecimento Situado e a Pesquisa-ação; (2) analisar o quanto e como estas perspectivas estão sendo utilizadas nos Estudos de Gênero da América Latina; (3) fomentar o uso destas metodologias. Para estes fins, utilizamos o Método de Pesquisa Bibliométrica. As conclusões demonstram um ínfimo número de artigos utilizando estas metodologias, ressaltando a necessidade de fortalecer e difundir este debate.

Miranda, J. (2014). Numa urbe genderizada. Vivências dos espaços. Revista Latino-Americana de Geografia e Género, vol.5, nº2, 163-174.

A cidade foi sendo perspetivada como um lugar masculino em que as mulheres (e, em particular, as mulheres imigrantes) não eram cidadãs plenas no sentido em que não adquiriram o acesso integral e livre às ruas e sobreviveram nos interstícios da cidade. Apesar de todas as conquistas das mulheres e do aparente cosmopolitismo das cidades europeias, as cidades continuam a ser espaços genderizados, espaços de conflito e de discriminação, contextos plenos de ameaças e interdições. Neste artigo apresentaremos algumas reflexões sobre a forma como as mulheres imigrantes brasileiras, cabo-verdianas e ucranianas se relacionam com o espaço -cidade de Lisboa -com base nos dados do projeto de investigação da autora financiado pelo Observatório da Imigração 'Mulheres imigrantes em Portugal. Memórias, dificuldades de integração e projetos de vida'.

URBANISMO FEMINISTA: da reclusão no lar ao direito à cidade

Seminario Internacional de Investigación en Urbanismo, 2024

A partir do entendimento das cidades como espaços construídos e modificados por arranjos sociais e normas políticas, sugere-se outra perspectiva em sua análise historiográfica, baseada na problemática central do tradicional afastamento das mulheres das decisões urbanísticas. Nesse contexto, o objetivo geral da pesquisa consiste em examinar a sua invisibilidade no planejamento urbano ao longo do tempo. Derivados de procedimentos metodológicos de revisão de fontes secundárias, os resultados encontrados são estruturados em quatro partes principais, segundo idades históricas: Antiga-entre matriarcados e patrissistemas; Médiaentre confinamentos e reclusões; Moderna-entre isonomias e desigualdades; e Contemporânea-entre deveres e direitos. Nesses cenários, atestam a hipótese orientadora de privação da participação feminina no processo, com as respostas à pergunta investigativa apontando para modos de superação dessa omissão retrospectiva, apoiados em princípios do urbanismo feminista na busca pelo direito à cidade pelos diversos gêneros. Palavras-chave: invisibilidade feminina; planejamento urbano; períodos históricos; perspectiva de gênero. Linha de investigação: Dinâmicas Urbanas. Tópico: Gênero.

Corpos urbanos: direito à cidade como plataforma feminista

Cadernos Pagu, 2021

Based on the observation that theories about urban life have hidden gender issues and considering the historical struggle of women in and for the city, we examine feminist activisms and their construction of an agenda for the right to the city-considering urban reform proposals and contributions from new feminisms. We conclude that feminisms do struggle for a right to the city, demanding power over bodies, freedom of circulation, access to public spaces and services, and cities that are not planned only for citizens who are white male property-owners.