[Tradução] AZMANOVA, Albena. O paradoxo da emancipação: populismo, democracia e a alma da esquerda (original) (raw)

[Tradução] AZMANOVA, Albena. Anticapital para o século XXI (sobre a metacrise do capitalismo e as possibilidades abertas para a política radical)

Cadernos de Filosofia Alemã, 2020

Tomando o caráter moderado dos protestos sociais recentes como seu ponto de partida, esta análise investiga as democracias liberais em seu estado atual, um estado em que a suposta crise do capitalismo entrou, ela própria, em crise - uma condição social de metacrise, marcada pela ausência de energias utópicas e da prospectiva de uma revolução -, ao mesmo tempo que a sociedade experiencia a si mesma em crise perpétua. Esta investigação apreende, então, o potencial de mudança radical pelo prisma da subversão do capitalismo (e não da derrubada dele ou da resistência a ele) através de práticas que combatam a própria dinâmica constitutiva do capitalismo - a produção de lucro.

Agonística ou agonia da democracia? (Review / resenha do livro Agonistics – Thinking the world politically de Chantal Mouffe)

Lugar Comum - Estudos de Mídia, Cultura e Democracia #53 , 2018

O livro é de 2013, mas só vir a ler agora. Uma citação do designer Carl di Salvo no seu livro Adversarial Design me instigou e Chiara del Gaudio me presenteou. Aqui não pretendo fazer uma resenha mas somente trazer algumas reflexões a partir de uma leitura rápida, sequer do livro inteiro, assim como alguma costura com este momento pós-eleitoral. Em Agonisticsthinking the world politically, Chantal Mouffe nos apresenta logo de início sua abordagem agonística. Segundo ela, "a tarefa central das políticas democráticas é prover as instituições que permitirão aos conflitos tomar uma forma 'agonística', onde os oponentes não são inimigos e sim adversários com os quais existe um consenso conflituoso." O que pretende com seu modelo agonístico é mostrar que, mesmo assumindo a não erradicabilidade do antagonismo, é possível vislumbrar uma ordem democrática. A distinção entre inimigo e adversário, assim como entre antagonista e agonístico e, por fim, o conceito de hegemonia, estão na base desta proposta. Antes de dar início aos pontos mais relevantes dessas distinções, trago algumas linhas gerais do livro. O primeiro capítulo apresenta a pergunta instigadora "O que é política agonística?" enquanto o segundo indaga "qual seria a democracia adequada para um mundo agonístico multipolar?" Já o terceiro capítulo traz a abordagem agonística para o futuro da Europa e o quarto aprofunda sua abordagem trazendo-a para debater políticas radicais. Por fim, o quinto capítulo traz relações entre essa abordagem política e práticas artísticas e culturais. Política agonística, o que é? Para Mouffe, dois conceitosantagonismo e hegemoniapermitem apreender a natureza do político pois, juntos, eles impedem a "totalização" da sociedade e, ao mesmo tempo, criam a possibilidade de uma sociedade para além da divisão e do poder. A sociedade se forma e se transforma continuamente por meio de "práticas hegemônicas" mas todo esse fenômeno não se encerra (e não deveria se encerrar) numa totalidade, ou seja, numa homogeneidade absoluta. O político diz respeito à capacidade de tomar decisões em um meio muitas vezes conflituoso mas sempre aberto ao pluralismo.

RENA, Alemar - Comunidades essenciais, legiões demoníacas: Dostoiévski, a multidão revolucionária e o pessimismo moderno (Impresso e digital)

Title: Essential communities, demonic legions: dostoevsky, the revolutionary multitude and modern pessimism. This article seeks to shed light on some substrates of Dostoevsky’s criticism concerning the revolutionary movements in Russia in the second half of the 19th century and their occidentalist demands. To this end, we analyze the author’s pessimism in relation to Western modernity by an ethical, ontological, and political angle. Our thesis is that for Dostoevsky the civil society which descends from Rousseau’s social contract corrupts the realization of Russia as an orthodoxy based on the love of all by all and the love of the Czar by all. We establish, on the one hand, a critique of this harmonious and unified idealization of the Slavic people, while, on the other, we recognize the relevance of Dostoevsky’s suspicion for the examination of modern political philosophy. Dostoevsky seems to demand a reversal without which there could be no real politics: not politics as rational utilitarianism dictating life, but life – the shared essence and the original constituent practice of love – to continuously write politics. Este artigo busca lançar luz sobre alguns substratos da crítica de Dostoiévski a respeito dos movimentos revolucionários na Rússia da segunda metade do século XIX e suas demandas “ocidentalistas”. Para tanto, analisamos o pessimismo do autor em relação à modernidade ocidental por um ângulo ético, ontológico e político. Nossa tese é que, para Dostoiévski, a sociedade civil ocidental descendente do contrato social rousseauniano corromperia a realização secular da Rússia enquanto uma ortodoxia baseada no amor de todos por todos e de todos pelo czar. Tecemos, por um lado, uma crítica a essa idealização harmônica e unificada do povo eslavo, ao mesmo tempo que, por outro, reconhecemos a relevância da suspeita dostoievskiana para o exame da filosofia política moderna. Dostoiévski parece demandar uma inversão sem a qual não poderia haver verdadeira política: não a política enquanto utilitarismo racional a ditar a vida, mas a vida – a essência originária compartilhada e a prática constituinte do amor – a escrever continuamente a política.

Emma Goldman e o lume de um cinismo libertário

Revista Estudos Libertários

A anarquista Emma Goldman tecia relações de militância a partir da perspectiva da individualidade refratária ao pensamento massificado, adotando um posicionamento que Michel Foucault designaria como parresiasta a partir da leitura de contracondutas da Grécia Antiga. Este artigo propõe, então, um questionamento: a filosofia política em ação propugnada por Goldman teria ecos de um cinismo que principiava na subjetividade insurgente e reverberava em um afeto coletivo? Como ocorreria esse processo de cuidado-de-si/relações com o outro? A partir de um breve cotejo com a obra de Foucault, tem-se como escopo descortinar como a anarquista defendia uma emancipação que começava no esculpir de uma vida colocada em risco diante dos poderes uniformizantes.

A sombra do liberalismo: Interpretações políticas da obra de Hannah Arendt no Brasil da “virada”

Em Tempo de Histórias, 2017

Este artigo visa compreender a recepção da filosofia da história de Hannah Arendt no meio jornalístico na década de 80 no Brasil. Sabe-se que o suplemento Cultura do jornal O Estado de São Paulo, difundia ideias e valores em um formato abrangente, bem como procurava conciliar, através de uma linguagem acessível, um conteúdo com aspirações acadêmicas. Por isso diversos colaboradores, nacionais e internacionais, escreveram artigos, resenhas e colunas destinadas sobre os mais variados temas sobre história, filosofia e, principalmente, política. A recepção e a resignificação desses temas inferiam um primado, o liberalismo, como estatuto lógico e coerente para o progresso brasileiro. É por meio desta ótica que as ideias e a vida de Hannah Arendt foram colocadas como legitimidade liberal nos “anos de chumbo .