Chamada Meridional N°20 Dossiê "Dentro, fuera, para, contra la institución". Práticas estéticas latino- americanas entre a era do consumo de massa e o tecno-capitalismo contemporâneo (1950- 2020)” (original) (raw)

2023, "Dentro, fuera, para, contra la institución". Práticas estéticas latino- americanas entre a era do consumo de massa e o tecno-capitalismo contemporâneo (1950- 2020)”

*** Deadline: October 30 *** O objetivo deste dossiê é colocar em diálogo propostas estéticas que analisem diferentes aspectos da produção artística em relação ao institucionalismo sob o prisma específico dado pela expansão do consumo artístico e a progressiva mercantilização das produções visuais. O período considerado estende-se da segunda metade do século XX - um mundo histórico que, marcado pela produção capitalista e pelo consumo em massa, começa a mostrar a erosão da autonomia dos campos culturais devido à irrupção da indústria cultural - até as primeiras décadas do século XXI - um cenário que, no calor do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação, moldou um "tecnocapitalismo" globalizado (García Ferrer, 2017), marcado pela desdiferenciação artística e a difusa estetização. Para enfrentar estes fenômenos, consideramos duas perspectivas que se entrelaçam de forma dialética e complementar: os dispositivos institucionais que incentivam o mainstream artístico e as estratégias criativas que buscam corroer este sistema. E focalizamos nosso interesse no campo estético latino- americano, entendido não como uma identidade ou propriedade original, ligada ao conhecido binarismo entre centro e periferia, mas como uma zona de empréstimos e negociações entre formações culturais que se distingue pela politização, posicionalidade e uma forma situada de fazer que desloca e perturba rígidas delimitações territoriais, perturbando a tipificação a que a questão da América Latina na arte conduz (Ticio Escobar, 2004). Do ponto de vista da institucionalidade, estamos interessados em observar criticamente o papel dos museus, das exposições ligadas aos espaços institucionais e ao mercado de arte como dispositivos que moldam a produção artística, estabelecem critérios de validação material e simbólica, e promovem idéias estéticas e políticas. Como argumenta Nelly Richard, trata-se da arte como tradição (o ideal do cânone estético), como campo (a especificidade das práticas identificadas como obras) ou como sistema (as mediações institucionais em todo o circuito de produção, circulação e exposição) que validam "a autoridade de suas crenças, valores e normas com base num desenho seletivo de suas fronteiras" (Richard, 2014:9). Do local de produção, propomos analisar práticas que intervêm criticamente dentro da instituição, desmarcando seus limites e condicionantes; são ações que, por atrito e fricção, cruzam as fronteiras da atribuição de valor artístico, transformando as categorias estéticas em híbridos e provocando, relacionalmente, transformações na realidade social, Por outro lado, estamos interessados em peças desenvolvidas às margens dos espaços institucionais e lógicas e ações que tomam a rua e o cenário urbano como suporte de trabalho e território de intervenção estético-política para subverter o status quo. Um amplo universo de cultura visual que conecta o artístico com processos culturais mais amplos que são rasgados entre conservação e inovação. Neste ponto, seguindo Martha Rosler (2017), pretendemos problematizar tanto a idéia de crítica institucional, explorando questões levantadas em relação aos discursos canônicos, como também observar os posicionamentos e urgências traçados pelos ativismos e diversas formas de intervencionismo através de novos regimes artísticos, novas materialidades e noções revoltadas do que é a arte e do que é ser artista. Desta forma, focalizamos os momentos de criticidade, e também de inquietação, a fim de explorar o potencial subversivo da arte com respeito aos sistemas de validação simbólica e material. Este último, com especial atenção à resistência à mercantilização da obra de arte e à obliteração de vozes críticas, sob a pressão de múltiplos conflitos de autoridade cultural (pós-colonialismo, subalternismo, feminismo e dissidência de gênero).