Entrevista com Otília Arantes: mediações entre Teoria Crítica, Arquitetura e cidades (original) (raw)
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Uma Brecha Crítica na “Cidade Garantida”? Espaços Intermediários e Arquiteturas de Uso
Antropolítica - Revista Contemporânea de Antropologia
Este texto consiste na análise de uma dinâmica subterrânea de resistência. Essa dinâmica não surge como uma máxima agressiva, mas sugere a afirmação de uma alternativa àquela que o urbanismo tenta – atualmente em uma escala internacional – controlar, regular e orientar, apoiando-se sobre o princípio de uma cidade garantida, a mesma que gostaria de assegurar a qualidade de suas características, afirmando estar preocupada em compartilhar formas de avaliação. Essa cidade daria, assim, a garantia do que se considera “geralmente” uma circulação fluida, uma qualidade patrimonial, uma boa variedade de comércios, serviços eficazes, um grau de rentabilidade satisfatório aos investimentos etc. Ao oferecer ao citadino um espaço de escolha, essas propriedades da cidade garantida contribuem para o empoderamento (empowerment) do indivíduo, destinado a encontrar os meios de reforçar suas capacidades de autodeterminação. No entanto, a formatação de um espaço referencial e informacional que sustenta...
Construir entre fraturas: resenha do livro Arquitetura de Arestas
Zero à Esquerda, 2022
Não são poucos os diagnósticos que levantam a dificuldade de apreensão do presente brasileiro. Cibele Rizek insiste nas "Zonas Cinzentas", Chico de Oliveira fala de uma "Era de Indeterminação"; Giuseppe Cocco e Bruno Cava chamam de "Enigma do Disforme"; Guilherme Wisnik escreve sobre estar "dentro do nevoeiro"; um grupo de militantes afirma que se encontra na "Neblina". Chama atenção que, diante dessa "gaseificação nebulosa" da nossa sociedade em crise, uma dupla de jovens pensadores radicais sugerir uma "arquitetura"-afinal, arquitetura diz respeito de algo propriamente rígido, estruturado. Entretanto, Paraná e Tupinambá não vão ignorar nossa condição indeterminada. A reflexão deles está assentada exatamente na possibilidade de se pensar como construir algo dentro da neblina. Tarefa urgente para quem quer conseguir ver um palmo à frente do nariz nessa complicação generalizada. Assim, o primeiro ponto que deve ZERO À ESQUERDA-n. 0-p. 222
Intenções de diálogo entre arquitetura e cidade: uma aproximação às obras do prêmio Salmona
2021
Esta tese propõe uma reflexão sobre a produção arquitetônica contemporânea latino americana a partir do estudo das obras participantes das duas primeiras edições do Prêmio Latino-Americano de Arquitetura Rogelio Salmona – espaços abertos/ espaços coletivos. Tendo como fio condutor arquiteturas que tiveram êxito em promover espaços para o fortalecimento da esfera pública, priorizou-se a análise crítica do projeto de arquitetura, partindo da hipótese de que suas camadas de estudo podem ser, em grande parte, extraídas das próprias obras estudadas. O objetivo da tese é compilar, analisar criticamente e, principalmente, valorizar tanto a iniciativa de um prêmio de arquitetura essencialmente latino-americano quanto as obras dele participantes; quiçá, também colaborar com construção de um corpo de conhecimento específico em projeto de arquitetura a partir de uma visão local. A aproximação às obras, individualmente e como corpus, é feita por meio de estudos referenciados, cujo fundamento co...
Ser-na-Cidade: Por uma Arquitetura e Urbanismo como lugar
Pensando - Revista de Filosofia, 2018
Being-in-the-city: towards an architecture and urban planning as a place Werther Holzer UFF Resumo: O objetivo desse artigo é o de levantar algumas possibilidades de se utilizar o aporte fenomenológico para a constituição de uma nova ontologia para a Arquitetura e o Urbanismo que priorize no projeto, seja da cidade seja de uma edificação qualquer, o habitar e o sentido do lugar, num diálogo com a Filosofia. O princípio que orienta a discussão é de que hoje, como a maioria dos habitantes da Terra é urbana, nosso ser-no-mundo se consubstancia como ser-na-cidade. Essa maneira contemporânea de ser pode ser observada, por exemplo, nas cidades médias e pequenas de uma urbanização dispersa, que desafia as utopias e os ideais e arquitetônicos e urbanísticos do século XIX e do século XX, colocando o desafio de se projetar segundo a imageabilidade, as marcas e matrizes paisagísticas, oferecidas por toda uma produção vernacular, esta sim, alheia aos ditames da geometria e da quantificação, e voltada para o mundo vivido.
Revista Projetar - Projeto e Percepção do Ambiente, 2017
Este artigo apresenta uma análise acerca da realização de uma disciplina optativa denominada Ateliê CaÓtico, cuja proposta teve a estruturação definida por uma ementa pautada em uma abordagem projetual com ênfase na observação (relação com o lugar) e nas técnicas de desenho e colagem, como forma de expressão das ideias. Como objetivo geral, buscou estimular nos discentes a prática, no processo de concepção projetual, da percepção dos elementos construídos e sua relação com o entorno, a princípio, sem condicionantes preestabelecidos. Em termos de procedimentos metodológicos foram realizados encontros para apresentação e discussão dos referenciais teórico-conceituais utilizados nas atividades práticas; visitas aos locais selecionados para realização da atividade de experimentação do lugar e, posteriormente, atividades de ateliê tendo em vista a elaboração de propostas arquitetônicas para as referidas áreas, norteadas pela atividade de experimentação do lugar, tendo o croqui e as col...
Debates atuais sobre a teoria urbana: uma avaliação crítica
Revista Geografares
Os estudos urbanos atualmente são marcados por muitos debates ativos. Em um artigo anterior, abordamos alguns desses debates propondo um conceito fundamental de urbanização e de forma urbana para identificar uma linguagem comum para a pesquisa urbana. No presente trabalho, faremos uma breve recapitulação desse quadro. Utilizaremos então este material preliminar como base para uma crítica das três versões atualmente mais influentes da análise urbana, a saber, a teoria urbana pós-colonial, as abordagens teóricas do agenciamento e da urbanização planetária. Nós avaliaremos cada uma dessas versões e cada uma delas pretende ser considerada a melhor abordagem sobre as realidades urbanas. Faremos a crítica de: a) teoria urbana pós-colonial, por seu particularismo e sua insistência na provincianização do conhecimento, b) abordagens teóricas do agenciamento, por sua indeterminação e ecletismo, e c) urbanização planetária, pela desvalorização radical das forças de aglomeração e de nodalidade ...
Arquiteturas da cidade: conexões e lugar
2000
Esta tese propõe ações possíveis na cidade atual como respostas a ambientes fragmentados e desconexos, revelados por meio de investigações específicas do espaço urbano: a cidade, seus aspectos morfológicos e sua arquitetura, as conexões de edifícios entre si e com os espaços públicos e a ideia de lugar como elemento estruturador. Propomos uma análise da cidade atual fundamentada numa revisão histórica de um período determinado, buscando algumas raízes para a configuração atual. Sendo assim, o conteúdo geral da tese desenvolve uma leitura focada nas relações entre arquitetura e cidade, tendo como ponto de partida o início do século XX e ponto de chegada a atualidade, reconhecendo algumas demandas significativas relacionadas aos percursos e à qualidade urbana em geral, apontando possibilidades específicas de intervenção. O entendimento dos processos relacionados às transformações da forma-paisagem, usos-funcionalidades / significadose das novas modalidades de espaços obtidos-conectividade ou não conectividade da arquitetura-surge como dado importante para as proposições críticas e práticas na atualidade, como produtos reais ou investigativos. Nosso ponto de partida e principal motivação foram observações e análises do fenômeno da fragmentação e dispersão da cidade atual, observada especialmente em metrópoles como São Paulo. A contraposição das formas recorrentes de implantação dos edifícios modernos-comumente percebidos como objetos desvinculados fisicamente de seus pares-frente às implantações tradicionais, cuja tônica são os quadras compactas, originou-aqui analisados nos aspectos restritos ao resultado morfológico e arquitetônico-não raro, tipos de cidades que colecionam objetos dispostos ao longo das vias ou praças e que, comumente, sofrem pela desconexão generalizada. Essa desconexão é origem de uma série de problemas e, dentre outros, entendemos que nela encontram-se as causas para um relevante problema urbano, ao mesmo tempo crônico e também atual, que é a falta de qualidade dos percursos para pedestres prejudicando a fruição das pessoas em partes ou no todo de algumas cidades. Tal característica aliada à falta de programas adequados junto às áreas públicas, bem como o mau tratamento das mesmas, parece gerar outros problemas enfrentados pelo urbanismo atual como a ineficácia dos sistemas de transportes coletivos, insegurança urbana, alternativas de lazer etc.: sintomas que, grosso modo, sintetizam a cidade desconexa. A partir disso, proporemos algumas alternativas de ação para a cidade atual.
As cidades da antropologia: Entrevista com Michel Agier
Revista De Antropologia, 2010
A trajetoria de pesquisas de Michel Agier – professor e pesquisador na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), coordenador de pesquisas no Institut de Recherche pour le Developpement (IRD) e ex-diretor do Centre d’Etudes Africaines (Ceaf/ EHESS), todos sediados em Paris – configurou-se inicialmente na realizacao de etnografias em cidades africanas como Lome (Togo) e Douala (Camaroes) (Agier, 1983; 1999). Tais pesquisas sao marcadas pelo seu interesse por situacoes urbanas que propiciam, segundo ele, um entendimento mais profundo acerca de aspectos que talvez nao se apreenda senao na cidade. Isso ocorre porque os contextos citadinos sao tomados como espacos relacionais onde se produzem fenomenos significativos e invencoes culturais ineditas e nao apenas justaposicao de culturas (Agier, 2006, p.138-140).