Por uma ética dos afetos: "Os anões", de Veronica Stigger (original) (raw)


No pequeno livro O Antropoceno e as Humanidades, publicado em 2023, José Eli da Veiga explora dois agudos sintomas da dissociação entre os conhecimentos produzidos nas áreas de ciências naturais e de ciências humanas ou sociais na atualidade: a ignorância generalizada sobre a importante contribuição que Charles Darwin legou a essas últimas em sua segunda grande obra, The Descent of Man (1871), e reação bastante heterogênea, mas em geral vaga e tardia, que elas tiveram à questão do Antropoceno.

RESUMO: O artigo aborda o romance Os anões e os mendigos (1984), do escritor angolano Manuel dos Santos Lima, discutindo a possibilidade de se tratar de uma obra à clef distópica. O autor defende que, apesar da possibilidade de aproximar espaços, personagens e ações de figuras e factos da história recente de Angola, o livro tem uma dimensão alegórica — em parte resultante do aproveitamento do texto bíblico — que lhe garante um alcance mais vasto. Por outro lado, sustenta que os vários sinais de distopia que se observam no romance não são suficientes para que ele possa ser enquadrado nessa categoria. ABSTRACT: The article considers the novel Os anões e os mendigos (1984), by the Angolan writer Manuel dos Santos Lima, discussing the possibility of being a dystopian novel à clef. The author argues that, despite the possibility of approaching spaces, characters and action from figures and facts of the recent history of Angola, the book has an allegorical dimension — partly resulting from the use of the biblical text — which guarantees a wider reach. On the other hand, maintains that the various signs of dystopia occurring in the novel are not enough so it can be classified in that category.

O Homem que Aprendeu a Língua dos Animais é um mito da área cultural Akan, localizada na região do Golfo da Guiné, na África Ocidental, particularmente na Costa do Marfim e em Gana. O Homem que Aprendeu a Língua dos Animais foi coletado e editado pela escritora e missionária britânica Kathleen Arnott, sendo primeiramente publicado na obra African Myths and Legends (Oxford University Press, 1962), um trabalho icônico de compilação de mitologias de diversos povos e culturas africanas. A tradução para a língua portuguesa de O Homem que Aprendeu a Língua dos Animais foi realizada sob os auspícios da Editora Kotev (Kotev©, 2022), tendo por meta contribuir para a publicização do Dia da África de 2022. A citação de O Homem que Aprendeu a Língua dos Animais deve acatar as referências e apensos editoriais em conformidade com o padrão modelar que segue: O Homem que Aprendeu a Língua dos Animais. Tradução de Maurício Waldman a partir de narrativa Akan primeiramente coletada por Kathleen Arnott. Série Africanidades Nº. 26, primeira edição. São Paulo (SP): Editora Kotev. 2022.

Resumo: A alteridade, aqui entendida como produto da interação com o outro (o diferente de mim) – e levando-se em conta seu contexto específico, é tomada como enfoque na leitura de Os colegas (1972), de Lygia Bojunga. A intenção é compreender como, por meio da escrita, Bojunga apresenta o outro ao seu jovem leitor. A metodologia empregada na pesquisa é bibliográfico-documental, com a análise tanto textual quanto material do corpus formado pelo livro, entremeada a estudos culturais, como da história cultural, da alteridade e do animais.

RESUMO No presente artigo, propomos uma breve análise crítica do livro-imagem O cântico dos cânticos (1992), da brasileira Angela Lago, em busca de afectos encarnados em suas páginas duplas. Objetivando a realização de tal exercício, partiremos da metodologia proposta pelos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), quando discutem sobre perceptos e afectos na constituição de um pensamento filosófico; bem como mobilizaremos os escritos do também francês Georges Didi-Huberman (2012;2013), no referente aos efeitos presentes nas imagens encarnadas da história da arte. Como auxílio à leitura da narrativa pictórica nessa obra, buscamos a reflexão da brasileira Lucia Santaella (1993), em sua teoria peirceana da percepção, quanto à utilização de perceptos visuais na produção de sensações. Palavras-chave: Afectos. Angela Lago. Literatura Infantil. Perceptos. ABSTRACT In the present essay, we propose a brief critical analysis for Brazilian Angela Lago's picture-book O cântico dos cânticos (1992), searching for signs of incarnated affect in its double pages. Aiming the execution of such exercise, we start from the methodology proposed by the Frenchs Gilles Deleuze and Felix Guattari (1992), when they discuss about percepts and affects on the constitution of a philosophical thought; also mobilizing the writings of Georges Didi-Huberman (2012;2013), regarding to the effects present on the incarnated images of Art History. As a reinforcement to our reading for this pictorial narrative, we seek the thoughts from the Brazilian Lucia Santaella (1993), in her Peircean theory of perception, about the use of visual percepts in producing sensations. Keywords: Affects. Angela Lago. Children’s Literature. Percepts.

Em Aristóteles, o prazer pode fazer o homem cometer atos vis, enquanto a dor pode impedi-lo de realizar atos nobres. Por isso, para o autor, é preciso ponderar prazer e dor pelo hábito, de tal modo a tornar-se um homem virtuoso, que sente prazer ao realizar ações nobres. Diferentemente, para Kant, uma ação perde seu valor moral caso seja realizada por causa de alguma inclinação, ou seja, se uma ação foi realizada com prazer, ainda que ela seja correta, ela perde o valor moral. De um lado oposto, temos Mill, que considera moral o que traz felicidade, e a felicidade é gerada pela maximização do prazer e minimização da dor. Ainda que com tratamento diferenciado, estas três correntes relacionam o estudo da moral aos sentimentos, o que consideramos um erro. Defendemos que o certo e o errado devem ser analisados de forma lógica e racional para o atingimento de determinada finalidade, de tal modo que o sentimento gerado pela ação não pode ser capaz de dignificar juízos morais e nem de ser fundamento para a constituição dos mesmos.

Este artigo analisa um texto de Eça de Queirós publicado na imprensa portuguesa, em 1884: "A Inglaterra e a França julgadas por um inglês". Neste conto, um cão inglês escreve para sua amiga-uma gata-a respeito da França. Há ironia e intensa crítica social na carta canina. O conto analisa questões como a hipocrisia, a superficialidade, a arrogância, a imparcialidade e a relação entre os humanos e os animais. Há nele uma espécie de humanização do cão e desumanização do povo inglês, descrito como repleto de vícios, tolo e infeliz.

RESUMO Tomando como objeto o filme “Asas do desejo", de Wim Wenders, o presente trabalho analisa um conjunto de questões estéticas e políticas do nosso tempo, considerando, por paradoxal que seja, o caráter anacrônico daquela obra. Procura um diagnóstico do tempo em dois momentos, o da Guerra Fria e o das condições subjetivas em uma cidade, Berlim, que sintetiza o espírito pós-utópico. Para tanto, analisa a figura dos anjos, recolocando a relação entre desejo e materialidade, de onde emerge a questão da experiência. Os anjos vivem em condição etérea, lembram-se de tudo, apesar da ausência de corpo, o que os deixa em eterno presente, apartados da história. Metodologicamente, o trabalho encontra um anteparo para o filme na obra de Walter Benjamin, cujos textos sobre Berlim articulam memória social e literatura. Se os anjos são o fio que conduz a narrativa, outros personagens incorporam temas também analisados: o velho narrador, os sentidos abertos das crianças, o desejo pela trap...