Lixo da História e Quien anda ahí: periferia e pós-autonomia em quadrinhos (original) (raw)

Às margens da utopia: ficção científica e histori(cidade) em Branco Sai, Preto Fica

XII Seminario Internacional de Investigación en Urbanismo, São Paulo-Lisboa, 2020, 2020

Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise da cidade representada no filme Branco Sai, Preto Fica (2014), valendo-se de duas abordagens. Primeiro, considerando o gênero da ficção científica e seus artifícios narrativos, bem como o seu método de deslocamento temporal. Este nos leva à segunda abordagem, a qual seria uma leitura da historicidade fabricada pela narrativa fílmica através de um agenciamento temporal próprio entre passado, presente e futuro. Branco Sai, Preto Fica é um documentário que utiliza artifícios da ficção científica e articula diferente temporalidades para criar uma representação particular de Brasília, revelando um tensionamento entre um futurismo utópico – do Plano Piloto e da FC tradicional – e a memória dos habitantes de Ceilândia, cidade-satélite às margens da utopia modernista. This paper aims to present an analysis of the city within the film White Out, Black In (2014), using two approaches. First, considering the genre of science fiction and its ...

O direito à cidade em dois cenários literários brasileiros: Quarto de Despejo e Becos da Memória

V. 13, n. 02, 2021

Analisamos as obras Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, e Becos da Memória, de Conceição Evaristo – duas autoras brasileiras negras, pobres e faveladas. Objetivo: Tal análise é feita na perspectiva dos estudos metodológicos urbanos e do processo de urbanização brasileiro, em especial aquela dos assentamentos informais. Método: A primeira obra permite entender o processo de conformação de uma favela; a segunda explicita o processo de dissolução desse cosmo da periferia. Ambas as perspectivas se colocam a partir de experiências pessoais das autoras nesses espaços e desafiam-nos a traçar consonâncias e disparidades. Resultados e contribuições: Conclui-se que a apreciação de obras literárias como essas podem contribuir para a compreensão acerca do processo urbano brasileiro e, associadas a bibliografias mais específicas, sugerem um ambiente de pesquisa amplo, relevante, porém ainda configurando um “vazio investigativo”.

Narrativas periféricas: histórias em quadrinhos e cultura pós-legítima na perspectiva afrofuturista

Livro de Resumos 2º Congresso RNEC - Cidadania Digital e Culturas do contemporâneo, 2023

Este trabalho utiliza o conceito de “cultura pós-legítima” de Maigret (2012) para demonstrar expressões de resistência em diálogo direto com a proposta afrofuturista nas histórias em quadrinhos: Para todos os tipos de vermes de Kione Ayo e Shin de Isaac Santos. Ambos publicados em 2020 pelo projeto social Narrativas periféricas, financiado coletivamente pela plataforma on-line catarse.me. Pretende-se demonstrar outra dinâmica de legitimação em curso numa cultura de nicho fomentada pelo financiamento coletivo on-line: autores periféricos são publicados, mas permanecem segregados, na lógica editorial que privilegia publicações de empresas multinacionais. Assim, contraculturas subalternizadas resistem à norma hegemônica que por sua vez também resiste, pois não é completamente subvertida, gerando um processo de transformação semelhante à condição pós-colonial: em constante conflito. O conceito de “cultura pós-legítima” (Maigret, 2012) compreende as dimensões contraditórias do processo de emancipação dos quadrinhos, permitindo analisar as obras em seu nicho e a demanda por representatividade social. A noção de “política localizada de diferença” (Tensuan, 2020, p. 146) possibilita explicar o modo como tropos narrativos e códigos visuais de quadrinhos reproduzem padrões e preconceitos ao mesmo tempo em que os desafia. E o conceito de “colonialidade do poder” (Quijano, 2005, p. 136) serve para perceber a imposição de uma estrutura racial de dominação: fundamento para a norma hegemônica que as obras analisadas procuram refutar. A visão do Afrofuturismo como filtro analítico (Lavender III et al., 2020) e a noção de “Encruzilhada” (Martins, 1997) compõem uma metodologia atenta a epistemologias dentro e fora do cânone acadêmico para estudar os processos inter e transculturais presentes na relação entre culturas de resistência, os temas das obras e seu financiamento coletivo pela internet. Conclui-se que: os temas e viabilização das obras analisadas, alinhados com o Afrofuturismo, representam a condição pós-legítima dos quadrinhos contemporâneos (Maigret, 2012), pois atuam em duas frentes: ecoando os protocolos que estruturam a vida da classe média moderna e desafiando-os (Tensuan, 2020). Sua publicação é, portanto, o produto de expressões que contestam a norma vigente sem dissolvê-la por completo, implicando num processo de permanente resistência, tanto dos que buscam legitimidade quanto das normas que teimam em se impor.

Trajetórias de escritores e os saraus literários nas periferias de São Paulo

PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, 2022

A pesquisa constituiu em objeto de estudo a emergência de saraus literários nas periferias da cidade de São Paulo, entre 2014 e 2016, por meio do estudo das trajetórias de seus escritores. Articulando as dimensões da cultura e da educação, a pesquisa se concentrou nos estudos sobre cultura, sob a perspectiva sociológica de Pierre Bourdieu, interrogando os processos históricos de aquisição de capital cultural, relacionando origem social, trajetória escolar e os saraus literários. O trabalho de campo foi realizado em quatro saraus literários, em diferentes regiões de São Paulo. Visando a identificar a posição dos bairros nos quais os saraus acontecem, e onde faríamos a pesquisa de campo em seguida, realizamos um estudo estatístico das características sociodemográficas da população residente nestes bairros. Por meio da consulta a redes sociais (Facebook), compusemos uma primeira lista de 22 saraus literários que aconteciam regularmente em São Paulo, com atividades divulgadas em redes...

Escritos à margem, a presença de autores de periferia na cena literária brasileira

O presente estudo tem como objetivo analisar as manifestações literárias produzidas pelos autores pertencentes à Literatura Marginal, buscando compreender as principais características textuais e políticas deste movimento. Nessa perspectiva, os produtos discursivos marginais serão vistos como manifestações contra-hegemônicas, resultantes de um esforço em produzir uma imagem própria sobre a vivência marginalizada, silenciando, assim, qualquer outro discurso produzido fora do espaço periférico. Para tanto, foi utilizado um arcabouço teórico que possibilita ler as formas de agenciamento político produzidas por este grupo. Além do exame do objeto literário, é realizada uma aproximação destas narrativas com o movimento Hip-Hop, mais precisamente com o RAP, colocando em relevo as muitas semelhanças quanto à estrutura textual das formas poéticas e as formas de veiculação de um discurso que almeja a conscientização dos leitores/ouvintes. Por se tratar de uma experiência literária pouco comum, a presença de escritores marginais em nossa série literária também apresenta novos questionamentos sobre a função e o papel do intelectual. Se outrora era o intelectual quem desempenhava a função de porta-voz destes grupos, agora são os próprios marginais que rompem com a passiva posição de objeto e passam a figurar como sujeitos. Ao lançar um olhar crítico sobre esta disputa discursiva é possível identificar as tensões que o movimento de autores periféricos inaugura.

Vestígios memoriais de um gênero: os quadrinhos de Lino Arruda

Revista Memória e Linguagens Culturais, 2019

Encontrar trabalhos de mulheres transexuais nos quadrinhos é difícil, encontrar um homem transexual realizando essas atividades, é ainda mais. Sabemos que a indústria, o mercado e a criação de quadrinhos é um meio incrivelmente machista, tanto por parte daqueles que produzem como daqueles que os produzem. Sabemos ainda mais que a parte mais invisibilizada que faz parte da sopa de letrinhas que é a definição do queer são os homens trans. Portanto, trazemos à luz e para aná-lise os quadrinhos de Lino Arruda, um homem trans que, entre suas produções, publicou histórias em quadrinhos de cunho autobiográfico.