O olhar e o mito: a (re)criação de Lisboa em A Cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão (original) (raw)
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Revista Diadorim
O leitor, extremamente seduzido pela escrita singular de A cidade de Ulisses, de Teolinda Gersão, pretende percorrer determinados caminhos de reflexão, a partir dos seguintes fragmentos textuais: 1) “Lisboa surgia como uma cidade de desejo, uma cidade de que se andava à procura”; 2) “Amar uma pessoa é falar-lhe quando ela não está presente”; 3) “A escrita como imagem, o legível e o ilegível como verso e reverso de uma imagem num espelho, as palavras reflectidas ou projectadas sobre a água”; 4) “Os turistas fogem em geral de si mesmos e procuram, obviamente, as cidades reais. Os viajantes vão à procura de si, noutros lugares, e preferem as cidades imaginadas. Com sorte conseguem encontrá-las. Ao menos uma vez na vida.”
Olhares, janelas e esquinas: Lisboa e as personagens queirozianas
Um percurso pelas "Lisboas" literárias de Eça recai, obrigatoriamente, pelo Chiado. Por esta "ladeira vaidosa", como a chamaria Ramalho Ortigão, passariam quase todas as personagens queirozianas em suas idas e vindas pela cidade. Hotéis, cafés, pastelarias, livrarias, largos e igrejas são evocados repetidamente pelo escritor, numa tessitura narrativa do espaço urbano, que elucida, propicia ou interrompe a ação romanesca. Os passeios, que certas personagens perfazem pelas ruas alfacinhas, possuem variadas funções dentro do âmbito narrativo. Eça de Queiroz, em seus romances, se apropria dessas oportunidades para tecer fortes críticas à sociedade e ao país; para delinear e explanar o perfil e comportamento das suas personagens; para criar efeitos de surpresa, comicidade, suspensão ou adiantamento narrativos, brincando com o ritmo do enredo. Muitas cenas se constroem a partir de um encontro fortuito das personagens pelas ruas de Lisboa e algumas passagens tornam-se tão emblemáticas, que se imortalizam na memória dos leitores. É o caso do passeio de Luísa e do Conselheiro Acácio, por exemplo. Muitos dos sítios mais evocados na prosa queiroziana situavam-se no Chiado (desde 1880, Rua Garrett) como a Pastelaria Baltresqui, a livraria Bertrand, o cabeleireiro Godefroy, a Casa Havaneza. Muitos outros, ainda, localizavam-se em artérias ou largos próximos como o Loreto, a Rua do Alecrim, a de S. Roque, a Nova do Almada, para citar apenas alguns topônimos. Recuperar o contexto histórico, citadino e social desses lugares, na década de 1870, propicia uma leitura diferenciada, onde o entendimento do espaço urbano gera novas possibilidades interpretativas, além de aclarar muitas referências feitas pelo escritor que se perderam neste intervalo de mais de 140 anos, desde que as obras foram escritas. O trabalho propõe-se a explorar as possibilidades interpretativas do espaço urbano presente na obra queiroziana, relacionando os variados espaços e suas representações dentro de um contexto urbano e histórico.
«Cidades que em nós se fazem». Lisboa – Livro de bordo de José Cardoso Pires como 'entre-lugar'
FronteiraZ. Revista digital do grupo de pesquisa «O Narrador e as Fronteiras do Relato», nº 4, São Paulo: PUC-SP., 2009
A reading of Cardoso Pires’ Lisbon Logbook (1997) in the light of the writings of Walter Benjamin and Italo Calvino’s Invisible Cities (1972) reveals the complexity of this hybrid text. It is not only reflective about the discursive construction of plural ‘Lisbons’ but also creative. Through collage and ‘oral writing’ a kind of illustrated conversation is created where literary theory and practice interact and culminate (following Benjamin and Calvino), in an allegorical reflection on the craft of writing. The problem of the Great City as a place of memory leads to the book (text and picture) as ‘space between’ that claims the legibility of the city.
Fronteiraz, 2021
Visita guiada ao impossível corpo de Cecília. Ensaio a partir de A Cidade de Ulisses, romance de Teolinda Gersão Guided tour to Cecília's impossible body. An essay based on a reading of the novel A Cidade de Ulisses, by Teolinda Gersão Ana Luísa Vilela * RESUMO No presente trabalho, pretendo reler o romance A Cidade de Ulisses (2012), de Teolinda Gersão, perspetivando-o por meio da sua organicidade estruturante e do seu teor erótico. Partindo de excertos selecionados pela própria autora, apoio-me em críticos, teóricos e autores literários como George Steiner, David Hillman, Ulrike Maude e David Mourão-Ferreira. Desenvolvo aqui, por meio de uma estratégia discursiva muito livre, um diálogo ficcional com o narrador autodiegético. Procuro pôr em relevo, discutir e problematizar aspetos conjugados na obra, tais como a filiação homérica da personagem e da sua cidade, a espacialização erótica, o papel da arte ou a gênese libidinal do processo criativo. Nesse universo romanesco, creio, tais elementos são globalmente subsumidos pela reconstituição artística de um corpo feminino mitificado, a que este ensaio pode conferir virtualmente uma voz.
ESPAÇO E MEMÓRIA: representações sobre a cidade nas crônicas de Lycidio Paes
Espaco Em Revista, 2012
Estas reflexões têm como objetivo enfocar as representações construídas por meio das crônicas escritas ao longo do século XX por Lycidio Paes em diversos jornais do interior de Minas sobre o espaço da cidade e a memória de seus habitantes. Essas crônicas versam sobre as transformações urbanas pelas quais passaram algumas cidades do interior mineiro. As crônicas constituem uma memória tecida cotidianamente, e nos permitem compreender as alterações pelas quais passam os sentidos dos homens que habitam as cidades com a inserção dos novos ritmos ditados pela modernidade. Os meios técnicos de comunicação como o rádio, o cinema, a televisão, o carro, passam a fazer parte de uma sociedade que se transforma e desencadeia novas atitudes e hábitos dos homens que viveram em meados do século XX. Do estranhamento à acomodação esses meios reformularam a paisagem urbana e imprimiram novas relações de trabalho e lazer, no espaço público e privado.