Por Entre Sonhos Pedras e Poesia (original) (raw)

Matérias para fazer Sonhos. Gemidos... suaves e intensos, duradouros na brevidade de seus segundos. Efêmeros e débeis na eternidade de sua brevidade... Revezavam-se entre si, num bailado ansioso que lembrava o ecoar das abas da gaivota enevoada na vazante do Capetinga. Não em qualquer vazante, mas naquela onde este Rio Capetinga recebe aquele Rio Roncador, num profuso encontro de generosidade e entrega. Aí, o Roncador que em seu curso vai banhando terras, morros e chácaras, matando sede, gerando vida, ofertando piabinhas e lambaris, entronca-se na mata densa de borda ciliar na altura da Carestia, em terras de Vô Pulú, Apolinário, na verdade e se faz um gerando doravante um caudaloso Rio Capetinga. Vô Pulú é filho destes polacos goianos que descendem do polonês Szervinsk, que ali é lenda, é fábula, é gente... é mito. Não qualquer mito, mito vivo, mito fundador, mito de gênese e de escatologia, de eternidade na efemeridade da descendência. Mas olha, esse mito é coisa enganosa e encantante, está lá, mas não se pode vê-lo, e quando se vê, é bem pouco, oculto, diluído.... Na pele? Não! Na pele bem, pouco. Nos zóios vez ou outra, num colorido aclareado em tom esverdeado ou de matiz azul. No cabelo de quando em vez, quando em pálido melaninar, se dá um aloreamento pueril que poucas vezes dura até a idade adulta... Nas práticas? Hiii... aí é que num vige mesmo! Pois a prática é sertaneja, misturada de paulista, mineiro e baianos. Feito receita de bruxaria. Tudo jogado no mesmo escaldante caldeirão do Sertão, onde a bruxa e mãe da receita é a própria natureza e o pai zeloso, o bruxo pai Cerrado. Eles gestam essa descendência, nas além do nome e do mito na mente, além do já dito, não resta nada. Senão fascínio, encanto, poesia e curiosidade. Kiko di Faria 3 Mas bem, falava eu antes de pegar o atalho, da semelhança entre aqueles gemidos e o bater das asas da garça branca, visitante temporona daquela várzea de entre rios. Aqueles gemidos, não eram de dor, não eram de angústia, não eram de prazer... Eram uma mistura de tudo isso, ritmado, num frenesi intenso que de quando em vez, estancava-se numa estática transitória para depois, em seguida continuar sua ritmância... Que era aquilo? Insistentemente eu me perguntava. Ora, nem mesmo sei se fora realidade, ou devaneio, alucinação. Quiçá, ousar dizer o que era. Não mesmo. Mas o fato é que na angústia de saber, de apreender, de entender, de saciar a emoção que se amalgamava em meu peito, com uma infinitude de outras sensações, das quais me lembro: do medo, da euforia, da frustração ante a ignorância, entre outros. Esforcei me em me